"Duas Sessões" podem apontar caminhos para ampliar cooperação Brasil-China, diz embaixador brasileiro

Fonte: Xinhua    24.05.2020 09h56

Beijing, 23 mai (Xinhua) -- "O processo de desenvolvimento econômico da China apresenta reflexos positivos para a economia global. O Brasil e a China mantêm um bom relacionamento, em especial no plano econômico, baseados na busca de benefícios mútuos derivados da complementaridade das nossas economias", disse o embaixador do Brasil na China, Paulo Estivallet de Mesquita.

Às vésperas das "Duas Sessões", as sessões anuais da Assembleia Popular Nacional (APN) do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), o embaixador afirmou, em resposta por escrito a perguntas enviadas pela Xinhuanet, que, em razão dos impactos da Covid-19 na economia chinesa e do intenso relacionamento econômico-comercial entre o Brasil e a China, as medidas econômicas a serem anunciadas pela parte chinesa serão de especial interesse brasileiro. Segundo o diplomata, o Brasil prestará atenção especial às políticas para a retomada do crescimento econômico e para o fomento ao consumo interno na China, pois o país asiático é grande importador de matérias-primas e de alimentos do Brasil.

Em termos da cooperação sino-brasileira e de expectativas para o momento, Mesquita destacou a importância especial do ano 2019 no relacionamento bilateral. Segundo ele, já no primeiro ano do governo do presidente Jair Bolsonaro houve um calendário intenso de visitas, "sinal inequívoco do dinamismo e da solidez dos laços que unem o Brasil e a China", classificou.

Em maio de 2019, o vice-presidente, Hamilton Mourão, visitou Beijing e realizou a quinta reunião do principal mecanismo de reunião bilateral, a Comissão Sino-Brasileira de Cooperação e Concertação (Cosban). Em julho do mesmo ano, o conselheiro de Estado e ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, visitou o Brasil e realizou, junto ao ministro das Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo, a terceira reunião do Diálogo Estratégico Global, principal mecanismo de coordenação política entre os dois países. Em outubro, Bolsonaro fez visita de Estado à China, quando manteve encontros com o presidente chinês, Xi Jinping, e com o primeiro-ministro Li Keqiang.

Segundo o embaixador, em que pesem as circunstâncias peculiares do ano 2020, há espaços para a intensificação da cooperação bilateral. Para o diplomata, na área de agricultura, o Brasil poderá aumentar sua oferta de produtos alimentares de qualidade, como carnes e grãos, aos consumidores chineses. Além disso, afirmou, também seria possível discutir medidas concretas para ampliar a diversificação do comércio bilateral.

COOPERAÇÃO EM SAÚDE

Na área de saúde, Mesquita apontou que a China vem fornecendo ao Brasil equipamentos de proteção individual, respiradores pulmonares e kits-teste para detecção da Covid-19, mas há espaço para melhorar a cooperação.

O embaixador lembrou que diversas empresas e associações brasileiras fizeram doações à China durante os momentos mais sérios da pandemia no país asiático. E ressaltou que gestos semelhantes estão ocorrendo, agora, no sentido inverso, com entidades chinesas doando materiais médicos para suas contrapartes no Brasil.

Mesquita destacou ainda que governos e empresas do Brasil têm também adquirido equipamentos médico-hospitalares -máscaras, roupas e óculos de proteção, kits-teste e respiradores pulmonares- na China. Apenas o governo federal brasileiro, afirmou o diplomata, prevê o envio de 42 aeronaves de grande porte para buscar na China insumos médicos. Para ele, a cooperação deve ser fortalecida de forma solidária, transparente e construtiva.

RECUPERAÇÃO PÓS-PANDEMIA

Segundo o embaixador, ainda é muito cedo para avaliar o impacto da epidemia na economia mundial. Isso porque, a propagação do vírus tem ocorrido a velocidades diferentes em cada país e, portanto, afetado as economias de maneira desigual. Mesquita lembrou que há países que adotaram o lockdown estrito, como foi o caso da própria China, mas também há países que adotaram medidas mais flexíveis em função de circunstâncias locais. Para o diplomata, tais fatores geram impactos significativos e desiguais sobre a oferta e a demanda agregada e, como resultado, alteraram a demanda externa por bens e serviços.

Já quando pensa nas transformações em curso na sociedade e na economia chinesas, estas são acompanhadas com admiração e interesse em todo o mundo, segundo ele. Mesquita destacou o fato de o processo de crescimento econômico ter retirado da pobreza mais de 700 milhões de pessoas em poucas décadas, com impacto positivo para o povo chinês e para o resto do mundo. "O crescimento econômico não é um fim em si mesmo. Ele deve ter sempre como objetivo último a melhoria das condições de vida da maioria da população. Esta é uma lição que o Brasil e a China compartilham e repetem ao mundo."

Voltando a falar especificamente sobre a China, disse o embaixador, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), desde 2008 a China respondeu por cerca de 30% do crescimento mundial. Como não poderia deixar de ser, ponderou ele, este é um tema que o Brasil acompanha com interesse e, neste processo, busca focar na ampliação e diversificação do comércio bilateral e dos fluxos de investimento.

FUTURO DA COOPERAÇÃO BILATERAL

Mesquita garantiu que o Brasil tem visto com grande interesse as ações da China em ampliar as importações. Eventos inovadores como a Exposição Internacional de Importação da China, segundo o diplomata, chamam a atenção por promover uma plataforma onde os produtores estrangeiros podem ofertar seus produtos para o grande público chinês. É uma iniciativa que sinaliza o desejo da China em aprofundar relações mutuamente benéficas com outros países.

Além disso, o embaixador afirmou que tem trabalhado com autoridades chinesas para ampliar o acesso de produtos agrícolas brasileiros ao país asiático, lembrando que o Brasil é um provedor seguro e confiável de produtos alimentares de alta qualidade para o consumidor chinês.

A fim de dar mais vigor à relação sino-brasileira, Mesquita também disse que o Brasil acompanha com grande interesse as reformas regulatórias que a China tem implementado para permitir investimentos estrangeiros em mais setores.

Falando especificamente sobre o Brasil, o embaixador brasileiro comentou que o país sul-americano está em fase de finalização dos preparativos do leilão de 5G, que deverá ocorrer nos próximos meses, uma vez que já terminou a fase de consulta pública. Segundo o diplomata, espera-se que para o final de 2021 ou início de 2022 seja possível fazer o lançamento comercial do 5G no Brasil.

Ele destacou que no campo da cooperação tecnológica e científica, o Brasil aumentou as atividades na área de startups e parques tecnológicos, especialmente no âmbito do BRICS.

Em termos das relações bilaterais, o embaixador disse que está prevista para o segundo semestre deste ano uma série de atividades, por meio remoto, entre fintechs do Brasil e da China, aproximando essas empresas para a identificação de oportunidades e, após o restabelecimento de frequência regular de voos, facilitar o intercâmbio direto nesse setor. Uma outra linha de trabalho, comentou o diplomata, é o setor de inteligência artificial, em que a embaixada brasileira tem trabalhado para promover contatos. "Temos adiantado contatos e estabelecido pontes para que entidades brasileiras e chinesas possam iniciar cooperação nessa área."

(Web editor: Fátima Fu, editor)

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