46 dias de quarentena: Estudante cabo-verdiana em Wuhan conta sua história em tempo de "bloqueio" da cidade

Fonte: Xinhua    09.03.2020 15h39

Por Lyu Chengcheng, correspondente da Xinhua

Beijing, 9 mar (Xinhua) -- No final de janeiro, a cidade chinesa de Wuhan, epicentro da COVID-19, adotou uma série das medidas resolutas para conter a propagação do coronavírus, com todos os canais de saída fechados, carros proibidos de circular nas ruas e comunidades residenciais colocadas em quarentena rigorosa durante 24 horas. No entanto, ainda ficam lá muitos estudantes internacionais que também têm testemunhado uma vida de "bloqueio" por 46 dias desde então.

Lilyan Barros, estudante cabo-verdiana inscrita no mestrado na Central China Normal University, é uma delas.

MEDO E ESFORÇOS

No dia 23 de janeiro, mesmo dia que a cidade foi fechada, sua residência universitária começou a tomar medidas de prevenção e controle.

"Medo, primeiramente o medo de contágio que tivemos no início, colocamos as máscaras e despejamo-nos no supermercado para comprar comidas e produtos de uso diário."

Mesmo antes do "bloqueio", a universidade dela despertou a atenção de todos os alunos e começou a recrutar voluntários. Barros se integrou à equipe e foi responsável pela distribuição de comidas e suprimentos, além da comunicação entre os estudantes estrangeiros e o gabinete dos assuntos de estudantes internacionais.

Em 2 de fevereiro, a universidade estreitou ainda mais suas políticas, pedindo a todos os estudantes que se mantivessem em seus quartos e depois, trancou as portas. Na mesma altura, os voluntários começaram a tomar ações.

"Procuramos medidas para evitar ao máximo os contatos desnecessários, por tal, todas as mensagens que vêm da escola só serão passadas via Wechat, e as refeições serão entregues à porta do dormitório. Quem quiser fazer compras, tem de escanear um código QR e fazer pedidos online, os funcionários do supermercado da escola vão entregá-los."

Dia-a-dia, eles precisam monitorar a temperatura corporal de todos os moradores do edifício ao distribuir comidas. "Temos divisão do trabalho, um é para medir, os outros são para dar refeições e guiar os alunos para não se reúnam."

"Cada um receberá dez máscaras de sete a dez dias, porque só pode descer as escadas e tirar suas refeições com isso, enquanto os voluntários e funcionários têm de colocar todos os equipamentos: máscaras, luvas e artefatos de desinfecção."

"Ninguém quer ser infeccionado. Todos nós sabemos que o vírus tem alto risco de transmissibilidade, então é perigoso sair para a rua neste período. Passamos a viver apenas para evitar o contágio, à vista disso, a maior parte do tempo é para fazer limpeza e desinfecção."

ROTINA NOVA

Até o início de março, este sistema de quarentena corria tranquilamente com o esforço de coordenação trilateral entre estudantes, voluntários e a universidade.

"Essas medidas aliviaram efetivamente o pânico entre nós, porém, interromperam completamente a rotina normal."

"As nossas vidas ficaram a girar todo os dias nos quartos, em exceção à assistir aulas online, e assim já se passaram por volta de 40 dias. Para mim, essas 24 horas parecem 48", suspira ela. "Mesmo que o gabinete nos oferecesse consulta de saúde, muitos tinham sensação de cansaço ou até a insônia."

"Mas sabemos que não há outro remédio nesta altura, porque a situação pedia."

CONFIANÇA E ESPERANÇA

No dia 2 de março, as autoridades chinesas da saúde anunciaram que Wuhan apresenta uma tendência bem controlada de surgimento de casos confirmados. Tendo recebido essa notícia, a confiança e as esperanças floresceram de volta entre os estudantes internacionais e a universidade.

"Partilhamos notícias positivas entre si. Caso meus colegas encontrassem informações que não confiavam, iriam contactar comigo e eu faria confirmações nos sites em chinês."

Barros iniciou sua vida de estudo em Wuhan há sete anos e meio.

"Esta cidade é a minha segunda casa e, neste momento, para eliminar o coronavírus, as pessoas aqui travam uma luta que não tem sangue, nem violência, mas todos nós somos soldados", disse ela. "Temos de fazer o que devemos fazer para vencê-lo."

"Fico grata à minha universidade. Graça às medidas adotadas, não há nenhum registro de infecção no meu dormitório até agora. Também aprecio muito os médicos e voluntários em Wuhan, cujos esforços vêm trazendo bons efeitos."

"Para sanar a dificuldade, é bom que não percamos a confiança e a esperança", disse ela.

(Web editor: Fátima Fu, editor)

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