Opinião: ataque dos EUA à OMS demonstra “falha colossal de liderança” em Washington

Fonte: Diário do Povo Online    02.05.2020 16h07

No início deste mês, Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos, anunciou que está suspendendo o financiamento norte-americano à Organização Mundial da Saúde, dizendo, entre outras coisas, que a organização está "muito centrada na China" e que "estragou mesmo tudo" no coronavírus. A medida surge semanas após crescentes ataques à organização, enquanto tentava afastar a culpa do seu governo.

Como maior financiador, a decisão dos EUA de suspender o seu contributo à OMS é um duro golpe para os esforços de combate a doenças em todo o mundo e de coordenação na resposta à pandemia, sendo que muitas pessoas afirmaram que fazer isso neste momento é pura loucura. Claramente, é uma tentativa desesperada do governo de Trump de encobrir seu fracasso colossal nos primeiros estágios do combate nos EUA.

A OMS declarou oficialmente a pandemia a 11 de março e, anteriormente, sinalizou a 30 de janeiro uma Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional.

De fato, Trump havia elogiado a OMS.

Trump twittou em 25 de fevereiro: “O coronavírus está sob controle nos EUA. Estamos em contato com todos e com todos os países relevantes. O CDC e a OMS têm trabalhado duro e com muita inteligência. O mercado de ações está a parecer-me cada vez melhor! ”

Porque é que a administração Trump deu meia volta na sua atitude para com a OMS?

A razão está na situação adversa dos Estados Unidos. Enfrentando críticas ferozes por sua fraca resposta ao coronavírus, o governo de Trump está recorrendo a subterfúgios e estratagemas para desviar a atenção do problema real. Com mais de 1 milhão de casos confirmados de coronavírus e mais americanos mortos por coronavírus em três meses do que o número de soldados americanos mortos na Guerra do Vietnã, há uma enorme pressão para transferir a culpa pelo desastre nos Estados Unidos para outros intervenientes.

A OMS, como guardiã da saúde pública global, tem a função de permitir que todas as pessoas desfrutem dos mais altos padrões de saúde. Entre outras coisas, fornece liderança em assuntos críticos para a saúde, realiza parcerias e monitoriza as tendências no setor. Portanto, tem um papel fundamental a desempenhar na resposta global da saúde à pandemia. Tentar amputar este órgão apenas piorará uma situação já terrível, pois ele não pode ser totalmente eficaz sem os Estados Unidos. Nenhum país pode travar essa batalha sozinho.

A situação é preocupante nos Estados Unidos, mas a razão pela qual há "tantas mortes" é que o governo Trump transformou a situação em um pesadelo. É uma questão de liderança. No final do mês passado, o conselho editorial do Boston Globe classificou a crise nos Estados Unidos de "um colossal fracasso de liderança", criticando o governo de Trump por desvalorizar o coronavírus e, assim, piorar a situação. "Em outras palavras, o presidente tem sangue nas mãos", argumentou o conselho editorial.

Esta é uma avaliação dura, mas chega ao cerne da questão. Culpar a OMS não mudará o fato de que o governo ignorou as advertências dos consultores de saúde e inteligência nos meses em que Trump minimizou a ameaça. Em fevereiro, por exemplo, Trump afirmou que o número de casos seria próximo de zero em uma questão de dias e que a crise desapareceria como que por milagre. Obviamente, isso não aconteceu. Em vez disso, o número de casos nos Estados Unidos aumentou.

Todo o mundo quer ver a situação nos Estados Unidos melhorar, mas atacar e deixar de financiar a OMS em nada diminui o problema real, ou seja, que o colossal fracasso da liderança em Washington causou "tantas mortes".

(Web editor: Renato Lu, editor)

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