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Embaixador do Brasil na China procura reforço da cooperação econômica e dos laços bilaterais

Fonte: Diário do Povo Online    15.11.2016 10h09

Marcos Caramuru de Paiva, o embaixador do Brasil na China (Foto: Li Hao/GT)

Marcos Caramuru de Paiva é já um velho conhecido da China. Vive no país há 9 anos, e passou a ocupar o cargo de embaixador do Brasil na China há um mês.

Anteriormente, trabalhou como cônsul-geral em Shanghai, sendo por isso experiente em questões governamentais e financeiras relacionadas com a China. Enquanto novo embaixador brasileiro na China, Caramuru planeja intensificar as relações bilaterais e impulsionar a cooperação econômica entre as duas nações, afirmando que não vai poupar esforços para aproximar as duas potências em ascensão.

De que forma podem a China e o Brasil reforçar as suas relações e cooperar para desempenharem um papel mais ativo em questões internacionais? O jornal Global Times entrevistou o embaixador para descobrir.

GT: A relação China-Brasil representa um modelo para a cooperação frutífera entre os países em desenvolvimento. Os Negócios e o comércio entre ambos têm produzido benefícios recíprocos. Pode destacar alguns dos setores-chave na cooperação econômica?

Marcos: Eu penso que a característica mais importante das relações Brasil-China é o dinamismo. Do lado econômico, por exemplo, temos uma cooperação tradicional no comércio, educação, ciência, e tecnologia, e novas áreas estão aparecendo. Uma delas é o número crescente de parcerias entre empresas brasileiras e chinesas no setor financeiro.

Recentemente, a Haitong e o Banco de Comunicação formaram uma joint-venture com instituições financeiras brasileiras. Existem também parcerias na agricultura e novas tecnologias. Mais fundos brasileiros e chineses e empresas procuram novas possibilidades nos setores de novas tecnologias, comércio eletrônico, e outros serviços modernos.

Quando olho o futuro, vejo novos laços. A integração do setor financeiro irá abrir novas oportunidades. Vejo também um crescente número de empresas chinesas participando em investimento infraestrutural, tal como o setor das energias. Muitas empresas estão já demonstrando interesse no desenvolvimento ferroviário e de autoestradas.

GT: Pode referir alguns exemplos em termos do desenvolvimento infraestrutural?

Marcos: A geração e transmissão de energia e as novas tecnologias é um exemplo onde a China tem muita experiência. A China é um dos países com capacidade de transmitir grandes volumes de energia ao longo de grandes distâncias. Isso é muito importante para o nosso país. Por vezes geramos energia no ponto mais a norte do Brasil e essa energia é consumida na região este e sul do país.

GT: Como podem a China e o Brasil continuar a construir uma comunicação e cooperação efetivas, especialmente na forma como se lidam com assuntos internacionais críticos?

Marcos: Atente no exemplo dos BRICS. Começou como uma plataforma para salientar a participação dos nossos países individuais e de nossas instituições. Compreendemos as economias de cada um, assim como nossas preocupações. Quando analisamos a comunicação do último encontro em Goa, é possível ver que muitos novos tópicos foram discutidos, como o terrorismo, proteção ambiental, e a situação de áreas críticas no mundo. Isso é muito importante porque os BRICS estão agora avançando para áreas onde não estavam presentes antes. Os acordos atingidos em Goa abrangeram áreas de segurança alimentar, cooperação alfandegária e a ideia geral da criação de uma nova agência de crédito. Os BRICS começaram a criar novas formas e visões para novas áreas, e isso terá um impacto fora da esfera limitada do grupo.

Penso que, em termos gerais, o Brasil e a China têm perceções comuns em vários tópicos. A comissão de alto nível entre os dois países permite que tenhamos um melhor diálogo.

GT: Como se afigura a situação relativa à comunicação entre pessoas dos dois países?

Marcos: No esporte, temos já muitos treinadores de futebol brasileiros na China. Os chineses ouvem também muita música brasileira, e existe cooperação em eventos de moda. Embora a distância entre os dois países seja significativa, temos sempre que lutar contra a geografia; temos que trabalhar e aproximar os dois países através da arte. Existem já artistas brasileiros residindo aqui, e artistas chineses procurando posições no Brasil.

GT: Quais são alguns dos objetivos que espera atingir durante o seu mandato?

Marcos: Um dos principais objetivos é atrair empresas chinesas para investir em infraestrutura no Brasil, aprofundar a cooperação que já existe nos setores de alimentação e agricultura e encorajar mais parcerias. Em segundo lugar, preparar uma visita formal do presidente Michel Temer à China no próximo ano.