Por Qiang Yuwen, Diário do Povo
Turistas visitam as Grutas de Mogao em 9 de abril de 2021. Foto: Wang Binyin, Diário do Povo Online
Uma porta de madeira manchada se abre, repleta de pinturas rupestres, retratos e padrões de roupas elegantes. A vista no interior da gruta está completamente desobstruída.
Embora pareça, não é Dunhuang, mas o escritório do Centro de Pesquisa de Patrimônio Cultural Digital da Universidade de Wuhan, na China. Huang Xianfeng, membro do centro de pesquisa, clicou no mouse e o modelo tridimensional da gruta apareceu na tela do computador. O modelo 3D “clonado” por esta tecnologia digital é quase perfeito, para que o público possa apreciar os detalhes do interior das Grutas de Mogao.
A criação da base de dados digitais, com início na década de 90, concentra os esforços de duas gerações de pesquisadores científicos do Instituto de Pesquisa de Dunhuang e da Universidade de Wuhan por mais de 10 anos.
Na época, a digitalização era ainda uma palavra nova, pois as equipes careciam de câmeras de filmar de resoluções elevadas e instrumentos de precisão, entre outros aparelhos tecnológicos relevantes, sendo que, após várias tentativas, foram obrigadas suspender o seu trabalho.
Em 2007, a convite de Fan Jinshi, então presidente da Academia de Dunhuang, Zhu Yixuan, professor do Laboratório Estatal de Engenharia de Informação de Pesquisa, Mapeamento e Sensoriamento Remoto da Universidade de Wuhan, e seu marido Li Deren, também um conhecido especialista em topografia e mapeamento, foi a Dunhuang para uma inspeção. Vendo que as cores antes brilhantes e a textura das esculturas de argila gradualmente se esbateram com o tempo, eles ficaram profundamente desiludidos. "Esperamos usar a tecnologia para fazer a arte rupestre transcender o tempo e o espaço e permitir que Dunhuang perdure no tempo", disse Zhu Yixuan.
Após repetidas pesquisas e demonstrações, o plano de design gradualmente se tornou claro: usando a tecnologia de sensoriamento remoto, uma reconstrução digital tridimensional das grutas de Dunhuang foi realizada, permitindo a recriação tridimensional do seu interior no computador.
Em 2008, o septuagenário Zhu Yixuan, liderou uma equipe de mais de 10 pesquisadores da Universidade de Wuhan, incluindo Huang Xianfeng, a Dunhuang. Sua principal tarefa é usar equipamento a laser para escanear as Grutas de Mogao em três dimensões, uma câmera digital para tirar fotos das cavernas e, finalmente, processar os dados. "Em termos leigos, o esqueleto tridimensional e a forma são digitalizados primeiro e, em seguida, as cores e texturas são anexadas e processadas em um modelo tridimensional de cores de alta precisão", disse Huang Xianfeng.
Após anos de erosão, os murais e estátuas de Buda nas grutas são muito frágeis. “Alguns murais estão já manchados, e qualquer descuido pode causar danos”.
A equipe de pesquisa determinou que, para alcançar a replicação digital 1:1, a complexidade da modelagem e calibração aumentou exponencialmente, o que não pode ser satisfeito por meios técnicos tradicionais de mapeamento e levantamento.
Por esse motivo, Huang Xianfeng levou os alunos de doutorado Zhang Fan e Zhang Zhichao para Dunhuang novamente. Para desenvolver um software de modelagem independente e controlável, três pessoas trabalharam continuamente por mais de 20 horas. Mais de dois meses depois, uma ferramenta de software capaz de resolver o mapeamento de textura de alta qualidade de modelos de relíquias culturais complexas nasceu e o link-chave foi finalmente aberto.
Depois de eliminar os obstáculos técnicos, Li Deren propôs o plano de coleta de dados de "integração ar-solo e integração interna e externa". "Não somente as Grutas de Mogao, mas também os dados de Dunhuang devem ser coletados e registrados, de modo a fornecer uma referência mais abrangente para a proteção de relíquias culturais".
Um ano depois, Huang Xianfeng e outros professores e alunos vieram a Dunhuang pela terceira vez e permaneceram lá por mais de dois meses. Eles pegaram emprestado um avião de transporte e carregaram um scanner a laser para realizar um levantamento aéreo em grande escala. Ao mesmo tempo, usaram lasers terrestres e instrumentos de fotogrametria de curto alcance para realizar um levantamento em escala real de penhascos, cavernas e edifícios antigos.
"No passado, não havia dados de visualização completa em 3D e não sabíamos a distância entre as cavernas. Agora, até a espessura das paredes pode ser conhecida, o que fornece suporte de dados de como as cavernas devem ser reforçadas e protegidas”. Zhang Fan indicou que em 2016, foi feito uma vez mais o mapeamento 3D dos dados de Dunhuang, face aos dados catalogados há 10 anos, reforçando o nível de proteção das grutas.
“Nossos alunos estão agora estudando a restauração virtual de murais, sistemas de identificação e rotulagem de doenças de relíquias culturais, etc., para proteger o bastão de Dunhuang, e iremos passá-lo de geração em geração”, concluiu Zhang Fan.
