Último participante chinês dos Julgamentos de Tóquio morre aos 99

Fonte: Diário do Povo Online    10.09.2020 16h23

Gao Wenbin em 1981. (Photo / China News Service)

Gao Wenbin, o último chinês a participar plenamente dos Julgamentos de Tóquio, o tribunal para acusados de crimes de guerra japoneses de classe A na Segunda Guerra Mundial, morreu na segunda-feira (7) aos 99 anos, em Shanghai.

Ele era um especialista em direito e história e professor da escola de direito da Universidade Marítima de Shanghai por mais de 40 anos.

Nascido em Shanghai em 1922, Gao cresceu durante a Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa (1931-45).

Depois de se formar em uma escola secundária local em 1941, Gao estudou direito na Universidade de Soochow - agora Universidade de Suzhou - na província de Jiangsu. Seus estudos eram frequentemente interrompidos pela invasão japonesa, e a universidade teve que ser realocada númeras vezes.

O difícil ambiente de estudo estimulou o amor de Gao por sua pátria e o motivou a estudar mais, de acordo com a universidade. Ele passou a dominar a língua inglesa e desenvolveu sólidos conhecimentos de direito.

Em 15 de agosto de 1945, o dia em que a China venceu a guerra, Gao também comemorou sua formatura.

Ele disse à mídia local Shanghai Observer em 2015 que ouviu aplausos no campus naquele dia, e lojas e restaurantes locais ofereceram descontos para comemorar a vitória.

Foi o período mais feliz e emocionante de sua vida, segundo Gao.

Em maio de 1946, Gao foi escolhido como um dos tradutores que ajudaram os promotores chineses no julgamento de criminosos de guerra japoneses no Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente, conhecido como Julgamentos de Tóquio.

Posteriormente, ele foi promovido a procurador adjunto e secretário do procurador chinês Xiang Zhejun. Ele estava encarregado de traduzir registros de audiência de tribunal, comunicar-se entre procuradores internacionais e chineses e manusear documentos.

Entre as realizações de Gao estava a descoberta de evidências decisivas de que dois soldados japoneses haviam se envolvido em uma disputa para ver quem seria o primeiro a matar 100 chineses no caminho de Shanghai para Nanjing, Jiangsu, em novembro e dezembro de 1937, antes do Massacre de Nanjing. Foi descoberto que cada um deles matou mais de 100 pessoas.

Os Julgamentos de Tóquio duraram de 1946 a 1948. Todos os 28 réus foram considerados culpados e sete foram condenados à morte.

Gao começou a lecionar direito internacional e a conduzir pesquisas na faculdade de direito da Universidade Marítima de Shanghai quando a reforma e a abertura na China começaram em 1978.

Os manuscritos de seus planos de ensino das últimas décadas foram preservados e estão sendo exibidos na galeria de história da escola.

Gao se aposentou em 1988, mas continuou a contribuir para a indústria jurídica.

Junto com outros juristas, Gao participou da edição do Dicionário Compacto Inglês-Chinês de Leis Anglo-Americanas publicado em 2005, que continua sendo uma referência oficial no setor.

Como o único chinês sobrevivente na última década a ter participado dos Julgamentos de Tóquio, Gao sempre foi ativo também na coleta de materiais históricos.

Cheng Zhaoqi, diretor do Centro de Estudos de Ensaios de Tóquio da Universidade de Shanghai Jiao Tong, disse ao China News Service que Gao havia participado de muitas atividades realizadas pelo centro e estava muito preocupado com pesquisas relacionadas. Em 2016, Gao, então com 95 anos, iniciou a ideia de estabelecer um salão memorial.

A história nunca deve ser esquecida e os fatos nunca devem ser distorcidos, disse Gao à agência de notícias Xinhua em 2017.

(Web editor: Fátima Fu, Renato Lu)

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