A presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, em inglês), Dilma Rousseff, defendeu na quarta-feira a ampliação do uso de moedas locais nos financiamentos do banco do BRICS como uma estratégia fundamental para promover o desenvolvimento sustentável e reduzir os riscos financeiros nos países emergentes e afirmou que, no próximo ano, 30% da carteira do banco estará em moedas locais.
Durante sua participação no seminário "Transição Energética e a Sustentabilidade do Futuro", realizado na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro, Rousseff enfatizou que as economias em desenvolvimento enfrentam dificuldades para acessar financiamento de longo prazo, tornando urgente a reforma da arquitetura financeira internacional.
"Sabemos que os países em desenvolvimento e as economias emergentes não têm acesso a financiamento. Plataformas como o NBD e os bancos nacionais de desenvolvimento ajudam a preencher essa lacuna, mas um debate global sério é necessário sobre como resolver esse problema estrutural", disse a ex-presidente brasileira.
Para Dilma, uma das soluções mais promissoras é a ampliação do uso de moedas locais em empréstimos concedidos por bancos multilaterais, o que permite taxas de juros mais baixas e maior estabilidade. "Quando moedas locais são utilizadas em vez de dólares ou euros, os riscos de flutuações cambiais são reduzidos, proporcionando maior segurança aos países tomadores", explicou.
Rousseff disse que aproximadamente 25% da carteira atual do NDB já está denominada em moedas locais e que ela espera atingir 30% até 2026, posicionando o banco na vanguarda entre as instituições multilaterais de desenvolvimento que adotam esse modelo.
"Esse tipo de financiamento atenua os riscos cambiais associados a moedas fortes, cuja política monetária está fora do controle dos países tomadores. Quando a moeda local se desvaloriza e as taxas de juros sobem, o setor privado fica exposto a pressões insustentáveis sobre seus balanços", alertou.
A presidente do NDB também enfatizou que o uso de moedas locais é particularmente importante para projetos de infraestrutura de longo prazo. "No caso de projetos hidrelétricos, que podem levar 30 anos, ou de fontes de energia que exigem financiamento por 20 anos, o uso de moedas internacionais adiciona um risco significativo", acrescentou.
A promoção dessas políticas pelo NDB atraiu críticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que ameaçou impor tarifas a países que promovessem o que ele descreveu como "medidas antiamericanas". Essas declarações se somam às recentes tensões comerciais entre os Estados Unidos e vários países membros do BRICS.
Desde sua criação em 2014, o NDB aprovou 122 projetos, totalizando quase 40 bilhões de dólares. Desse montante, 29 projetos foram aprovados para o Brasil, com um valor total de 7 bilhões de dólares.