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Doador americano de álbum de fotos de crimes de guerra japoneses viaja pela China

Fonte: Diário do Povo Online    28.11.2024 11h20

Evan Kail posa para uma foto de grupo com estudantes no Parque do Templo do Céu, em Beijing, capital da China, 21 de novembro de 2024. (Ju Huanzong/Xinhua)

Numa visita ao parque do Templo do Céu no centro de Beijing, Evan Kail, dos Estados Unidos, abriu uma cópia de um álbum de fotos, tentando descobrir o quanto as coisas mudaram nos últimos quase 90 anos.

O álbum original, que remonta à Segunda Guerra Mundial (WWII), apresenta fotos da China naquela época, incluindo algumas que documentam as atrocidades cometidas pelos invasores japoneses no país. A doação foi feita à China por Evan Kail, um gerente de casa de penhores, em 2022. Dois anos depois de fazer a doação, Kail decidiu embarcar em uma visita de um mês à China.

"Estou aqui, onde todas essas fotos foram tiradas, para estar fisicamente na Cidade Proibida, Grande Muralha, Templo do Céu e muitos outros locais na China no mês seguinte", disse um animado Kail no início da turnê.

Nos últimos dias, viria a descobrir que a China é bem diferente do que a mídia retrata nos Estados Unidos. "Recomendo que as pessoas do Ocidente venham e confiram", disse.

O ÁLBUM QUE O TORNOU CONHECIDO NA CHINA

Antes de chegar a Beijing, em 16 de novembro, a notícia de Kail vindo até à China se tornou viral nas mídias sociais, com usuários chineses expressando suas boas-vindas e convidando-o para diferentes partes do país para dar uma olhada.

"O álbum registrou a situação real da invasão japonesa na China, fornecendo mais detalhes históricos. Nesse sentido, Kail merece o respeito do povo chinês", disse o internauta Lu Xixin.

"Um obrigado a Kail pelo que fez. Será lembrado pelo povo chinês", disse outro internauta apelidado de Haishangyilanghua.

Kail, de 35 anos, gosta de compartilhar suas experiências no TikTok. Há dois anos, recebeu o álbum de fotos de um de seus seguidores nas redes sociais.

"Eles mencionaram vagamente um álbum de fotos da Segunda Guerra Mundial da Ásia, mas não forneceram muitos detalhes e apenas perceberam que o conteúdo era perturbador".

A primeira impressão de Kail ao ver as fotos foi "de partir o coração". Ele fez um vídeo apresentando o álbum de fotos no TikTok dois dias após recebê-lo, o que atraiu muita atenção do público, principalmente entre chineses de todas as idades.

"Uma das minhas regras ao lidar com artefatos relacionados à Segunda Guerra Mundial é que se um item tiver alguma conexão direta com um crime de guerra ou tiver potencial significado histórico, ele não pertence a mãos privadas. Em vez disso, pertence a um museu ou a um lugar onde pode ser estudado e preservado para o público", disse Kail.

"Eu também me perguntei se as fotos, anteriormente desconhecidas, poderiam ter valor histórico além dos meus meios de avaliar", disse.

Ele acreditou que o álbum era parte da história chinesa e poderia ser de imenso valor para os estudiosos chineses. Portanto, entrou em contato com o Consulado Geral da China em Chicago e fez a doação.

As tropas japonesas cometeram inúmeras atrocidades hediondas na China durante sua invasão, das quais a mais notória foi o Massacre de Nanjing, que ocorreu quando capturaram a então capital chinesa, em 13 de dezembro de 1937. No espaço de seis semanas, os invasores mataram aproximadamente 300.000 civis chineses e soldados desarmados em um dos episódios mais bárbaros da Segunda Guerra Mundial.

Os chineses elogiaram Kail por lançar mais luz sobre essa parte da história. Algumas pessoas visitaram até a loja de Kail para expressar sua gratidão.

Kail ficou impressionado com a resposta. "Tive a sorte de frequentar boas escolas, e a Segunda Guerra Mundial foi discutida em sala de aula inúmeras vezes. Mas ver todos esses chineses expressando tal emoção foi um choque", explicou.

CONHECENDO A VERDADEIRA CHINA

Na verdade, o interesse de Kail pela Segunda Guerra Mundial remonta a um período ainda mais antigo do que o início de sua educação formal. Seu avô serviu como capitão nas forças armadas dos EUA no Pacífico. "A história da Segunda Guerra Mundial foi extremamente significativa para meus avós e para minha educação", observou.

A Segunda Guerra Mundial moldou a vida de seus avós de maneiras profundas, mas, como muitos no Ocidente, seu conhecimento da China e seu povo, história e cultura permaneceu limitado. "Nos últimos dois anos, dediquei tempo para aprender o máximo que pude sobre a China", disse ele. "Tenho lido livros sobre história e cultura chinesas e estudado mandarim".

"Acredito que muitas pessoas no Ocidente ainda sabem muito pouco sobre a China, muitas vezes apenas pedaços das notícias. Devemos reservar algum tempo para saber mais sobre este país populoso e sua rica história", disse Kail. "Fiz muitos progressos e estou ansioso para fazer ainda mais nesta viagem".

Kail começou sua viagem em Beijing e também passará um tempo em Tianjin, Shanghai e Nanjing — onde planeja visitar o Salão Memorial das Vítimas do Massacre de Nanjing cometido pelos Invasores Japoneses.

"Espero que esta viagem seja uma das experiências mais inesquecíveis da minha vida. Depois de estudar a China por anos, estou animado para finalmente vê-la com meus próprios olhos", disse Kail. "Mais importante, esta viagem marca o início da minha jornada ao longo da vida como um representante da paz, amizade e união entre duas grandes nações".

Durante seu tempo em Beijing, o americano conseguiu vislumbrar a verdadeira China, que ele disse ser diferente do que ele aprendeu nos EUA. "Para ser honesto, parece haver algum preconceito na mídia ocidental", afirmou Kail.

Ele deu um exemplo para respaldar sua declaração. "Beijing é uma cidade muito limpa", disse, acrescentando que é frequentemente retratada na mídia ocidental como "suja" e "poluída".

Este ano, Kail criou o "Evan Kail Cultural Studio" — com a missão de promover a paz por meio de intercâmbios culturais entre a China e os Estados Unidos.

"Acredito que a chave para a paz é a comunicação, e a chave para a comunicação é o entendimento. A melhor maneira para os dois povos se entenderem é por meio da cultura. Estou entusiasmado para desenvolver essa visão", disse Kail.

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