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À conversa com Samuel Pascoal, vencedor do concurso de língua chinesa “Chinese Bridge” em Portugal (3)

Fonte: Diário do Povo Online    06.06.2016 09h14
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As artes performativas e a comunicação intercultural

A certa altura o Samuel compreendeu que estaria perante uma oportunidade: “Compreendi que poderia haver aqui uma junção. Foi por isso que entre 2010 ou 2011, sensivelmente, integrei, com o apoio do Instituto Confúcio da Universidade do Minho, ao qual estou ainda afiliado, várias atividades de promoção da língua e cultura chinesas relacionadas com as artes de representação. Foi quando terminei a licenciatura em Estudos Orientais e ingressei no mestrado de teatro que tive o primeiro vislumbre de que podia realmente fazer essa junção entre os estudos asiáticos e o teatro. Ou seja, fazer uma investigação de teatro do extremo oriente, pois reparei que em Portugal isso não existia a um nível aprofundado.”

Foto por Gabriel da Silva

O entrevistado refere uma escassez de “tradutores e pesquisadores versados na língua e na cultura daquela área geográfica, que ao mesmo tempo tenham qualificações no mundo das artes”.

Para ele, devido à falta de pessoas com este perfil profissional “…será mais difícil trazer conteúdos daquela região até ao público. Ao que aparenta, em Portugal, pouquíssimos espetáculos de repertório dramático chinês foram realizados. O público não dispõe disso. Eu encaro essa questão com seriedade. Todas as pessoas que estudam chinês em Portugal acabam como professores, tradutores, ou em contexto empresarial. Mas nunca vi, pelo menos até à data, alguém que fizesse a fusão da língua com a arte. Seja no que for. Isto é para mim muito desafiante. Faz-me sentir pioneiro. Mas o facto de ser pioneiro dá-me também uma responsabilidade acrescida. Porque tudo começa aqui. O futuro é incerto”.

Aquilo a que se refere como “uma postura de inércia” por parte das entidades responsáveis em Portugal, alimentam a ambição e a audácia do jovem ator: “Em Portugal, parece que todo o repertório dramático que conhecemos começa na América, passa pela Europa e termina na Rússia. Não há virtualmente mais nada…Tal como existem romances de outros países que nos permitem compreender a nação a fundo, é óbvio que a tradução de peças chinesas nos dão também a possibilidade de compreender melhor o seu povo. É uma descoberta de materiais que poderão abrir novas perspetivas, novas visões e, neste caso, como estamos a falar de teatro, visões estéticas”.

Com efeito, o Samuel utilizou de forma inteligente uma das três secções do concurso - no qual os concorrentes têm que proferir um discurso perante o júri e a audiência - para fazer valer os seus argumentos: “Peças de teatro como aquelas compostas por Cao Yu - por acaso foi precisamente isto que referi no meu discurso - podem-nos ajudar a compreender melhor a China de hoje. Não só a de hoje, mas também a China da geração do próprio dramaturgo.”

Macau foi mencionado durante a entrevista como um possível catalisador da inversão da tendência anteriormente referida: “Apesar de tudo, vejo-me obrigado a referenciar aquilo que me parece ser um feixe de luz existente nesta troca teatral entre Portugal e China, que é a Mostra de Teatro dos Países de Língua Portuguesa em Macau. Este evento recebe espetáculos de companhias de teatro dos PALOP e, nesse âmbito, o teatro português pisa solo chinês, como já foi o caso da famosa companhia portuense Seiva Trupe, com o espetáculo “As mãos de Eurídice”, em 2015”.


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