Por Beatriz Cunha
O presidente brasileiro sofre pressão dos Estados Unidos, que acusa o uso da tecnologia da Huawei, responsável pelo fornecimento de equipamentos para as futuras linhas da telefonia de quinta geração.
Entre os países a proibir à Huawei estão Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Índia e Japão. O Reino Unido impôs um teto de 35% na participação das redes, no entanto, segundo noticiou a Exame na segunda-feira (13), deve provavelmente ocorrer um banimento. A Alemanha, França e Espanha até o momento não restringiram a rede 5G da Huawei.
O Brasil ainda espera a decisão do presidente Bolsonaro, que deve discutir o assunto com o Ministério das Comunicações brasileiro.
“A eventual imposição de limitações a um fornecedor de equipamentos de telecomunicações perpassa diversos órgãos de governo para além do Ministério das Comunicações, como o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o Ministério da Economia e o Ministério das Relações Exteriores, cabendo a decisão final ao presidente”, segundo informou o ministério.
Nos bastidores, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, vem demonstrando apoio aos EUA e oposição à China nas redes sociais. No entanto, o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão é contra a qualquer restrição à Huawei.
Mourão encontrou-se com o vice-presidente da Huawei quando esteve na China, em 2019, e defende que há um clima de confiança entre o Brasil e o país asiático.
A ministra da Agricultura, Teresa Cristina, teme que haja consequências diretas para o agronegócio brasileiro, já que a China é o principal destino das exportações de soja.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, defende que o Brasil tenha o fornecimento da chinesa Huawei, a sueca Nokia e a finlandesa Ericsson.
Sobre a acusação de espionagem dos EUA, Juarez Quadros, ex-presidente da Agência Nacional de Telecomunicações do Brasil (Anatel) e ex-ministro das Comunicações afirmou que “Todos poderiam espionar. A verdade é que temos de proteger as redes de telecomunicações e evitar situações de conflito. Então teríamos que impor salvaguardas que protejam o Brasil desse risco”.
Mesmo sob pressão norte-americana, o Brasil ainda não definiu a atuação da Huawei no Brasil. No entanto, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) já editou em março uma Instrução Normativa (IN) com requisitos mínimos para a 5G incluindo nas diretrizes a garantia da integridade, confidencialidade e privacidade, conforme noticiou a Exame.
As empresas de telecomunicações no Brasil são contra a restrição da atuação da Huawei no Brasil, uma vez que já atua no país há 20 anos.
Estima-se que a presença da empresa chinesa nas redes do país latino americano seja entre 40% a 50%. Sendo possível que grande parte da estrutura atual seja utilizada para a implementação da rede 5G.
O presidente da Comissão de Agricultura e das Frentes Parlamentares Brasil-China e dos Brics, deputado Fausto Pinato, defende que seja criada uma comissão para que haja transparência total do processo de 5G no país. “Temos que visar o que realmente seja o melhor pro Brasil”, defendeu Pinato.
O deputado enfatizou que a decisão não pode ser ideológica, nem deve ceder a pressões ou paixões. “Não podemos fazer algo só porque o Trump disse. O mesmo Trump que briga com a China comprou respiradores de lá e depois faltou para todo mundo. Não é briga nossa”, afirmou. “Vamos entrar nessa briga para não ganhar nada e ainda por cima prejudicar o agro?”, questionou Pinato.