Unir as literaturas brasileira e chinesa pode ser um desafio para qualquer editora, mas a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no Brasil, assumiu recentemente essa missão ao lançar uma série bilíngue que reúne clássicos dos dois países, segundo uma reportagem do jornal China Daily.
Sob o título Série Clássicos da Literatura Chinesa e Brasileira, a Unicamp, em parceria com o Instituto Confúcio, publicou entre 2022 e 2024 dois livros emblemáticos: Flores Matinais Colhidas ao Entardecer (1926-27), de Lu Xun, e O Alienista (1882), de Machado de Assis.
A diretora da editora, Edwiges Maria Morato, explicou que o projeto busca ampliar o conhecimento da literatura chinesa entre brasileiros e vice-versa.
"Queremos também incentivar o interesse pela aprendizagem das duas línguas e promover a recepção da literatura brasileira na China, além de fomentar estudos de tradução", afirmou.
Bruno De Conti, diretor brasileiro do Instituto Confúcio na Unicamp e responsável pelo projeto, destacou que a ideia é preparar os brasileiros para uma nova ordem cultural, na qual as artes ocidentais sozinhas não bastam para compreender a complexidade global.
De Conti disse que têm o desejo de aproximar as pessoas usando a literatura como ferramenta para que se compreendam, lendo os clássicos da literatura chinesa e vice-versa. Ele ressaltou que são obras que compartilham aspectos em comum que podem ser captados pelos leitores de ambos os países, pois são constitutivas da complexidade humana.
As histórias de Flores Matinais Colhidas ao Entardecer retratam a vida difícil e ao mesmo tempo bela dos camponeses e trabalhadores urbanos na China do início do século XX. Essa visão ressoa com a representação do Brasil feita por Machado de Assis no final do século XIX, quando ambos os países enfrentavam transformações profundas.
A escolha de Machado de Assis e Lu Xun não foi casual. "Ambos são escritores renomados e compartilham certas semelhanças entre si. Ambos se interessaram pelo tema da loucura, foram reflexivos no uso da linguagem e críticos dos costumes", disse Morato.
De Conti observou que os principais objetivos são fortalecer os laços entre os dois povos por meio da experiência artística e literária, ensinar as línguas, pois os livros são bilíngues, e que eles servem tanto para leitores casuais quanto para profissionais.
Como um projeto novo, os livros têm como público-alvo principal estudantes e pesquisadores.
"A literatura, sem dúvida, abre caminhos para o entendimento e compartilhamento de perspectivas, realidades linguísticas, experiências culturais e trocas de todos os tipos de uma forma muito viva e significativa", disse Morato.