Atlas da Amazônia Brasileira busca repensar visão sobre o bioma em meio à crise climática e à expansão do crime organizado

Fonte: Xinhua    06.05.2025 13h14

A Fundação Heinrich Böll, uma organização alemã sem fins lucrativos que abriu seu escritório no Brasil em 2000, lançou nesta segunda-feira o Atlas da Amazônia Brasileira, uma publicação única que busca quebrar estereótipos sobre a região e oferecer uma visão alternativa baseada nas vozes e experiências de seus habitantes.

O lançamento ocorre em um ano crucial para o debate climático, com o Brasil sediando a COP30 na cidade amazônica de Belém.

O atlas reúne 32 artigos escritos por 58 autores, incluindo 19 indígenas, cinco quilombolas e dois ribeirinhos, e aborda os desafios, o conhecimento e o potencial da maior floresta tropical do planeta. A obra busca contribuir para uma urgente transformação de perspectiva, permitindo que pessoas no Brasil e no mundo "redescubram" a Amazônia a partir de sua diversidade humana, cultural e ecológica.

"O imaginário popular ainda reduz a Amazônia a uma vasta extensão de árvores. Mas 75% de sua população é urbana, e há uma riqueza de diversidade social e cultural que permanece invisível", disse Marcelo Montenegro, coordenador de Justiça Socioambiental da Fundação e coorganizador do atlas. "Os povos da região têm um papel fundamental a desempenhar na proteção ambiental e devem ser protagonistas no debate climático."

A publicação contextualiza uma série de crises recentes que afetam a região. Entre 2019 e 2022, a Amazônia registrou níveis recordes de desmatamento, impulsionados pela expansão de pastagens para gado. O garimpo ilegal aumentou 90% em áreas protegidas, especialmente em terras indígenas, e o número de indivíduos armados na Amazônia Ocidental aumentou 1.020% entre 2018 e 2022.

Em 2022, a Amazônia foi responsável por mais de um quinto dos assassinatos de defensores ambientais no mundo, com 39 ativistas mortos somente naquela região.

O ano de 2023 foi marcado pela crise humanitária vivida pelo povo indígena Yanomami, cujo território foi invadido por garimpeiros ilegais, e por uma forte seca que afetou o acesso à água, alimentos e transporte fluvial. Em 2024, a situação se agravou com um novo período de seca extrema e incêndios recordes na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado. A fumaça afetou a qualidade do ar em vastas áreas do país, atingindo até regiões do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.

Um dos artigos do atlas, escrito pela professora Aiala Colares (Universidade Estadual do Pará) e pela pesquisadora Regine Schönenberg (Fundação Heinrich Böll), analisa como facções do crime organizado expandiram sua presença na Amazônia. Segundo os autores, grupos como o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho estabeleceram rotas de tráfico de drogas por toda a região, controlando também os mercados locais.

Além disso, facções regionais como a Família do Norte e o Comando Classe A assumiram papéis de poder territorial, o que intensificou conflitos violentos. Essas organizações também estão ligadas a crimes ambientais, como extração ilegal de madeira, contrabando de minerais e grilagem.

"O tráfico de drogas financia a mineração ilegal de ouro e tem invadido terras indígenas, recrutando jovens e construindo pistas de pouso clandestinas dentro de áreas protegidas", alertam os autores.

A pesquisadora Aiala Colares, natural de um quilombo no Pará, observa que a resposta do estado continua lenta e burocrática: "O crime organizado não precisa de autorização para operar. Sua agilidade excede as capacidades institucionais do governo."

(Web editor: Beatriz Zhang, Renato Lu)
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