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“Se fosse como no futebol, a China seria a Champions League da cozinha”, defende chef internacional

Fonte: Diário do Povo Online    30.08.2017 10h23
“Se fosse como no futebol, a China seria a Champions League da cozinha”, defende chef internacional
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Por Andreia Carvalho e Rita Zhang

Internacionalmente conhecido como Chakall, Eduardo Andrés Lopez, de origem argentina, é um conceituado chef de cozinha a nível mundial.

Além de cozinheiro, Chakall é também jornalista, modelo, viajante e escritor. Em Portugal, para além dos restaurantes dos quais é proprietário, foi protagonista de vários programas, entre os quais: “Sabores Divinos”, “Chakall & Pulga”, “Com uma pitada de Chakall”.

O sucesso parece perseguir o nosso entrevistado. Não somente pelos restaurantes que tem espalhados pelo mundo, mas também pelos livros publicados e a participação em vários programas televisivos, em vários países, dos quais a China não é exceção.

Em 2007, durante a apresentação em Londres do primeiro livro em nome próprio, galardoado com o prémio de melhor livro de cozinha do mundo, Chakall foi convidado a participar no programa chinês “Sabores da Rota da Seda” (丝绸之路上的美食). Mais tarde viria a participar, num outro, traduzido livremente para “Pauzinhos Andantes” (行走的筷子).

De breve passagem por Beijing durante o mês de agosto, para demonstrar algumas receitas de autoria própria, recorrendo ao uso de ingredientes portugueses, Chakall conversou com o Diário do Povo Online sobre a sua experiência na China.

“A língua é terrível. É uma barreira enorme!”, afirmou, imediatamente após ser questionado sobre as principais dificuldades de abordar o país. “Em grandes cidades, não há grandes problemas. Mas em cidades do interior é dramático. Estive 6 horas sem tradutor e senti-me totalmente perdido”, recorda.

Apesar das dificuldades de comunicação, o chefe argentino acredita que “a cozinha tem uma linguagem universal, o que facilitou um pouco”.

Portugal e a China são geográfica e culturalmente distantes. As diferenças fazem-se sentir também a nível gastronómico. Uma diferença fundamental, ressalta, é a forma de comer. “Nós comemos com talheres, os chineses com pauzinhos (…) o que influencia a fisiologia do prato”.

Os sabores são igualmente diferentes, explica. “Falando de comida, em Portugal, de norte a sul, a gastronomia varia. Falar da cozinha chinesa é falar de um mundo”.

Relativamente aos sabores mais emblemáticos de Portugal, Chakall nomeou “o alho, azeite e limão, no norte com salsa e no sul com coentros”, sem esquecer “o bacalhau — comer bacalhau é pensar em Portugal. Comer um bom cabrito, no norte. As ameijoas à Bulhão Pato no Algarve. As caracas, o melhor marisco do mundo, que só há nos Açores. O salmão, de Setúbal…”. Ao falar da China, por sua vez, os sabores que considera mais paradigmáticos são o agridoce e o dim sum do sul do país, o Pato à Pequim e o picante de Sichuan e Chengdu.

“Se fosse como no futebol, a China seria a Champions League da cozinha”, graceja, justificando que “a cozinha da Europa está a anos luz da culinária chinesa. Qualquer chefe ocidental com estrelas Michelin entra num supermercado chinês e só sabe cozinhar com 10% dos produtos”.

Atribuindo a incomparabilidade da técnica chinesa aos 5000 anos de história do país, Chakall salientou ainda que a gastronomia chinesa tem uma particularidade: “Está bastante relacionada com a saúde. Nós (ocidentais) comemos pela sobrevivência e prazer, os chineses comem para ter saúde e por prazer”.

A sua participação em programas na China foi uma oportunidade única. “Sendo jornalista de formação, juntei o útil ao agradável. Tudo foi ótimo. Conhecer a cozinha, viajar com uma equipa chinesa, visitar regiões onde nunca tinham visto um ocidental, que nunca falaram outro idioma que não o deles”.

O programa chinês “Sabores da Rota da Seda”, exibido na televisão chinesa em 2010, distava ainda alguns anos da Iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota”, que Xi Jinping viria a anunciar em 2013. O projeto, que objetiva o desenvolvimento conjunto dos países ao longo da antiga rota comercial transnacional, visa também impulsionar o intercâmbio pessoal entre os países.

Neste sentido, Chakall denota que “a gastronomia, se bem utilizada, é algo maravilhoso. A comida junta as pessoas à mesa. É uma forma de unir as pessoas e as culturas. Estando ligadas à gastronomia as pessoas são mais tolerantes. Sabem que, por exemplo, os hindus não comem carne de vaca e os muçulmanos ou judeus não comem carne de porco. Há um maior entendimento e relacionamento cultural”.

Como viajante, Chakall já quase não tem nomes na lista de países a visitar. “Gosto de países com culturas totalmente diferentes da minha. A parte bonita do mundo é sermos diferentes”.

As suas passagens pela China foram sempre gratificantes, afirmou, acrescentando que “se mantivermos a mente aberta, todos os dias somos influenciados. É uma forma de crescer”.

Sessão rápida de pergunta&resposta sobre a China:

Região favorita da China: Gansu e Mongólia Interior

Prato preferido: Borrego, em Ningxia

Local que ainda não teve oportunidade de visitar na China: Macau

Prato mais estranho que já provou na China: rato

Prato chinês que menos gostou: pepino do mar

Especialidade chinesa que ainda não provou: carne de cão 

 


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