A erradicação da pobreza, um feito do tamanho da China

Fonte: Diário do Povo Online    28.05.2020 09h04

Por José Medeiros da Silva

No último 22 de maio, na abertura da 3ª sessão anual da 13ª Assembleia Popular Nacional da China, dois aspectos chamaram-me particularmente a atenção no relatório de trabalho do governo apresentado pelo primeiro-ministro Li Keqiang. Um é que, ao contrário dos anos anteriores, o governo decidiu não fixar metas de crescimento econômico para este ano de 2020; e um outro, talvez o mais relevante, foi a ênfase dada à eliminação da pobreza.

Sobre o primeiro ponto, o argumento do governo é de que diante das incertezas da economia mundial, não seria razoável a fixação de metas numéricas nesse momento. No entanto, apesar desse cenário externo adverso gerado pelo coronavírus, o relatório do governo sinaliza claramente que a China continuará intensificando sua produção interna e atuando ativamente para contribuir com o reavivamento da economia mundial.

Vale salientar que esses relatórios de trabalho apresentados anualmente aos parlamentares chineses são como um mapa em 3 D da situação e do horizonte do país. Por um lado, é uma prestação de contas sobre metas planejadas e executadas, assim como das obras em construção ou a sinalização de novos projetos. Por outro lado, ali se esboça uma visão panorâmica de como a China está a interpretar a si própria e ao mundo pela ótica política, econômica e social.

No entanto, esses planos anuais são apenas uma parte de horizontes nacionais muito maiores, estrategicamente elaborados, fixados e anunciados a cada cinco anos. Coincidentemente, este ano de 2020 é o último do 13º Plano Quinquenal, iniciado em 2016. O próximo, já em elaboração, será para os anos de 2021 -2025.

Se lermos o documento de 2016, observamos que muitas das metas ali delineadas estão agora integradas no dinamismo econômico do país e no cotidiano da vida dos chineses. Um bom exemplo é essa parte da internet e das novas tecnologias que interligam máquinas, pessoas e produção. Aliás, uma das razões da China ter (e estar) enfrentado com êxito essa grande crise advinda com o novo coronavírus foi, sem dúvida, o atual dinamismo econômico e social criado pelo uso intensivo de novas tecnologias, conforme previa o atual plano quinquenal.

Em relação à eliminação da pobreza, percebemos que esse é o tema dominante do relatório. Vale salientar que a construção de uma sociedade moderadamente próspera foi uma das principais metas apresentadas pelo presidente Xi Jinping desde que assumiu o comando do país em novembro de 2012. Ainda em 2013, em uma visita à província de Hunan, o presidente Xi apresentou o conceito de “combate à pobreza com precisão”, que tem sido um instrumento-chave nessa luta. Na prática, o conceito indica para um mapeamento preciso da situação da pobreza no país e o aporte de meios apropriados e dos recursos necessários de acordo com as situações específicas de cada localidade.

Não casual, o ano de 2021 (cem anos depois da criação do Partido Comunista Chinês) foi a data escolhida para concluir a construção dessa meta. Apesar do coronavírus, o relatório do governo indica claramente que todo governo continua focado e empenhado na realização dessa grande meta. 

Quem aqui vive e viaja pela China profunda (eu já estive em todas as províncias e regiões do país, tanto nas áreas urbanas como rurais) ver claramente que, de fato, esse sonho vai sento materializado. Recorde-se que aqui temos uma população de um bilhão e quatrocentos milhões, ou seja, umas setes vezes o tamanho da população brasileira.

O autor é doutor em Ciência Política, professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang. 

(Web editor: Renato Lu, editor)

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