As constantes ondas de calor provocadas pelas mudanças climáticas, combinadas com a urbanização incompleta e a grande circulação de pessoas em determinadas zonas estão influindo na propagação da dengue por todo o país, segundo estudo divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Realizado pelo pesquisador Christovam Barcellos, do Observatório do Clima e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz e publicado recentemente na revista Scientific Reports, o artigo alerta sobre a expansão da dengue que vem se espalhando para as regiões sul e centro-oeste do Brasil onde historicamente a incidência é menor.
"No interior do Paraná, Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul, o aumento de temperaturas está se tornando quase permanente. A gente tinha cinco dias de anomalia de calor agora são 20, 30 dias de calor acima da média ao longo do verão. Isso dispara o processo de transmissão de dengue, tanto por causa (da reprodução acelerada) do mosquito quanto pela circulação de pessoas", explica Barcellos.
Segundo o artigo, a expansão da doença nessas regiões está diretamente associada à frequência cada vez maior de eventos climáticos extremos, como secas e inundações. O autor também cita a degradação ambiental, especialmente no cerrado, como importante influência.
"Nessas regiões que estão sofrendo com altas de temperatura, também temos visto um desmatamento muito acelerado. E dentro do cerrado brasileiro há as cidades que já têm ilhas de calor, áreas de subúrbio ou periferias com péssimas condições de saneamento, tornando mais difícil combater o mosquito", acrescenta Barcellos.
O Brasil vive um surto de dengue neste início do ano, sendo que desde o 1º de janeiro registrou 1.684.781 casos (prováveis e confirmados), com 513 mortes, enquanto outros 903 casos estão sob investigação, segundo dados do Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde atualizados no dia 15 de março, superando a taxa total de 2023, de 1.658.816 casos.