Iniciativa de Cinturão e Rota - oportunidade para Portugal? (2)

Fonte: Xinhua    18.11.2016 13h46

O Cinturão Económico da Rota da Seda: a alternativa ao comércio marítimo

A grande força económica da China deveu-se, em grande medida, ao processo de abertura iniciado por Deng Xiaoping em 1978. O plano do “Pequeno Timoneiro” englobava a ideia de criar um sistema liberal em termos económicos em paralelo com um controlo político centrado no Estado e no Partido Comunista Chinês (PCC). Graças à sua visão, foi possível a Pequim, criar as Zonas Económicas Exclusivas (ZEE’s): a primeira das quais em Shenzhen, voltada para a captação de investimento externo e exportação de bens de consumo. A crise financeira de 2008 acabou por expor uma debilidade neste modelo, de duas formas distintas: primeiro, o escoamento de mercadorias tornou-se mais difícil, dada a incapacidade destes Estados em comprar tantos bens como no passado; segundo, a própria maturidade das empresas chinesas obrigou-as a expandirem os seus negócios através do investimento no exterior.

Todavia, o governo chinês tem sido capaz de manter o ímpeto do passado neste seu processo de integração económica à escala global. O primeiro grande exemplo desse espírito é o “Cinturão Económico da Rota da Seda”. O conceito deste plano estratégico, parte da antiga Rota da Seda, uma das mais importantes vias de comércio da história da Humanidade e grande responsável pelo comércio entre a Ásia e a Europa, desde o séc. II a.C.. A criação desta rota demorará tempo; no entanto, a China cimentou a sua posição na periferia do seu território ao longo dos anos. Olhando para a Ásia Central, há muito tempo que as relações com os países vizinhos têm sido fortalecidas, tanto multilateralmente como bilateralmente. Ao nível multilateral, a Organização de Cooperação de Xangai (sigla inglesa, SCO) tem servido o propósito chinês de criar uma zona de segurança contra o terrorismo. A SCO proporciona o ambiente necessário para que Pequim mantenha relações bilaterais com Estados ricos em recursos energéticos, como é o caso do Cazaquistão.

Em todo o processo para assegurar a Nova Rota da Seda, o papel da Rússia é fundamental. Para além de ser o principal parceiro estratégico da China na região, a influência que ainda tem (desde os tempos da expansão do Império Russo para oriente), faz com que seja crucial para Pequim a manutenção deste importante ator alinhado com os seus interesses. O papel que Moscovo pode desempenhar encontra-se relacionado com o acesso da Nova Rota da Seda, ao aliciante e lucrativo mercado da UE, algo que pode ser testemunhado pela linha férrea que liga Chengdu a Lodz, na Polónia. Em apenas 11 dias, é possível fazer chegar ao território europeu, mercadorias chinesas fundamentais, por exemplo, para a indústria tecnológica. Ainda que a percentagem de produtos exportados para a China, por esta via, seja inferior aos que entram na Polónia, há uma tendência de crescimento. Esse padrão encontra-se, em grande medida, relacionado com o facto de que a viagem pela via marítima dura (em média) 35 dias.

Uma outra ferrovia que destaca o desenvolvimento desta Nova Rota da Seda é aquela que conecta Yiwu a Madrid. A cidade da província de Zhejiang fica a 300 quilómetros de Xangai e é um vasto mercado retalhista, especializado na exportação de bens. Yiwu ganhou particular importância após o 11 de Setembro de 2001, altura em que muitos comerciantes árabes foram forçados a procurar outros destinos para escoar os seus produtos. Este projeto concretiza uma ligação de 13 mil quilómetros, sendo a linha férrea mais longa do mundo.

Do ponto de vista chinês, é preciso que exista estabilidade para que o “Cinturão Económico da Rota da Seda” tenha viabilidade. Em primeiro lugar, é necessário que os seus Estados vizinhos sejam suficientemente seguros para que nunca seja posta em causa esta iniciativa. Não nos podemos esquecer que o vale Fergana, no Uzbequistão, é uma região potencialmente instável (os conflitos étnicos nos anos 90 e em 2010 testemunham isso mesmo), existindo inclusivamente uma disputa fronteiriça com o Quirguistão. Por seu turno, Bisqueque testemunhou um ataque suicida à embaixada chinesa local, trazendo ao de cima várias questões do ponto de vista da segurança interna dos membros da SCO.

Também a intervenção militar russa na Ucrânia e na Síria, levou a que o ocidente condenasse as ações de Moscovo. A China poderá ter um importante papel a desempenhar, mediando quaisquer diferendos existentes entre russos e ocidentais. Sem esse entendimento, não será possível garantir a segurança e a estabilidade necessárias para manter uma parte do Sonho Chinês, ou seja, de prosseguir com os permanentes contactos económicos com os países da UE através de uma via terrestre que traz claras vantagens do ponto de vista do tempo e dos custos.


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(Web editor: Juliano Ma, editor)

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