Por Mauro Marques
“Fomos simples como as pombas, prudentes como as serpentes”. Foi com estas palavras que Fernando Santos, o timoneiro luso, descreveu a campanha portuguesa ao longo do Euro 2016, que culminou ontem com o tão ansiado primeiro título da seleção das quinas.
O jogo foi marcado por várias incidências, sendo porventura a mais assinalável o abandono do capitão da seleção portuguesa, Cristiano Ronaldo, ainda no início do encontro, devido a uma violenta entrada de Payet ao seu joelho esquerdo. Ronaldo tentou manter-se em campo após a colocação de ligaduras no joelho, mas tal não foi possível, tendo o astro português abandonado o relvado inconsolável.
A jogar no Stade de France, em plena capital gaulesa, não se agourava um final feliz para Portugal, que após um início fatídico perdia a sua estrela. Porém, os lusos resistiram e reagiram ao seu fado, tendo conseguido apresentar, apesar das circunstâncias, um futebol reativo e solidário, provando que há mais equipa para lá de CR7. O capitão, já fora das quatro linhas, assumiu a função de treinador adjunto no banco, onde esteve incansável a apoiar os colegas.
Ao longo da partida, a seleção portuguesa jogou visivelmente mais recuada, fazendo face à assertividade francesa, encabeçada pelo endiabrado Sissoko e pelo carrasco da Alemanha, Antoine Griezmann.
Resistindo estoicamente durante os 90 minutos regulamentares, a equipa lusitana forçou uma vez mais o encontro para os 30 minutos de prolongamento, onde veio a desferir o “golpe da serpente”. Fernando Santos lançara Éder para o lugar de Renato Sanches, e foi precisamente o primeiro que veio, após um remate certeiro a 30 metros da baliza, colocar a bola no fundo das redes de Lloris, para gáudio de milhões de portugueses e apoiantes da seleção das quinas.
Frequentemente criticado pela massa adepta portuguesa, Éder entrou para os anais do futebol português ao lacrar o feito que passara ao lado de lendas como Eusébio, Chalana e Figo. “O patinho feio tornou-se bonito”, disse Fernando Santos com regozijo no final do encontro, numa metáfora que descreve não só o mal-amado atleta como o próprio coletivo.
Pepe realizou outra exibição de luxo enquanto pilar intransponível do centro da defesa portuguesa, tendo sido premiado pela UEFA como o melhor jogador do encontro.
Renato Sanches, por sua vez, foi eleito como o melhor jogador jovem do campeonato europeu. O jogador recém-contratado pelo Bayern Munique é também o mais jovem jogador a marcar presença numa final e a vencer o campeonato da Europa.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, assistiu à partida fervorosamente e, em declarações à estação televisiva RTP, disse: “Estou a elogiar tudo. A forma como ganhámos num ambiente hostil e deram enorme alegria a esta gente que estava a vibrar e aos que vivem aqui e a alegria que vão ter amanhã quando aparecerem nos empregos como campeões europeus. Nós somos o máximo”
Está marcada para segunda-feira uma cerimónia de condecoração, no Palácio de Belém, onde o presidente deverá galardoar os jogadores com o grau de comendador da ordem do mérito.
A comunidade portuguesa na China reuniu-se também em Beijing, Shanghai e Macau para assistir e celebrar a vitória da seleção.