Muita Convergência, Maior Consonância - comentário sobre a interação entre China e Brasil durante a Cúpula do BRICS

Fonte: Xinhua    08.12.2020 10h22

Por Yi Fan, observador de relações internacionais

BRICS, o bloco que reúne os principais mercados emergentes e países em desenvolvimento realizou com êxito, a sua 12ª cúpula sob o tema "Parceria do BRICS para a Estabilidade Global, Segurança Compartilhada e Crescimento Inovador". China e Brasil mostram consonância na sua interação durante a cúpula.

Pandemia e vacinas

O presidente Xi Jinping afirmou na cúpula a disposição da China de distribuir a vacina para os demais países do BRICS. O presidente Bolsonaro expressou no discurso, que "os países do BRICS podem desempenhar papel central nos esforços da superação da Covid-19. O Brasil busca uma vacina segura e eficaz contra o vírus", demonstrando a importância que ele atribui à atuação conjunta do BRICS contra a pandemia. Dois dias depois da cúpula, o avião que transportou 120 mil doses da vacina desenvolvida por uma empresa chinesa pousou no aeroporto Guarulhos. Já em 3 de dezembro, chegou ao Brasil 600 litros de matéria-prima da vacina, oriunda da China. O material servirá para formular vacinas no local. A colaboração ajuda com a coesão entre os dois países e entre os membros do BRICS.

Governança global

No seu discurso, Xi defendeu o sistema internacional centrado na ONU. Bolsonaro também valoriza o papel da ONU: deu um discurso muito bem-preparado na 75ª Assembleia Geral em setembro, dando continuidade a uma importante praxe: todos os anos são os presidentes brasileiros que abrem o evento. Na cúpula, Bolsonaro destacou a reforma da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Mundial do Comércio (OMC). China apoia uma reforma necessária e razoável da OMC e da OMS, como expõem claramente as suas altas autoridades. Os países do BRICS reafirmaram juntos na Declaração de Moscou "o compromisso com o multilateralismo" e a busca de "um sistema multilateral revigorado e reformado, incluindo a ONU, a OMC, a OMS e o FMI". China e Brasil possuem as mesmas metas, e podem promover a concretização delas através de coordenação.

Meio-ambiente

Xi advogou na cúpula que o BRICS deve "procurar o desenvolvimento verde e de baixo carbono, e promover a coexistência entre o homem e a natureza". Também anunciou que a China se esforçará para atingir o pico das emissões de CO2 antes de 2030 e a neutralidade do carbono antes de 2060.

Bolsonaro, por sua vez, reafirmou que o Brasil, um importante signatário do Acordo de Paris, está "comprometido com ações no tocante a emissão de carbono". Ele também reservou um espaço no seu discurso para apresentar as ações do seu governo para proteger a Amazônia, dando uma resposta às críticas internacionais. Em outubro de 2019, Bolsonaro agradeceu publicamente a China pelo reconhecimento da soberania na Amazônia durante a sua visita de Estado à China, quando o Brasil foi muito criticado pelo incêndio na Amazônia.

Mais ainda, China e Brasil são membros do BASIC, bloco que reúne grandes países em desenvolvimento para enfrentar juntos as mudanças climáticas. O meio-ambiente é um importante tema na cooperação sino-brasileira.

Tecnologia

Tanto Xi como Bolsonaro apostam na ciência, tecnologia e inovação. Xi anunciou o estabelecimento na China do Centro da Inovação da Parceria do BRICS para a Nova Revolução Industrial (PartNIR), iniciativa que visa aprofundar a cooperação tecnológica do BRICS. E Bolsonaro expressou o orgulho com o método da Polícia Federal de identificar se uma madeira é de Amazônia usando isótopo estável, tipo DNA. Os mercados emergentes têm hoje mais tecnologias que podem tornar o nosso mundo melhor. Já para não falar da longa tradição de cooperação tecnológica entre China e Brasil, marcado pelo Programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), projeto que tem lançado 6 satélites desde a década de 1980s e é elogiado como "paradigma de cooperação Sul-Sul". Temos toda a razão de aguardar mais frutos desta cooperação de longa história.

Bem-estar da população

Para Xi, "os membros do BRICS devem pensar mais sobre o bem-estar do povo e seguir a visão da comunidade de futuro compartilhado da humanidade." Bolsonaro destacou que os países do BRICS têm "o dever" de "promover o bem-estar e a prosperidade de nossos povos" e que "o trabalho desenvolvido pelo BRICS também é motor para o emprego, a renda e a segurança de nossos povos". É também reafirmado na Declaração de Moscou "compromisso de aumentar ainda mais a cooperação do BRICS ao bem-estar humano". Aprofundar a cooperação sino-brasileira, que é sempre benéfica para os dois povos, é agora também uma concretização das orientações dos dois chefes de Estado.

Para concluir, há muita consonância entre China e Brasil. Não posso omitir que há diferenças entre os dois países - há diferenças entre quaisquer dois países e são as diferenças que fazem o nosso mundo diversificado. Mas sem dúvida, a consonância é o aspecto principal das relações sino-brasileiras. China e Brasil são ambos importantes mercados emergentes e respectivamente o maior país em desenvolvimento oriental e ocidental, é muito natural que os dois têm muito em comum e desenvolvem uma boa cooperação. Os dois países têm uma Parceria Estratégica Global, gozam de uma confiança política mútua sólida e uma cooperação produtiva que traz benefícios tangíveis aos chineses e brasileiros. Eu, quem acabou de degustar aqui em Beijing picanha e vinho brasileiro, não posso ser mais otimista e confiante do futuro das relações China-Brasil.

(Web editor: Beatriz Zhang, 符园园)

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