Um agricultor realiza desassoreamento em um canal de água num campo de arroz na aldeia de Daleng, no condado de Zhangwu, cidade de Fuxin, província de Liaoning, nordeste da China, em 14 de junho de 2023. Em 2021, as autoridades locais promoveram a transformação de terras arenosas ao longo do rio Liuhe em Zhangwu em campos de arroz cultiváveis, obtendo benefícios ecológicos e econômicos. (Foto: Pan Yulong/Xinhua)
Através dos esforços acadêmicos de 13 instituições de investigação chinesas, como o Instituto Provincial de Relíquias e Arqueologia de Zhejiang, um estudo publicado recentemente revelou os 100.000 anos de história evolutiva do arroz.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, mais de 50% da população mundial depende do arroz na sua dieta diária.
Para o estudo, os pesquisadores analisaram microfósseis fitólitos de restos de arroz descobertos no sítio arqueológico de Shangshan, na província de Zhejiang, no leste da China.
As ruínas datam do "início do período Neolítico", disse o arqueólogo Yu Pei'er ao Global Times, acrescentando que o local há muito é identificado como "um antigo campo para atividades agrícolas".
"Durante a última década de escavações, um número prolífico de produtos de pedra e cascas de arroz carbonizadas foram descobertos. Itens de pedra, como uma pedra de moinho antiga, foram encontrados mais tarde, mostrando que atividades de plantio e processamento de alimentos ocorriam ali", disse Yu.
A "análise de fitólitos" recupera partículas de dióxido de silício amorfo que se formaram entre e dentro das células das raízes, folhas e frutos de uma planta.
Ao combinar esta abordagem com outros estudos arqueológicos, os especialistas conseguiram estabelecer camadas cronológicas da terra, levando à descoberta de plantas de arroz selvagem que foram distribuídas na área há cerca de 100.000 anos.
A descoberta ampliou significativamente a história do arroz na China. Em 2017, o atual líder do projeto, Lyu Houyuan, e a sua equipe descobriram que o arroz foi domesticado pela primeira vez na China, há cerca de 10 mil anos. O resultado foi publicado na revista norte-americana da Academia Nacional de Ciências.
O especialista, que também é professor do Instituto de Geologia e Geofísica da Academia Chinesa de Ciências, observou que as novas evidências de 100 mil anos lançam luz sobre a "trajetória de crescimento contínuo" do arroz selvagem sendo domesticado pelos seres humanos.
“Essa época para o início do cultivo e domesticação do arroz corresponderia ao início paralelo da agricultura em outras regiões do mundo durante um período de profundas mudanças ambientais, quando o Pleistoceno estava em transição para o Holoceno”, enfatizou Lyu.
Durante as últimas décadas, o tema da origem e domesticação do arroz captou constantemente o interesse da academia global.
Antigamente, acreditava-se que ele era originário do Sudeste Asiático, mas desde a década de 1970, um número crescente de estudiosos começou a se convencer de que o local de nascimento do arroz era a China.
"Para ser mais específico, acredita-se agora que o curso médio e inferior do rio Yangtze, na China, seja um dos primeiros locais de nascimento do arroz no mundo, devido a grandes vestígios descobertos em locais não apenas como as ruínas de Shangshan, mas também as ruínas de Hemudu, em Ningbo, província de Zhejiang", disse o arqueólogo Lu Zhaojun ao Global Times.
Lyu destacou que, como o arroz é um alimento básico partilhado globalmente, a procura das suas origens é tão significativa como o seu cultivo pelos seres humanos.
“Precisamos analisar mais a fundo a domesticação das espécies, bem como o impacto que ela teve nas mudanças ambientais e climáticas nos tempos antigos”, enfatizou Lyu.
A nova pesquisa foi publicada na revista Science em maio. Lyu revelou que o próximo passo da sua equipe será realizar novas análises de DNA para estudar as mudanças genéticas no arroz e investigar as ruínas de Shangshan para descobrir como o arroz foi domesticado pelos seres humanos.
Ele observou que o estudo do arroz é um projeto de pesquisa interdisciplinar que também precisa do apoio de outras áreas, como geologia e sedimentologia.