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Embaixador de Portugal em Beijing: União Europeia espera continuar a trabalhar com a China na defesa do multilateralismo

Fonte: Diário do Povo Online    15.01.2021 10h10
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Portugal assumiu a presidência rotativa do Conselho da União Europeia no dia 1º de janeiro. Numa entrevista exclusiva concedida ao Diário do Povo Online, o embaixador português em Beijing, José Augusto Duarte, afirmou que a União Europeia defende um sistema internacional baseado em regras, promoção do diálogo e cooperação. Segue-se o texto integral da entrevista.

Diário do Povo Online (DPO): No ano de 2020 em que a pandemia de Covid-19 mudou o mundo, a China apresentou a proposta de estabelecer uma comunidade de saúde comum. Para o embaixador, que importância Portugal atribui à sua relação com a China, após ambos países cooperarem no combate à pandemia? Em que domínios existe margem para aprofundar as relações bilaterais?

José Duarte: Portugal e a China conhecem-se há mais de 500 anos, partilhando uma História marcada pelo diálogo e pela paz. Olhando para o futuro estou certo que continuaremos a cooperar em áreas de interesse comum, que permitam o reforço de uma relação bilateral equilibrada, não apenas mutuamente vantajosa mas na qual possamos em conjunto trabalhar nos valores do multilateralismo. Por isso, acho que podemos e devemos reforçar as trocas comerciais e de investimento mas também nos intercâmbios culturais que nos permitem conhecermo-nos melhor mutuamente e, claro está, continuando um contacto institucional político-diplomático constante no qual possamos consolidar todos os avanços que vamos tendo no nosso relacionamento.

DPO: A China e a União Europeia assinaram recentemente um acordo de investimento, após 7 anos de negociações intensas. Na perspetiva de Portugal, qual é o significado do acordo para as duas partes?

José Duarte: A conclusão das negociações do acordo de investimento entre a União Europeia e a China é o culminar de um longo processo e permite-nos encarar com renovada confiança o futuro do nosso relacionamento económico, ao criar um regime com mais abertura, mais estabilidade, mais previsibilidade e mais segurança. Estes são aspetos fundamentais para o reforço do investimento e para o desenvolvimento de uma relação comercial mais equilibrada entre a China e a União Europeia. O Acordo marca seguramente um novo patamar, uma nova fase, no relacionamento entre a União Europeia e a China.

DPO: Portugal acaba de assumir a presidência do Conselho da União Europeia. Que oportunidades podem resultar da liderança portuguesa para a cooperação UE-China e Portugal-China? Qual será o maior desafio para Portugal? De que modo pode Portugal pode contribuir para a recuperação da economia europeia?

José Duarte: Como já anunciado pelo Primeiro-Ministro de Portugal António Costa, são três as grandes prioridades da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia: recuperação económica, apostando nas transições climática e digital e assim contribuindo não apenas para ultrapassar os efeitos da crise causada pela pandemia, mas também para criar as bases de uma economia mais moderna e resiliente; concretização do Pilar Social da União Europeia, assegurando uma transição climática e digital justa e inclusiva, garantindo que “ninguém fica para trás” e valorizando o modelo social europeu; reforço da autonomia estratégica de uma Europa aberta ao mundo. Em todos estes domínios a cooperação com a China é importante: no combate às alterações climáticas, em linha com os ambiciosos compromissos assumidos pelo Presidente Xi Jinping, na defesa do multilateralismo e das Nações Unidas ou na promoção do comércio livre, justo e equitativo.

DPO: O primeiro-ministro António Costa propôs um plano de recuperação econômica com enfoque nas mudanças climáticas e na transformação digital. A China, por seu turno, propôs que as emissões de carbono atingissem o seu pico em 2030 e a neutralidade até 2060. De que forma Portugal e a União Europeia estão encarando o desafio das mudanças climáticas? Em que medida existe margem de cooperação entre a UE e a China nesta matéria?

José Duarte: As alterações climáticas são um exemplo claro de que problemas globais requerem soluções globais. A União Europeia e a China partilham esta visão e estão disponíveis para trabalhar no cumprimento das metas do Acordo de Paris e assim garantirem um mundo com um modelo económico que seja sustentável para as gerações futuras. Os compromissos assumidos pela China foram saudados pela União Europeia. A Europa é igualmente ambiciosa e Portugal velará para que, durante a sua Presidência, os compromissos políticos já assumidos sejam transpostos em atos jurídicos que cimentem essa vontade de fazer mais, melhor e com maior sentido de urgência tendo em conta a rapidez das alterações climáticas em curso. Esta é uma luta comum, que nos deve unir a todos pelo bem comum e estou certo que 2021 será um ano em que todos – União Europeia, China, mas também outros países, como os EUA – trabalharão em conjunto para lidar com uma ameaça que não conhece fronteiras.


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