O conselheiro de Estado e ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, trocou na quinta-feira opiniões com o primeiro secretário de Estado e secretário de Relações Exteriores britânico, Dominic Raab, sobre a situação no Afeganistão e as relações sino-britânicas, durante uma conversa por telefone.

Wang assinalou que a importante mudança na situação no Afeganistão reflete que depois de mais de 40 anos de guerra, o povo afegão deseja a estabilidade e não quer outra guerra ou caos.

Também demonstra que o modelo de governança imposto do exterior não foi apoiado pelo povo afegão e carece de base social, assinalou Wang, acrescentando que depender da intervenção militar para resolver importantes problemas regionais não levará a nenhum lugar.

A situação no Afeganistão é outro exemplo negativo e se os Estados Unidos não tirar das lições dolorosas, padecerão algumas outras, disse Wang.

Wang indicou que como a questão afegã entrou em uma etapa crítica ao passar da solução militar à política, é necessário concentrar-se nos seguintes aspectos.

Primeiro, se o Talibã pode unir o povo afegão, estabelecer uma estrutura política aberta e inclusiva em conformidade com as condições do país, adotar políticas moderadas e evitar o surgimento de novos conflitos ou inclusive de uma guerra civil.

Segundo, se o Afeganistão pode traçar uma linha clara ante o terrorismo, lutar resolutamente contra todo o tipo de organizações terroristas e evitar tornar-se de novo um local de reunião para terroristas.

Terceiro, se a comunidade internacional pode desempenhar um papel construtivo. Wang assinalou que a comunidade internacional deve respeitar plenamente a independência e a soberania do Afeganistão e a vontade de seu povo, conduzir mais diálogos e oferecer mais orientação, se abster de ter uma mentalidade predeterminada e de exceder os próprios deveres para interferir nos assuntos de outros, e não tornar o Afeganistão um cenário de jogos geopolíticos.

Wang enfatizou que a situação seguinte no Afeganistão continua sendo instável e incerta, e que a comunidade internacional deve incentivá-la e guiá-la para um rumo positivo, ao invés de exercer uma pressão excessiva.

Isto, disse Wang, é propício à transição política antecipada pelo Talibã e outras forças políticas do país, à estabilização da situação doméstica no Afeganistão e à redução do impacto de refugiados e imigrantes.

A China está disposta a continuar desempenhando um papel construtivo no assunto afegão sem interferir em seus assuntos internos, afirmou Wang.

Wang observou que há alguns sinais positivos recentemente no baixo nível dos laços sino-britânicos e que a China concorda com uma observação de Raab de que deveria ser cooperação, em vez de divergência, a definição das relações bilaterais.

Wang acrescentou que a premissa da cooperação entre países é o respeito mútuo, sobretudo nos respectivos caminhos de desenvolvimento e preocupações essenciais. Ao mesmo tempo, deve-se empreender uma cooperação mutuamente benéfica de maneira aberta e inclusiva com o fim de fortalecer gradualmente a estabilidade e a previsibilidade dos laços bilaterais, disse.

Wang enfatizou que a solidariedade continua sendo a principal prioridade de todos os países na luta contra a COVID-19 e que o rastreamento das origens é uma questão científica que não deve ser sequestrada pela política, acrescentando que também é inaceitável ignorar ou inclusive anular as conclusões e sugestões do relatório do estudo conjunto China-OMS por conta de demandas políticas.

Wang disse que a China está disposta a fortalecer continuamente a comunicação com a parte britânica em áreas relacionadas à vacinação, tratamento e rastreamento das origens, a fim de contribuir conjuntamente à segurança da saúde humana.

Wang indicou que recentemente se registrou com frequência uma tendência "panpolítica" na comunidade internacional em que alguns tentam inclusive "politizar" os esportes e exagerar o "boicote" aos Jogos Olímpicos de Inverno de Beijing 2022, acrescentando que isto é uma grave violação à Carta Olímpica e aos direitos dos atletas.

Ele assinalou que acrescentar a palavra "juntos" ao lema olímpico reflete um rumo correto da causa olímpica, e que a China dá as boas-vindas aos atletas britânicos para que tenham melhores desempenhos nos Jogos Olímpicos de Inverno de Beijing. A China, junto com outros países do mundo, está disposta a organizar uma edição simples, segura e maravilhosa dos Jogos Olímpicos de Inverno.

Raab felicitou os atletas chineses pelos impressionantes resultados obtidos nos Jogos Olímpicos de Tóquio, concordando que os esportes não devem ser politizados. Assinalou que o Comitê Olímpico do Reino Unido tomará uma decisão independente sobre a participação dos atletas britânicos nos Jogos Olímpicos de Inverno de Beijing.

A parte britânica também acredita que a cooperação internacional contra a pandemia não deve ser politizada, disse Raab, acrescentando que o Reino Unido está preparado para desenvolver relações bilaterais positivas com a China, e para aprofundar a cooperação mutuamente benéfica nas áreas de economia, finanças e saúde.

Raab também concordou que a comunidade internacional deve resumir a experiência e lições sobre a questão afegã, dizendo que o país não deve tornar-se de novo um epicentro do terrorismo.

A comunidade internacional deve cooperar no tema dos refugiados afegãos, disse Raab, indicando que o Reino Unido anunciou que aceitará 20 mil refugiados afegãos e que está preparado para aumentar a assistência humanitária e a assistência ao desenvolvimento para o Afeganistão em apoio às Nações Unidas com o fim de ajudar os países vizinhos do Afeganistão a aceitar refugiados afegãos.

O Reino Unido e a China podem fortalecer a coordenação sobre a questão afegã, disse Raab.