Iniciativa de Cinturão e Rota - oportunidade para Portugal? (4)

Fonte: Xinhua    18.11.2016 13h46

Portugal: o que pode oferecer?

A República Portuguesa tem uma relação especial com a China. Em 1513, a chegada do navegador Jorge Álvares aos portos chineses do sul do Império Chinês, abriu caminho para que em 1557 Portugal se estabelecesse em Macau, como recompensa pelos seus esforços na luta contra a pirataria regional. Essa presença manteve-se até 1999, ano em que foi feita a transferência de soberania deste território, para a China. Chegara o fim de uma era, mas que dava conta da forma como as relações sino-portuguesas, se desenvolveram de forma progressiva.

Os dois Estados estabeleceram relações diplomáticas em 1979 e abriram caminho para que em 1987 fosse assinada a Declaração Conjunta Luso-Chinesa sobre a Questão de Macau. Podemos considerar que os primeiros 20 anos de contactos sino-portugueses foram dominados pela questão de Macau. De 1999 em diante, esta situação tem vindo a mudar progressivamente. É preciso relembrar que a crise económica portuguesa que dura há uma década, foi também uma oportunidade para os investimentos chineses. Neste período, Pequim investiu capital em empresas estratégicas portuguesas, como são os casos da REN e da EDP, e procurou fortalecer os seus laços com Lisboa. De um ponto de vista estratégico, a China soube aproveitar um momento de menor fulgor económico da parte de Portugal, para entrar em força no mercado energético e dos seguros. Ao mesmo tempo, a política do “Visto Dourado”, promovida pelo governo português, permitiu que vários investidores chineses injetassem capital no país, em troca de um visto especial que lhes permite circular na UE.

A recente visita do primeiro-ministro António Costa, tendo sido recebido pelo presidente Xi e pelo primeiro-ministro Li Keqiang, serviu para reforçar o papel que Portugal tem junto da China, sendo uma porta de entrada para a UE e como uma peça importante da iniciativa “Um Cinturão e uma Rota”. O primeiro-ministro Li, declarou que a China pretende que estes laços sejam parte integrante desta política e, da parte portuguesa, que incorporem a estratégia de desenvolvimento atual.

É preciso notar que Portugal é um ator com uma dimensão maior do que as suas fronteiras o deixam transparecer e, tal é verificável a três níveis distintos. Em primeiro lugar, faz parte do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial com os Países de Língua Portuguesa de Macau (Fórum de Macau). Neste encontro, discutem-se as potenciais parcerias ao nível multilateral que podem ser estabelecidas entre a China e os outros membros do Fórum (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e Timor-Leste). Portugal serve como ponto de equilíbrio nestas relações graças ao seu passado histórico com todos estes Estados. Além disso, a RPC tem grande interesse nos países da CPLP. O elo comum não se resume apenas a Portugal, incluindo a língua portuguesa. Neste sentido, o governo português deverá ter um papel mais ativo no ensino do português na China, como forma de complementar o interesse económico chinês por estes atores.

Em segundo lugar, a capacidade diplomática portuguesa poderá ser uma mais-valia para Pequim. É preciso lembrar que os anos 60 foram terríveis para a diplomacia portuguesa, debaixo de fogo constante por causa das colónias em África. Desde então, muito mudou e Portugal é hoje visto como um país capaz de servir de ponte entre nações divergentes. O seu papel na independência de Timor-Leste em 1999; no processo de transferência de Macau e na recente eleição de António Guterres como novo secretário-geral das Uniões Unidas, demonstram como Portugal ainda tem grande influência do ponto de vista externo. Tal será fundamental para que Pequim posso chegar a acordos, não só com o governo português, mas também com a própria União Europeia.

Finalmente, nos últimos anos a capacidade exportadora de Portugal tem sido o motor da economia portuguesa. Produtos como vinho, azeite, calçado, conservas e cortiça, são atrativos para a crescente classe média chinesa. Essa popularidade tenderá a crescer graças ao reconhecimento internacional destes bens, influenciando os gostos da população chinesa. A integração de Portugal neste novo elemento da política externa de Pequim, tornará mais fácil esse escoamento de produtos e realçará como as relações sino-portuguesas se baseiam no respeito e benefícios mútuos.


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(Web editor: Juliano Ma, editor)

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