Um vídeo de uma brasileira desembalando compras da SHEIN viralizou nas redes sociais, superando um milhão de visualizações e reunindo quase mil comentários. Ao exibir dez pares de sapatos, a consumidora destacou: "Lindíssimo, né? E o valor é mais acessível". O interesse foi imediato: espectadores trocaram dicas de compras online na seção de comentários.
O fenômeno ilustra a expansão acelerada do comércio eletrônico no Brasil, alavancado pela popularização dos pagamentos digitais e por redes logísticas mais eficientes. Nesse mercado, além de gigantes locais e globais, plataformas chinesas avançam rapidamente, tornando-se um novo destaque na cooperação de comércio digital entre os membros do BRICS.
Em abril, a Didi relançou seu serviço de entrega no Brasil como "99 Food", integrando mobilidade e pagamento locais para uma experiência "tudo em um". Em maio, a Meituan anunciou durante o Seminário Empresarial China-Brasil o lançamento da Keeta no país, com investimento previsto de US$ 1 bilhão em cinco anos.
Antes de serviços de entrega de comida, plataformas chinesas de compra online como SHEIN e Temu já conquistavam espaço no mercado, especialmente em eletrônicos e moda, devido à eficiência logística e custo-benefício. "O Brasil foi o primeiro país a contar com o marketplace da Shein, e desde abril de 2023, observamos um crescimento significativo e uma ótima receptividade dos vendedores nacionais", afirmou Felipe Feistler, CEO da SHEIN no Brasil.
Esses investimentos e iniciativas refletem o reconhecimento das empresas chinesas sobre o potencial de consumo do mercado brasileiro. O Brasil tem uma população de mais de 200 milhões, com um rápido crescimento no número de usuários de internet. Em 2023, a receita do varejo online no Brasil atingiu R$ 185,7 bilhões, com 87,8 milhões de consumidores digitais.
Para desbloquear os canais de logística, a Cainiao e a JD.com inauguraram voos fretados diretos entre China e Brasil, reduzindo o tempo de logística em cerca de 40 dias. Já a AliExpress instalou armazéns offshore e a Cainiao automatizou um centro de distribuição no país, multiplicando por 7 a eficiência no processamento.
A cooperação também tem impactado positivamente o emprego e a renda de pequenos e médios comerciantes no Brasil. Wang Xing, CEO da Meituan, afirmou que a Keeta buscará impulsionar o crescimento de restaurantes parceiros e criar oportunidades de emprego locais.
Segundo o acordo, a Keeta construirá uma rede nacional de entrega instantânea no Brasil e oferecerá suporte integrado, ferramentas de marketing e operações digitais para restaurantes locais, ajudando-os a expandir seus negócios.
Atualmente, a SHEIN possui cerca de 30 mil vendedores no Brasil. A empresa estima que, até o final de 2025, serão criados 100 mil empregos diretos ou indiretos, sendo que esse número já ultrapassa 50 mil atualmente.
Uma cooperação mais profunda se reflete em acordos políticos. Em 2024, a 14ª Reunião de Ministros da Economia e Comércio Exterior do BRICS assinou a Declaração Conjunta sobre a Promoção da Cooperação em Comércio Eletrônico. O documento visa fornecer suporte institucional para empresas de e-commerce no âmbito do "Grande BRICS", ajudando empresas dos países membros a se integrarem melhor no comércio global.
Quando os grãos de café brasileiro chegam às mesas chinesas via voos fretados da JD.com, e produtos eletrônicos fabricados na China são entregues em São Paulo pela rede da Cainiao, os dois países não estão apenas registrando dados comerciais, mas também desenhando um futuro de benefícios compartilhados da era digital.