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À conversa com Samuel Pascoal, vencedor do concurso de língua chinesa “Chinese Bridge” em Portugal (4)

Fonte: Diário do Povo Online    06.06.2016 09h14
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A fusão de estilos dramatúrgicos

Samuel Gomes e Nie Quan, conselheiro político da Embaixada da China em Portugal

Quando inquirimos o Samuel relativamente à experiência de representar num idioma estrangeiro, para um júri estrangeiro, este respondeu de forma curiosa: “Imagina o que é um chinês entrar para um palco e começar a recitar um canto dos Lusíadas de memória, perante uma plateia de portugueses. Não será muito diferente para um chinês. Segundo a minha tutora, não existem muitos chineses que sejam capazes de declamar este poema de memória. Como ator, quando representas em outras línguas, principalmente quando se trata de uma língua extremamente exótica, é… incrível. Sentes-te… único. Nesse sentido é delicioso. Para conquistar uma plateia, enquanto ator, não podes apenas expelir sons. Tens de os sentir para dares veracidade a tudo que fazes em palco. Foi a minha primeira vez a representar um poema deste calibre para uma plateia chinesa e, portanto, estava ansioso. Nunca tinha feito algo tão ambicioso, e sabia que era a cultura nativa do meu público que estava em jogo. Ainda por cima tratando-se de uma referência como o Li Bai.”

Esta novidade, de facto, como o próprio veio a descobrir por coincidência, não se cingiu unicamente ao contexto português. Como nos explica, a tradição chinesa de declamação é bastante inflexível, não compreendendo, por norma, o recurso ao movimento e a uma expressividade corporal excessiva: “Eu na altura não me apercebi de que estaria a fazer uma inovação. Para mim, como ator, declamar um poema no qual se acrescenta o movimento é algo normal. Pelos vistos, à face dos chineses, não é muito comum. Eles têm o cânon de declamar poesia de forma estática. O facto do sujeito poético no Qiang Jin Jiu estar embriagado, permitiu-me fazer vários movimentos enérgicos que chamaram a atenção do público. Acho que consegui aí causar uma boa impressão, principalmente por dar uma nova abordagem ao poema”.

Já no teatro as regras são outras… “A imediata diferença que encontramos tem a ver com o facto de o teatro ocidental ter uma raiz de teatro falado e o teatro oriental ter uma tradição de teatro de corpo. É por isso que todas as formas tradicionais de teatro que encontramos, quer no Japão, quer na China, enfatizam a expressividade corporal. Desde a ópera de Pequim, ao estilo ‘Bianlian’ de Sichuan, ao ‘Kunqu’ (ópera do sul da China)... O teatro na China é predominantemente de expressividade corporal. Só mais tarde, no séc. XIX, é que surge o teatro de estilo ocidental na China. Vários chineses viajaram para a Europa, para aprenderem técnicas de teatro ocidental, e depois voltaram à China para criarem as suas peças. O conceito de teatro, em português, tem uma conotação diferente do equivalente em chinês. Até há bem pouco tempo achava que ‘xiju’ era uma palavra abrangente. Não é. Xiju relaciona-se com o canto, com o teatro cantado. ‘Wutaiju’ é a palavra que usam para teatro no sentido geral, e ‘huaju’ é a que os chineses usam para teatro dialogado. Foi este mesmo estilo teatro que despertou a minha curiosidade, o huaju.”


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