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As “salas de cinema” do “teto do mundo”

Fonte: Diário do Povo Online    14.07.2023 13h47

Por Yuan Quan, Qiongda Zhuoga, Diário do Povo

Desde há mais de meio século que gerações de projecionistas viajam por entre as montanhas e rios do "teto do mundo", suportando provações como o frio e o ar rarefeito e atravessando montanhas altas e estradas perigosas. Tudo isto para mostrar aos habitantes destas terras altas e frias as maravilhas da sétima arte.

Atualmente, existem 478 equipes de projeção de filmes digitais móveis em aldeias e vilas no Tibete. A equipe de projeção de filmes do condado de Gyaca (Jiacha) é somente uma delas.

Essa equipe está encarregue de exibir 888 filmes por ano pelo condado, um objetivo que conseguem superar todos os anos. Por exemplo, em 2021, foram realizadas mais de 900 exibições para um público de mais de 19.000 pessoas.

À medida que o crepúsculo cai sobre o vale, Cidan Zhuoma, de 42 anos, e seu marido dirigem-se para o “cinema” passeando lado a lado. O "Cinema Céu Estrelado", situado a uma altitude de 4.500 metros acima do mar, está em funcionamento há mais de 10 anos e exibe filmes para a população graças à equipe de projeção de filmes do condado de Jiacha da Região Autônoma do Tibete.

Este "Cinema Céu Estrelado" não tem nada a ver com os cinemas das cidades, nem é comparável às salas de projeção das estações culturais nas zonas rurais. As pessoas assistem aos filmes sentando-se no chão

com suas mantas e, embora o local não tenha assentos nem colunas de som como nas salas de cinema, o público pode ter uma experiência única debaixo das estrelas.

Esses filmes contribuem para enriquecer a vida espiritual e cultural dos fazendeiros e pastores locais. Em alguns lugares onde o sinal de celular não é muito bom, as pessoas gostam de se juntar para assistir filmes. Nessas ocasiões, o líder da equipe de projeção, Jian Shen, cumprimenta calorosamente a audiência do filme como se fossem seus velhos amigos.

No Tibete, não é raro cair neve nos meses de abril e maio. Em essas alturas, as pessoas não podem subir às montanhas e, como consequência, o público que assiste aos filmes à noite é maior. Geralmente há dois shows quando neva, e apenas um quando não está nevando. O número de espectadores depende da popularidade do filme e das circunstâncias de trabalho nesse dia. Claro que Jian Shen retira também grande satisfação profissional desse fato.

A equipe de projeção de filmes do condado de Jiacha tem 6 membros, todos de idade mais avançada e com mais de sessenta anos. Jiacuo costumava ser o membro fundamental da equipe de projeção e costumava exibir filmes em zonas de pastagem a uma altitude de mais de 4.800 metros. “Naquela época, carregávamos o equipamento em ​​cavalos e percorríamos até 60 quilómetros. Era uma subida que levava um dia inteiro.” Jiacuo era responsável por 18 pontos de exibição na área. Desde 1978, ele conta com a força de pessoas e cavalos para carregar o equipamento e garantir que filmes sejam exibidos em todos os pontos de exibição mensalmente.

"O pior era que não havia eletricidade.", confessa Suolang Duobujie, um dos membros da equipe: "Quando havia problemas com o gerador, a gente tinha que levar ele ao condado para ser consertado. Mas como estava sempre avariando e sendo consertado, era muito frequente haverem falhas repentinas do gerador e todos nós tivemos experiência disso. Tanto que a gente toda já tem alguns conhecimentos simples de manutenção.”

Esse trabalho de exibir filmes quase custou a vida de Jiacuo. Em outubro de 1993, enquanto cruzava as montanhas nevadas para exibir um filme na vila de Cuijiu, uma nevasca repentina levou a que ficasse preso por 5 horas, com as pernas congeladas. Jiacuo insistiu em realizar a exibição do filme, mas isso custou-lhe ficar confinado a uma cama de hospital durante os três anos seguintes.

De 2000 em diante, começou a ser usado um gerador melhorou e o projetor também deixou de falhar tanto. A partir de 2005, a eletricidade também foi chegando às vilas e cidades do condado de Jiacha. Em 2015, o abastecimento de electricidade deixou praticamente de ser uma preocupação para a equipe de projeção.

"Agora as condições de trânsito melhoraram muito. Com exceção de uma pequena parte das estradas entre aldeias, que ainda são feitas de terra, as estradas que ligam todas as vilas já são feitas de asfalto." Segundo Jian Shen, já é possível partir de Jiacha, onde mora, e chegar ao ponto de projeção mais distante através de uma estrada de 114 quilômetros.

70% dessa estrada é feita de asfalto e apenas 30% é de terra representam 30%, sendo que alguns trechos percorrem lugares a uma altitude de 4.500 metros acima do nível do mar.

Hoje em dia, celulares e Internet vão fazendo cada vez mais parte da vida no planalto do Tibete. "Os canais de informação estão cada vez mais amplos, e vamos ter que escolher algumas aldeias mais populosas para exibir filmes." A gente aqui gosta de assistir a filmes, quer sejam longas-metragens ou filmes científicos e educacionais. Em particular, longas-metragens com histórias sobre o Tibete permitem mais facilmente estreitar a distância com o público. Jian Shen mostra um cartão de memória: "Aqui estão armazenados 20 filmes, desde filmes de guerra, a romances e ficção científica. Isso era inimaginável no passado."

Desde 2010 que o número de membros da equipe tem vindo a diminuir. Dois deles se aposentaram no ano passado. Atualmente, apenas restam quatro. No entanto, isso não impede Jian Shen e seus companheiros de estarem satisfeitos com o fato de a equipe de projeção ter criado o seu próprio público. “Enquanto houver um público, os filmes serão sempre projetados”, diz.

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