Português>>China

Caminhos do churrasco brasileiro até a China

Fonte: Xinhua    09.01.2018 14h49

Por Janaína Camara da Silveira

Beijing, 9 jan (Xinhuanet) -- O churrasco brasileiro é o prato mais famoso na China, que em mandarim se diz “baxi kaorou” (巴西烤肉). Uma especialidade que se encontra em várias cidades chinesas, principalmente Beijing e Shanghai, servida em espetos, como no Brasil, trazidos pelos garçons até a mesa.

A variedade de cortes e carnes, muitas vezes, é menor do que nas churrascarias brasileiras. Mas o que mais chama a atenção nos restaurantes chineses é a diferença no tamanho das fatias que vêm ao prato. Na China, são bem mais finas do que as servidas no Brasil, especialmente devido aos hábitos chineses na hora de comer a carne: em geral, ingerem menos do produto que os brasileiros.

Mas uma rede de churrascarias tem um estilo mais semelhante ao dos restaurantes brasileiros, a Latina. Com presença em cidades como Beijing e Shanghai, o segredo é simples: sempre há brasileiros nos restaurantes, especialmente na cozinha e na churrasqueira.

São os chefs com experiência que ensinam aos funcionários chineses como preparar a carne ao estilo brasileiro. Mas não apenas ela, pois a Latina mantém um buffet diariamente com outra mania dos brasileiros: o feijão com arroz. No domingo, aliás, o feijão vira feijoada, um jeito mais demorado e elaborado de preparar o grão preto. Feijão com arroz no Brasil é mania nacional e a comida mais comum nas mesas, sejam estas das famílias mais ricas ou mais pobres.

A história da Latina na China começou há 20 anos, graças a investidores chineses que, em visita ao Japão, haviam conhecido a rede de churrascarias Bacana, sucesso em bairros de Tóquio. O empreendimento por lá tinha raízes brasileiras, mas era de japoneses. E é aí que a história se torna ainda mais interessante.

A Bacana nasceu graças de um migrante japonês que havia vivido no Brasil por algumas décadas, mas já de volta à terra natal. Aliás, no período no Rio de Janeiro, abriu o primeiro restaurante japonês em terras cariocas. No Japão, aproveitou a experiência com gastronomia para inaugurar a primeira churrascaria em terras nipônicas. Logo, atraiu churrasqueiros do Rio Grande do Sul, a terra conhecida pela qualidade da carne assada. E o filho, Jun Taichi, nascido no Brasil, mas à época acompanhando os pais no Japão, logo passou a se dedicar ao projeto.

Foi Jun quem aceitou vir à China abrir a primeira Latina, em Shanghai. Com ele, vieram churrasqueiros que até hoje estão no país, alguns como sócios, outros como gerentes em outras redes e alguns até com negócios próprios: “mas sempre mantivemos a amizade e o contato”, afirma Jun.

A churrascaria atrai a clientela brasileira, mas muitos chineses também. Ao meio-dia, inclusive, durante os dias de semana, se pode optar apenas pelo buffet que, além de ser uma opção mais econômica, é também menos calórica. Para fechar o cardápio de atrações, que não se resumem apenas à comida, a Latina mantém sempre atrações musicais. Em todos os restaurantes da rede, há músicos brasileiros. Samba, pagode, sertanejo e bossa nova, estilos genuinamente brasileiros, estão no repertório.

Para atrair mais clientes, conta Jun, a Latina acabou incorporando muitos serviços oferecidos graças à economia digital, febre entre os usuários chineses. Segundo o sócio do restaurante, grande parte dos frequentadores chineses são atraídos pelos cupons de desconto oferecidos nos principais aplicativos sobre gastronomia e restaurantes da China.

Outra modalidade para fidelizar a clientela é o oferecimento do cartão VIP, num modelo que no Brasil se chamaria de “refeição pré-paga”. Dependendo do montante injetado em um cartão (em modo físico, a exemplo dos cartões de débito), o cliente amplia o desconto oferecido por refeição: “é a principal ferramenta para manter os clientes, que preferem gastar mais de uma vez e ter a oportunidade de voltar pagando menos ou até oferecendo almoços ou jantares a grandes grupos”, explica Jun. Hoje, 70% do público já é chinês, assegura o sócio.

0 comentários

  • Usuário:
  • Comentar: