Nassar é o 28º autor premiado e o 12º brasileiro a receber aquele que é considerado o mais importante prémio literário destinado a autores de língua portuguesa (Foto: Paulo Pinto/OperaMundi)
O escritor brasileiro Raduan Nassar ganhou nesta segunda-feira (30) o Prêmio Camões 2016, o mais importante prêmio literário destinado a autores de língua portuguesa.
O prêmio foi anunciado no fim da tarde pelo secretário de Estado da Cultura de Portugal, Miguel Honrado, após a reunião do júri, que sublinhou "a extraordinária qualidade da sua linguagem" e a "força poética da sua prosa".
"Através da fição, o autor revela, no universo da sua obra, a complexidade das relações humanas em planos dificilmente acessíveis a outros modos do discurso", diz a justificação do júri, acrescentando que "muitas vezes essa revelação é agreste e incômoda, e não é raro que aborde temas considerados tabu". O júri realça ainda "o uso rigoroso de uma linguagem cuja plasticidade se imprime em diferentes registos discursivos verificáveis numa obra que privilegia a densidade acima da extensão".
Com apenas três livros publicados – os romances Lavoura Arcaica (1975) e Um Copo de Cólera (1978) e o livro de contos Menina a Caminho (1994) –, a exiguidade da obra não impede que Raduan Nassar seja há muito considerado pela crítica um dos grandes nomes da literatura brasileira, ao nível de um Guimarães Rosa ou de uma Clarice Lispector.
Em Portugal, Raduan Nassar só começou a ser publicado em 1998, quando Um Copo de Cólera saiu na Relógio D'Água, que logo no ano seguinte editou também Lavoura Arcaica. No ano 2000, a Cotovia publicou Menina a Caminho e outros Contos.
Nassar é conhecido pela extrema raridade das suas aparições públicas, o que veio conferir um peso particular à sua presença, junto de Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, em Brasília, a 31 de março, no âmbito de um Encontro com Artistas e Intelectuais em Defesa da Democracia. "Os que tentam promover a saída de Dilma arrogam-se hoje, sem pudor, como detentores da ética mas serão execrados amanhã", afirmou então o escritor, citado pela Folha de S. Paulo. Embora o reconhecimento da qualidade do autor seja francamente consensual, esta sua recente intervenção vem também dar à sua escolha para o prêmio Camões deste ano uma inevitável dimensão política.
Instituído em 1988 pelos governos de Portugal e do Brasil, o prêmio Camões é atribuído a “um autor de língua portuguesa que tenha contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua comum”, diz o respectivo protocolo, na sua versão revista de 1999. O acordo obriga a que o prêmio seja alternadamente atribuído em território português e brasileiro, e a sua história sugere que tem também prevalecido a intenção de equilibrar o número de vencedores portugueses e brasileiros, bem como a preocupação de fazer representar as várias literaturas africanas.
Fonte: Portal Vermelho