Por Lurdes Escaleira, professora no Instituto Politécnico de Macau
MACAU, 5 de dez (Diário do Povo Online) - Assinalar o 40º aniversário do reatar das relações diplomáticas entre Portugal e a China e o 20º aniversário do retorno de Macau à China com a visita do Presidente da República Popular da China a Portugal é, sem dúvida, um claro sinal do dinamismo e da confiança que ambos os países conseguiram estabelecer entre si.
Assentes em laços históricos de inegável importância ao nível do contacto Oriente Ocidente, as relações entre Portugal e a China, mesmo após a transição administrativa de Macau, não esmoreceram, antes pelo contrário. Esta visita oficial do Presidente Xi Jinping a Portugal demonstra uma clara vontade de reiterar esse relacionamento, selando-o com encontros bilaterais ao mais alto nível das hierarquias nacionais.
Atrever-me-ia a afirmar que se trata, ainda, de um gesto de reafirmação das estratégias de criação da plataforma entre a China e os Países de Língua Portuguesa na qual Macau, pelas suas características próprias, adquiridas pelo seu passado histórico, é chamado a assumir um papel de catalisador das sinergias entre todas as partes.
É certo que as políticas e medidas criadas pelo novo contexto mundial têm no sector económico um pilar fundamental, mas a cooperação não se resume apenas ao comércio e aos negócios, estendendo-se, igualmente, às trocas culturais e ao ensino. No que se refere ao ensino, a formação de quadros bilingues, português-chinês, é uma aposta que tem dado frutos muito significativos, expressos no aumento exponencial de instituições de ensino superior a lecionar cursos de língua e cultura portuguesas e de tradução e interpretação em Macau e no resto da China, e no aumento progressivo do número de alunos a frequentar esses cursos. Também em Portugal surgiram cursos de tradução e interpretação chinês-português e cursos de chinês lecionados com o apoio dos institutos Confúcio, nas universidades, em escolas básicas e secundárias, associações, etc.
Existe hoje um panorama estudantil assente em estratégias que possibilitam aos alunos portugueses e chineses ingressar em cursos lecionados em Portugal, na RAEM e no resto da China. As oportunidades de mobilidade de estudantes e docentes são diversificadas e constituem uma mais-valia, resultando em quadros qualificados, não só profissionalmente mas, sobretudo, com vivências em ambientes multiculturais, o que irá permitir uma maior convivência e interajuda entre os povos do mundo lusófono.
Numa época na qual, em termos económicos, é cada vez maior a globalização e interdependência, e onde se exige recursos humanos altamente qualificados e capazes de atuar em qualquer parte do planeta, o valor do domínio linguístico é, paralelamente, um recurso que contribui para estabelecer relações mais sólidas, baseadas no entendimento, na confiança e na cooperação mútua, trazendo benefícios acrescidos para as partes envolvidas.
Estou certa que esta visita irá trazer novas ideias e importantes decisões que irão permitir aceder a patamares cada vez mais elevados na cooperação bilateral e multilateral, e desejo que as áreas da cultura e do ensino saiam reforçadas após estes encontros ao mais alto nível.