À conversa com o professor Sérgio Santos: Sérgio老师(professor), a aventura na China (3)

Fonte: Diário do Povo Online    17.03.2016 10h46

O domínio da língua do país de destino é, para o Sérgio, uma ferramenta que em muito contribui para evitar muitas confusões, sobretudo quando a lógica é tão distinta. “Ao ensinar a expressão «apesar de», tive de ter cuidado, porque em chinês ela costuma ser agrupada com uma outra palavra equivalente ao «mas», ou seja, «apesar de…mas…» (虽然…但是…). No entanto, no português o «mas» não aparece numa construção frásica deste tipo. Este era um erro recorrente por parte dos alunos chineses e, o meu colega, que não dominava a língua chinesa, não compreendia o porquê… Eles estavam a usar a língua materna e transpor diretamente para o português, resultando num erro perfeitamente natural”.

Porém, nem tudo são vantagens: “Acho muito importante o professor dominar a língua do país de destino para facilitar a comunicação, embora não seja essencial. Por vezes o domínio da língua funciona como um ‘calcanhar de Aquiles’, pois os alunos evitam sair da área de conforto e utilizam sempre a sua língua nativa para comunicar com o professor…nestes casos o professor tem que estabelecer um conjunto de normas e exigir a utilização do chinês como último recurso”.

A cultura universitária na China é altamente competitiva e totalmente focada no mercado de trabalho. A existência de clubes (debate, música, caligrafia, desporto, etc) e de várias iniciativas de cariz social são frequentemente organizadas pelos estudantes e são uma constante nos campi universitários. Este modelo patente no ensino superior reflete-se na gestão do tempo e nos interesses dos estudantes, que o Sérgio descreve da seguinte forma: “São extremamente ocupados. Por vezes tentava marcar algum convívio fora do horário de aulas, mas não era fácil...A noção de tempo livre para um estudante português e um estudante chinês é muito diferente. Na China o tempo livre é maioritariamente investido na preparação da carreira profissional… O estudo para o exame oficial de inglês, estágios profissionais, etc. À pressão do mercado de trabalho junta-se também a pressão social que começa logo em casa com a família. Há muitas expectativas criadas em torno do aluno assim que termine os estudos.”

Nos primeiros tempos, o nosso convidado confessa ter tropeçado uma ou outra vez nos obstáculos culturais: “Inicialmente ainda caí no preconceito português e dizia-lhes, em tom descontraído, que não se sabiam divertir. Um jantar para eles já era um momento de diversão…ou uma ida ao KTV… o que me apercebi é que temos maneiras diferentes de disfrutar do tempo livre.”


【1】【2】【3】【4】【5】

(Editor:Renato Lu,editor)

Textos Relacionados

Destaques

À conversa com o professor Sérgio Santos: Experiências de ensino na China e Portugal

Mais lidos