Iniciativa de Cinturão e Rota - oportunidade para Portugal? (3)

Fonte: Xinhua    18.11.2016 13h46

A Rota da Seda Marítima: reavivando Zheng He

A segunda parte da iniciativa “Um Cinturão e uma Rota”, tem um importante legado histórico, algo que a RPC não poderia deixar esquecer. O almirante Zheng He liderou entre 1405 e 1433 oito expedições que levaram a armada chinesa até à Índia e à África Oriental. É esta herança comercial e pacífica, que Pequim procura replicar atualmente a uma escala maior e mais ambiciosa. Este plano, no entanto, é aquele que se avizinha mais complexo e de solução menos óbvia.

O principal objetivo da Rota da Seda Marítima é o acesso ininterrupto a recursos energéticos através do mar do Sul da China, passando pelo estreito de Malaca. Esta necessidade não é nova, uma vez que a RPC tem estabelecido uma vasta rede de contactos com Estados africanos e do Médio Oriente, por causa dos seus recursos. Assim, a garantia de que esta importante via de comunicação se encontre segura terá que ser a principal meta para Pequim. Uma vez mais, as boas relações com os Estados vizinhos são fundamentais e a China tem feito esforços para que assim seja. O ano 2015 foi o Ano para a Cooperação Marítima China-ASEAN, destacando a importância que a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) tem. A própria criação do Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas (BAII) destaca esta intenção de manter contactos com a periferia. O BAII poderá ser um dos pilares da Rota da Seda Marítima, servindo como fundo para a construção das obras necessárias ao apoio da Rota.

A capacidade negocial chinesa será posta à prova, se quiser, de forma decisiva e inquestionável, realizar tudo o que pretende do ponto de vista geoestratégico no Sudeste Asiático. Para começar, as disputas territoriais com países como as Filipinas ou o Vietname, terão que ser solucionadas, não com a imposição de vontades, mas através do consenso e do bem-comum. Trata-se de uma tarefa complexa e que em muito está relacionada com a presença norte-americana na região. Os Estados Unidos da América (EUA), desde o final da 2ª Guerra Mundial procuraram assegurar uma posição de poder na zona, através de alianças (Filipinas) ou parcerias estratégicas (Vietname, Singapura, Indonésia e Malásia). Do ponto de vista militar, muitos dos Estados da ASEAN têm laços fortes com os norte-americanos, algo que vai contra as pretensões chinesas de desenvolver as suas próprias capacidades. A recente apresentação do caça de 5ª geração J-20 em Zhuhai, foi uma clara demonstração de qual o caminho a percorrer pelas forças armadas chinesas: inovação e tecnologia, colocando Washington numa posição de potencial confronto no Pacífico.

Procurar solucionar estas questões através de consensos, não implica que Pequim renuncie ao seu pensamento estratégico. Em Novembro de 2014, na Conferência Central sobre Política Externa, o presidente Xi Jinping deixou claro que a busca pelo Desenvolvimento Pacífico não implicava abdicar dos seus interesses ou permitir que outrem prejudique o percurso preconizado pela liderança chinesa. O Tribunal Internacional de Haia em Julho deste ano, deu razão às Filipinas, considerando que Pequim violara os direitos soberanos de Manila. O presidente Xi reafirmou que as pretensões chinesas não seriam afetadas e que as suas políticas iriam prosseguir como dantes. No entanto, é preciso referir que a postura do presidente Rodrigo Duterte dá esperança nesta questão, abrindo a possibilidade para uma maior aproximação entre os dois Estados. Na semana passada, foi anunciado que os pescadores filipinos poderiam voltar a operar junto do recife de Scarborough (Huangyuan Dao). O que fica provado é que não depende exclusivamente dos líderes chineses a concretização da sua Rota da Seda Marítima, mas sim da compreensão de todos os atores envolvidos de que há algo a ganhar com esta política.


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(Web editor: Juliano Ma, editor)

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