Vários estudos realizados apontam a importação de produtos congelados como a fonte de surtos de Covid-19 nas cidades chinesas de Beijing e Qingdao, uma descoberta que um virologista chinês disse que pode ajudar a resolver o quebra-cabeças da origem do coronavírus.
Cientistas do Centro de Prevenção e Controle de Doenças de Beijing, da Universidade Tsinghua, da Academia Chinesa de Ciências Médicas, entre outros institutos, publicaram um artigo na semana passada no National Science Review, uma publicação da Academia Chinesa de Ciências, o qual esclarece o mistério em torno da origem do surto no mercado de Xinfadi, na capital chinesa.
Depois de comparar o sequenciamento do ácido nucleico e do genoma viral de pacientes de Covid-19 com amostras ambientais e de alimentos do mercado de Xinfadi, os cientistas chegaram à conclusão de que a presença do coronavírus em alimentos congelados importados foi provavelmente a causa do surto em Beijing. A cadeia de transportes de congelados passou a ser uma nova rota para a transmissão viral.
Os epidemiologistas descobriram que os funcionários das secções de carne bovina e ovina de Xinfadi foram os primeiros a apresentar sintomas, e cinco clientes que contraíram o vírus haviam visitado a secção. Porém, nem os funcionários nem os clientes tiveram contacto com casos confirmados ou suspeitos de Covid-19, nem visitaram áreas de risco.
A pesquisa sugeriu ainda que os funcionários das secções de carne bovina e ovina tiveram contato com salmão importado. Uma amostra de ácido nucleico do salmão demonstrou que sua sequência de genoma viral tinha um alto nível de similaridade com o de pacientes com Covid-19.
A sequência do genoma viral demonstrou uma mutação clara em comparação com as obtidas em amostras anteriores na China, uma prova de que o vírus que causou o surto de Xinfadi em Beijing foi importado, disse a pesquisa.
Na semana passada, o Centro Chinês para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) anunciou que detetou e isolou o coronavírus em uma embalagem de bacalhau congelado importado, comprovando que a exposição a embalagens contaminadas pode levar à infeção.
Yang Zhanqiu, vice-diretor do departamento de biologia da Universidade de Wuhan, disse que essas descobertas não só provaram o risco dos produtos importados da cadeia de congelados, mas também impulsionaram a pesquisa sobre a capacidade de sobrevivência do vírus, sua estrutura e, mais importante, suas origens.
Se a sequência do gene do coronavírus vivo da cadeia de congelados de Qingdao corresponder à dos seres humanos, isso pode ajudar a demonstrar a possibilidade de que o vírus tenha originado de criaturas aquáticas, ao invés de morcegos ou pangolins, disse Yang.
Se a teoria for confirmada, poderá também refutar acusações que visam denegrir a China. "Se uma criatura aquática provar ser o hospedeiro, isso pode anular muitos estudos anteriores sobre a origem do vírus", disse.
Ainda assim, vários virologistas afirmaram que a origem do último surto em Kashgar, precisa ainda de ser determinada.
Um funcionário local disse na segunda-feira que todos os pacientes assintomáticos encontrados na cidade não tiveram contato com produtos da rede de congelados ou com animais selvagens.
Os virologistas de Wuhan dizem não ter a certeza se o vírus que causou o surto de Kashgar era local ou importado. Mais pesquisas epidemiológicas precisam ainda de ser levadas a cabo para aferir a situação.