Acadêmico: é difícil rastrear um vírus, a origem de várias doenças na história é ainda um mistério

Fonte: Diário do Povo Online    15.04.2020 15h50

A pandemia do novo coronavírus tem levado o mundo a se questionar sobre a sua origem.

“Isto não é apenas para satisfazer a curiosidade, mas mais importante que isso, é pela relevância para a prevenção e tratamento de doenças infeciosas. Apenas encontrando a fonte do vírus e compreendendo como o patôgeno se desenvolve para um vírus que afeta o ser humano, podemos perceber quando um surto ocorre. Apenas desse modo é possível consciencializar a população para a prevenção”, disse Zhao Guoping, um acadêmico da Academia Chinesa de Ciências e investigador na Academia de Ciências de Shanghai, durante uma entrevista ao Science and Technology Daily.

No entanto, embora os cientistas em todo o mundo se debatam com a pesquisa do vírus, parece que a sua origem é ainda algo confuso. “De fato, não apenas o novo coronavírus, mas várias doenças na história da humanidade, tal como AIDS, SARS, etc, embora tenham registrado grandes progressos na determinação da sua origem, é ainda difícil traçar o vírus. É algo que leva muito tempo e há ainda incertezas”, declarou Zhao.

Zhao Guoping referiu que o rastreamento do vírus requer evidências. Essas evidências surgem no processo do apuramento científico. Existem dois tipos de evidências, uma é a biológica e depende da medicina e da epidemiologia. A outra decorre de procedimentos de biologia molecular, incluindo o sequenciamento do genoma, deteção de anticorpos, etc.

A deteção do paciente 0 é fundamental para compreender o processo de evolução epidemiológica, mas é também especialmente difícil de aferir.

Nos últimos anos, a tecnologia da bioinformática desenvolveu-se rapidamente. Os cientistas são agora capazes de determinar a relação genética com o processo de transmissão entre diferentes estirpes de vírus através da comparação. É até possível calcular a origem temporal de um determinado vírus através da análise molecular. Porém, em termos de rastreamento, não é ainda possível descartar as investigações tradicionais epidemiológicas.

No ponto de vista de Zhao Guoping, o rastreamento de um vírus de uma fonte natural assemelha-se a uma investigação criminal. Quando a polícia chega à cena do crime, primeiro são coletadas as provas, e depois são equacionados vários cenários. Equanto isso, o suspeito confessa o crime, e é identificado o local do primeiro caso, juntamente com o esconderijo da armas usadas. A existência de incongruências entre estes dois fatores podem levar à ausência de resultados concretos.

Os vírus são bastante astutos, especialmente aqueles que são compostos por ácido ribonucleico (RNA) em vez de ácido desoxirribonucleico (DNA), sendo mais propensos a mutações com maior velocidade e grau.

Zhao crê que, durante o processo de transmissão entre espécies, o vírus precisa de acumular mutações para se adaptar ao novo portador (ser humano), formando um “clone transmissivo” que se espalha através da população. No entanto, a maioria das mutações no processo inicial não têm um “fenótipo” claro, sendo que a probabilidade de deteção natural é muito baixa. Esta é, todavia, a “evidência científica” necessária para o rastreamento.

"O rastreamento do vírus é extremamente difícil e contém muitos fatores que não podem ser controlados. Algumas evidências são perdidas e podem nunca ser encontradas. Em muitos casos, é impossível interligar a cadeia evolutiva. Mesmo após pesquisas exaustivas, pode não ser possível atingir dados conclusivos, apenas suposições. Deste modo, é preciso que todos mantenhamos a razoabilidade de nossas expetativas”, concluiu.

(Web editor: Renato Lu, editor)

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