Lisboa, 12 abr (Xinhua) - Portugal sofrerá uma "grande recessão" este ano como resultado da pandemia do COVID-19, previu o economista e ex-consultor estatal, Vitor Bento, informou neste domingo a Agência de Notícias Lusa.
Em entrevista à Lusa, Bento, que atuou como consultor de estado do ex-presidente português, Anibal Cavaco Silva, disse que o importante agora é saber "quanto tempo isso vai durar" e qual será "a forma de recuperação".
"Em outras ocasiões, poderíamos fazer projeções com bases mais sólidas. Desta vez, tudo é instável e o grau de incerteza é maior", afirmou o economista.
O que preocupa no cenário atual é que a crise tem duas frentes: afetará tanto a demanda quanto a oferta, explicou, acrescentando que houve "uma interrupção do circuito econômico" nessa crise causada pela pandemia.
"As pessoas tinham dinheiro, queriam comprar, mas não puderam ir às lojas", disse ele. Enquanto isso, há um choque simultâneo no lado da oferta resultante da "redução da oferta de mão-de-obra devido doenças e confinamentos".
Ele alertou que, se as medidas de isolamento durarem até dois meses, o efeito sobre a capacidade produtiva poderá ser "suportável". E se durar mais, será "muito difícil, mesmo para empresas sólidas".
O estado de emergência está em vigor em Portugal entre 19 de março e 17 de abril. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa disse que solicitará uma prorrogação até o início de maio.
Bento também disse que o país passou muito tempo "ignorando" seu problema de dívida pública.
"Há muito tempo, muitas pessoas alertaram esse fato, uma vulnerabilidade muito grande e que seria sentida em particular em um momento de crise imprevisível", disse ele à Lusa.
Portugal fechou o ano passado com uma dívida pública equivalente a 117,7 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
Em relação à recuperação econômica, Bento sugeriu aproveitar a "oportunidade de redirecionar a própria indústria nacional".
Sobre o papel da União Europeia (UE), ele disse que ela "reagiu como deveria ter reagido" à crise econômica resultante da pandemia do COVID-19.
"A Europa acabará encontrando uma solução que não agradará a todos, mas essa será a solução possível", afirmou ele.
Até domingo, Portugal registrou 16.585 casos infectados, com 504 mortes. As autoridades de saúde disseram no sábado que Portugal está "na fase de platô" da pandemia.