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Projeto de restauração de terras de empresa chinesa ajuda a melhorar a produtividade agrícola sustentável no Brasil

Fonte: Xinhua    20.10.2025 15h12

Os irmãos Igor e Ivan Biancon estavam em um campo na fazenda da família, onde o algodão havia acabado de ser colhido e a soja havia começado a brotar cerca de dez dias após o plantio, observando os caminhões transportando algodão para a usina de beneficiamento e aguardando ansiosamente a próxima colheita de soja.

Este campo, que era estéril e degradado pelo sobrepastoreio apenas alguns anos antes, agora está gerando renda.

No final do século passado, os irmãos Biancon se mudaram com a família do Rio Grande do Sul para o vasto estado do Mato Grosso para cultivar soja e criar gado.

Após a pandemia da COVID-19, os preços dos alimentos dispararam. Os irmãos buscavam uma oportunidade para aumentar sua produção de culturas como soja e milho. No entanto, grande parte da terra era infértil e não cultivada.

Ao buscar empréstimos em seu banco para desenvolver novas terras agrícolas, eles foram recomendados ao programa REVERTE, do Grupo Sinochem Syngenta. Este programa, que envolve a reconstrução de terras existentes em vez do desenvolvimento de novas, tornou-os a primeira fazenda no Brasil a aderir ao REVERTE.

O REVERTE é um programa de restauração de terras lançado em 2019 pela Syngenta e pela The Nature Conservancy. Inicialmente projetado para a região do Cerrado brasileiro, o REVERTE busca permitir que agricultores brasileiros expandam sua produção, beneficiando-se da restauração de terras degradadas e evitando o desmatamento. Desde que os agricultores atendam aos padrões socioambientais, eles podem solicitar uma linha de crédito da instituição financeira parceira, o Itaú BBA.

A região do Cerrado é um bioma fundamental devido à sua biodiversidade, recursos hídricos e paisagem de alta produtividade. No entanto, a crescente demanda global por alimentos gerou uma demanda maior por terras aráveis, levando muitos agricultores a recorrer à extração ilegal de madeira. O projeto REVERTE garante um modelo que equilibra a proteção ambiental com a produção sustentável de alimentos e a segurança alimentar.

Gabriel Moura, coordenador de Sustentabilidade da Syngenta, explicou que o projeto REVERTE analisa as condições específicas das terras de cada agricultor participante, primeiro coletando amostras de solo e, em seguida, desenvolvendo um plano de melhoria personalizado com base nelas. Por exemplo, o solo da Fazenda Biancon foi melhorado com a incorporação de fertilizantes orgânicos, como palha, e alguns fertilizantes químicos. O solo melhorado absorve mais água, tornando-o adequado para o cultivo de soja.

Antes de 2020, a propriedade dos Biancon tinha apenas 14.000 hectares de terra arável. Hoje, a fazenda pode cultivar 24.000 hectares de soja, 11.000 hectares de feijão e 10.000 hectares de algodão em duas safras, elevando a área arável total para 45.000 hectares. A fazenda também mantém mais de 7.000 cabeças de gado, garantindo um impacto mínimo na produção pecuária.

Para incentivar mais agricultores a aderirem ao projeto, a Syngenta não só fornece aos agricultores participantes ferramentas digitais avançadas para que possam monitorar as condições de suas fazendas em tempo real, como também firma parceria com o Itaú BBA para oferecer aos agricultores 10 anos de crédito financeiro, garantindo assim o investimento dos mesmos.

A Fazenda JNC, localizada a mais de 300 quilômetros da Fazenda Biancon, abrange quase 90.000 hectares e cultiva principalmente soja, algodão e milho. É a maior fazenda a utilizar a tecnologia REVERTE e emprega ferramentas digitais para facilitar a agricultura e controlar melhor a produtividade.

Na Fazenda JNC, o plantio de soja acaba de começar. Da cabine de sua plantadeira, Wellington Douglas pode monitorar os campos que plantou. A densidade e a profundidade do plantio são pré-programadas, e a plantadeira para automaticamente ao atingir a borda do campo planejado. Toda a atividade da plantadeira também é monitorada em tempo real em uma tela de computador na sede da Fazenda JNC.

Além de monitorar a operação de diversas máquinas agrícolas, a sede também pode detectar e prevenir incêndios, bem como monitorar as condições climáticas para formular medidas de resposta adequadas.

A digitalização simplificou significativamente a gestão agrícola. Os lotes participantes do programa REVERTE na JNC são dedicados ao pasto durante metade do ano e ao plantio de soja na outra metade. Após a colheita da soja, o capim é plantado, permitindo que o gado se alimente de uma forragem mais nutritiva. O gado é então transferido para outros lotes, que são posteriormente convertidos em campos de soja.

Isso garante forragem fresca para o gado todos os anos, sem que a terra se torne infértil devido ao pastejo contínuo. Outras áreas também utilizam um sistema de plantio de soja semestral e um sistema de pastejo e plantio de milho semestral.

Um aspecto fundamental do programa REVERTE é que o acesso a essas ferramentas digitais e empréstimos está condicionado ao cumprimento das normas ambientais locais. Tanto a Fazenda Biancon quanto a Fazenda JNC devem cumprir o Código Florestal brasileira, que estipula que uma porcentagem da área total da fazenda deve permanecer coberta com vegetação nativa, dependendo da zona ecológica em que está localizada. As áreas de cultivo ou pastagem não devem invadir áreas florestadas.

Elson Steves, diretor técnico da Fazenda JNC, demonstrou o projeto de replantio da fazenda, que envolve o cultivo de plantas nativas do Cerrado ou da Floresta Amazônica no viveiro da fazenda e o replantio dessas mudas em terras degradadas.

Especificamente, árvores foram plantadas em 46 fontes de água ao redor da fazenda, garantindo um fluxo contínuo de água durante todo o ano. Isso não apenas melhora a estética da fazenda, mas também garante a água de irrigação necessária para o cultivo de algodão.

Petra Laux, diretora de Sustentabilidade da Syngenta, afirmou que, quando os líderes mundiais se reunirem no Brasil para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), enfrentarão uma realidade incômoda: não podemos abordar as mudanças climáticas sem abordar a agricultura.

"Produzir mais alimentos e proteger o meio ambiente agora é possível simultaneamente. O projeto REVERTE está ajudando agricultores brasileiros que buscam expandir sua produção restaurando terras degradadas, em vez de desmatar grandes áreas de vegetação nativa", disse ela.

Atualmente, o projeto REVERTE conta com 394 fazendas contratadas no Brasil, contribuindo para a restauração de quase 280.000 hectares de terras. A meta da Syngenta é restaurar um milhão de hectares de terras agrícolas degradadas para terras produtivas em todo o Brasil até 2030.

Das Saswato, Diretor de Comunicação da Syngenta, afirmou que a China é um mercado-chave para os produtos agrícolas brasileiros e que sua crescente demanda por agricultura verde e sustentável apresenta enormes oportunidades para o desenvolvimento da agricultura regenerativa no Brasil.

"Acreditamos que somente promovendo o crescimento verde e alcançando um equilíbrio entre a produção agrícola e a proteção ecológica o futuro da agricultura poderá alcançar um verdadeiro desenvolvimento sustentável e criar uma cadeia de suprimentos agrícola mais eficiente, segura e ecologicamente correta para os consumidores", afirmou. Fim

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