Português>>Opinião

Poderá o Brasil se tornar o próximo foco principal da pandemia?

Fonte: Diário do Povo Online    18.05.2020 10h15

Nelson Teich anunciou a sua demissão no dia 15 de maio e se tornou o segundo ministro da Saúde a abandonar o cargo no Brasil no espaço de um mês.

O primeiro caso do novo coronavírus foi diagnosticado no Brasil no final de fevereiro, no entanto, o número de casos continua em ascensão. Desde o dia 13 deste mês, foram detetados diariamente 10,000 novos casos. À noite do dia 16, o número acumulado de casos no Brasil atingira os 233, 142, ultrapassando a Espanha e Itália, tornando o quarto país com o maior número de casos no mundo. Enquanto isso, 816 novas mortes foram registradas no país, fazendo o número ascender às 15633 fatalidades.

Vários especialistas e acadêmicos acreditam que o Brasil se poderá tornar no próximo principal foco mundial.

De acordo com os dados mais recentes, no dia 16, o número total de mortes por Covid-19 no Brasil aproximava-se das 16,000 - o 6º país com mais mortes no mundo. Em retrospetiva, face à chegada do vírus na América do Sul, a resposta do Brasil não foi rápida. Os países nas redondezas tomaram medidas resolutas no início, mas o Brasil ignorou a evolução da situação, sob justificação de que os casos haviam sido importados do exterior. Foi apenas durante o mês de março que duas das maiores cidades do país, São Paulo e o Rio de Janeiro, experienciaram cadeias de transmissão comunitária.

Vários membros do governo brasileiro que visitaram os EUA viriam a testar positivo e os estados começaram a tomar ações concretas, designadamente o confinamento. O governo brasileiro isolou completamente as fronteiras a 30 de março e começou a apelar ao uso de máscara no início de abril.

A princípio foram as grandes cidades brasileiras a ser afetadas, porém o vírus chegou já a municípios menos desenvolvidos e às favelas. No presente, cerca de 20 cidades brasileiras estão em estado de confinamento e vários outros municípios têm medidas semelhantes já em agenda. O maior número de casos confirmados está concentrado no estado de São Paulo, com mais de 60,000 casos. O isolamento do estado é uma medida ainda em discussão. De fato, o nível de isolamento das pessoas no estado não é o ideal. No dia 15, apenas 47% dos residentes cooperaram com os requisitos previstos para o isolamento. O governo estadual acredita que, para controlar eficientemente a propagação do vírus, o grau da quarentena tem de ser pelo menos de 55% e, idealmente, 70%.

O Brasil é uma república federativa, sendo que cada estado tem o direito de decidir as medidas preventivas. As diferenças existentes entre o presidente Bolsonaro, o ministro da Saúde e os governadores dos estados se tornaram o foco de atenção no Brasil e na comunidade internacional. A escolha entre a saúde e a economia tem sido a razão para a discórdia na liderança brasileira.

Nelson Teich anunciou a sua demissão no dia 15 de maio e se tornou o segundo ministro da Saúde a abandonar o cargo no Brasil no espaço de um mês. O mandatário anterior, Luiz Henrique Mandetta, foi afastado por Bolsonaro no mês passado. Os dois ministros deixaram seus cargos por não conseguirem atingir um consenso com o presidente na elaboração de uma política de combate à epidemia.

Bolsonaro é contra o confinamento e, mais ainda, contra o isolamento de cidades. Ele acredita que apenas os mais velhos devem ficar confinados em casa e que as medidas de quarentena comprometem a economia nacional. Porém, os dois ministros da saúde e a maioria dos governadores intercedem pelo isolamento, acreditando que é a medida mais eficaz.

A demissão de Teich chocou os mercados brasileiros. No dia 15, a moeda brasileira, o real, voltou a depreciar. Desde o início deste ano, o real depreciou mais de 47% face ao dólar, se tornando uma das divisas a mais depreciar face ao dólar durante este período.

O ministro da Economia previu no dia 13 que, devido ao impacto da epidemia, o PIB brasileiro irá cair 4,7% este ano. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, se tal previsão estiver correta, o Brasil irá sofrer a maior recessão econômica dos últimos 120 anos. O Ministério da Economia apontou também que a previsão foi “calculada com base nas medidas de isolamento social até o final de maio. Se estas medidas continuarem sendo extendidas, o impacto direto e indireto na economia brasileira continuará a se expandir”. 

0 comentários

  • Usuário:
  • Comentar: