Opinião: a culpabilização alheia não permite salvar vidas

Fonte: Diário do Povo Online    03.05.2020 13h07

Por Zhong Sheng

A pandemia de Covid-19 está vitimando pessoas de todo o mundo. No entanto, alguns políticos dos EUA, incluindo o secretário de Estado Mike Pompeo, estão "cooperando" com meios de comunicação de direita, como a Fox News, para encobrir sua incapacidade de resposta e culpar terceiros.

Estes políticos espalharam o boato de que o vírus foi gerado artificialmente e que havia vazado do Instituto de Virologia de Wuhan, dizendo que a China encobriu informações. Eles acusaram até a Organização Mundial de Saúde (OMS) de atrasar a resposta ao vírus.

Foi inclusive relatado que, com base em um memorando estratégico republicano, o partido vê agora o ataque à China como uma oportunidade de aumentar suas chances nas eleições de 2020. No entanto, essa manipulação política revela suas intenções cruéis.

A origem do novo coronavírus é uma questão séria e científica que exige uma investigação meticulosa e profissional por parte dos cientistas. O "paciente zero" da pandemia da gripe de 1918, originada nos EUA, ainda não foi encontrado, apesar de mais de cem anos de pesquisas.

Tendo isto em consideração, como podem os políticos e a mídia de direita dos EUA ter tanta certeza sobre a fonte do COVID-19?

A teoria por eles difundida de que o vírus foi criado pelo homem encontrou oposição imediata e unânime no mundo científico, incluindo especialistas médicos americanos.

Revistas acadêmicas renomadas como The Lancet e Nature Medicine publicaram artigos nos quais destacam a origem natural do vírus. Um especialista médico observou que o enfoque na origem do vírus em vez de salvar as pessoas em nada difere de assassinato.

Aqueles que tentam obter apenas benefícios políticos com desastres viverão na infâmia.

Um site independente de notícias dos EUA, The Grayzone, publicou um artigo revelando como os jornalistas conservadores cooperaram com o governo dos EUA na criação e disseminação de teorias de conspiração.

Vincent Racaniello, professor de microbiologia e imunologia da Universidade de Columbia, apontou que a teoria de vazamento de laboratório é dirigida pela política e não pela ciência. O virologista Jason Kindrachuk, da Universidade Canadense de Manitoba, disse também na Forbes que a teoria da fuga do vírus carece de apoio científico.

 

Transferir as culpas para a China não bastou para os políticos americanos. Agora estão culpando também a OMS. Em vez de relembrar sua resposta desastrosa à pandemia, eles atribuem a disseminação do vírus nos EUA ao chamado atraso na divulgação de informações da China e do organismo de saúde da ONU.

É reconhecido que a China sempre manteve suas informações abertas e transparentes e que o país reportou os desenvolvimentos à OMS e às organizações americanas relevantes no dia 3 de janeiro. Além disso, a OMS divulgou também informações ao mundo à primeira oportunidade, sem delongas.

Beijing, Shanghai e Guangzhou relataram sua primeira infeção em 20 de janeiro, e a nos EUA a primeira infeção ocorreu apenas um dia depois. No entanto, o vírus se desenvolveu de maneiras totalmente distintas nos dois países.

Recentemente, uma carta conjunta foi enviada à Casa Branca por mais de 1.000 associações médicas, organizações de caridade, empresas farmacêuticas e especialistas em todo o mundo, dizendo que a OMS e o governo chinês sempre mantiveram uma estreita cooperação para garantir que fossem dados de saúde pública à sociedade internacional o mais cedo possível.

A China compartilhou a sequência genética do novo coronavírus na primeira oportunidade, estabelecendo uma base básica para acelerar o desenvolvimento da vacina.

O editor-chefe do The Lancet, Richard Horton, disse a verdade. A inação que se seguiu à declaração de emergência da OMS, disse, é atribuída aos estados membros e não à China, tendo acrescentando que o mundo deveria agradecer ao país por seus avisos e esforços de contenção.

Atualmente, os EUA são a região mais atingida do mundo, onde as falhas de resposta do governo provocaram forte insatisfação por parte da sociedade. No entanto, alguns políticos dos EUA, tentando desviar as culpas, recorreram à culpabilização alheia, embora a situação seja clara o suficiente para todos.

Eles alardeiam as supostas conquistas aos cidadãos dos EUA enquanto espalham rumores infundados pelo mundo.

O documento de estratégia de 57 páginas distribuído pelo braço de campanha republicano do Senado se concentrava em uma coisa: repassar as culpas para a China.

Os cientistas globais estão preocupados, pois o vírus galopante é novo no mundo e leva tempo até que as vacinas sejam desenvolvidas e as pessoas possam finalmente se livrar do seu impacto na vida e na saúde. Somente a assistência mútua pode ajudar o mundo a superar as dificuldades e apenas a cooperação e a solidariedade podem permitir que o mundo encare melhor os desafios.

"Enquanto os líderes americanos jogam o jogo da culpabilização alheia, mais vidas estão sendo ameaçadas", disse o jornal de Singapura The Straits Times. Seria muito mais produtivo os EUA e seus aliados se concentrarem em salvar vidas e trabalhar em conjunto com a China para encontrar uma vacina eficaz, acrescentou o jornal.

Uma das citações mais famosas atribuída a Abraham Lincoln é sobre o engano: você pode enganar todas as pessoas algum tempo e algumas pessoas o tempo todo, mas não pode enganar todas as pessoas o tempo todo. Porém, as palavras de Lincoln não impediram os políticos americanos de acreditarem que podem enganar o mundo.

A China merece respeito por seus esforços e contributos, pois iniciou uma guerra total contra o vírus, conduziu um bloqueio sem precedentes de cidades e tentou a todo o custo apoiar o máximo número de pessoas possível. Isso é óbvio para todos e nunca será alterado por maquinações políticas.

“Desta vez, os EUA têm de aprender com os outros. A cooperação global e o compartilhamento das melhores práticas são a nossa melhor esperança de sairmos vivos e intactos desta crise”, disse Jeffrey Sachs, professor da Universidade de Columbia.

Reagir a desastres com ódio e estigmatização não somente não ajudará os EUA a superar as dificuldades, mas também colocará uma sombra sobre o mundo. De fato, o número crescente de mortes por COVID-19 é resultado de um jogo de inação e culpabilização.

Os políticos dos EUA devem entender que a ignorância da vida das pessoas é desumana e que buscar alívio temporário, independentemente das consequências, levará apenas a maus resultados. O jogo da culpa, não importa quão dissimulado, é auto-enganador.

Essas práticas devem ser convertidas em ações concretas de resposta à pandemia. A especulação deve ser descartada em prol da responsabilidade. Somente assim será possível salvar vidas e pôr termo à tragédia.

(Zhong Sheng é um pseudônimo frequentemente usado pelo Diário do Povo para expressar a sua visão sobre política externa.)

(Web editor: Renato Lu, editor)

0 comentários

  • Usuário:
  • Comentar:

Wechat

Conta oficial de Wechat da versão em português do Diário do Povo Online

Mais lidos