Português>>Mundo Lusófono

Cooperação China-Brasil tem potencial para acelerar transição energética e reduzir emissões, diz especialista

Fonte: Diário do Povo Online    11.11.2025 13h24

A cooperação entre a China e o Brasil em questões climáticas é fundamental para acelerar a transição energética rumo a uma economia de baixas emissões, afirmou a agrônoma Marina Guyot, gerente executiva de Clima, Uso da Terra e Políticas Públicas do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), à margem da COP30.

Guyot destacou o papel de liderança da China tanto na redução de emissões quanto no desenvolvimento de energias renováveis ​​e na restauração florestal durante uma entrevista à Xinhua.

"Sem dúvida, o compromisso da China em reduzir significativamente suas emissões e alcançar a neutralidade de carbono até 2060 é muito importante para as metas globais", observou a representante do Imaflora.

A especialista da organização sem fins lucrativos observou que o país asiático "tornou-se o maior usuário de energia renovável e o que alcançou na última década em termos de transição energética e restauração florestal é notável", acrescentando que as metas da China agora se refletem em resultados tangíveis.

A agrônoma brasileira também enfatizou a importância do multilateralismo como uma estrutura de governança global para lidar com as mudanças climáticas.

"O multilateralismo é um importante instrumento de governança. Embora apresente desafios pragmáticos, é apropriado já que mudança climática é um desafio global que depende de múltiplas partes assumirem suas responsabilidades de forma coordenada", explicou.

Ela observou que os organismos multilaterais, como a Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, "são fundamentais para se ter um ponto de referência comum, mensurar o progresso e garantir um entendimento compartilhado entre os países".

Em sua visão, os mecanismos multilaterais "permitem uma discussão mais justa e equitativa do problema, reconhecendo que os países mais pobres têm maior dificuldade de adaptação e que existe um passivo histórico em que essas nações, embora mais afetadas, também foram as mais exploradas".

No entanto, Guyot esclareceu que a cooperação bilateral pode e deve complementar o sistema multilateral.

Nesse contexto, ela se referiu à influência da China, principal parceira comercial do Brasil desde 2009, que compra principalmente commodities agrícolas e minério de ferro.

"Brasil e China têm muito a colaborar, pois são parceiros comerciais muito importantes um para o outro."

A esse respeito, ela destacou que a cooperação pode se concentrar nas cadeias de valor agrícola, especialmente na produção de carne e soja, setores relevantes tanto para o comércio quanto para a redução das emissões de gases de efeito estufa.

"Todas as questões relacionadas às emissões na produção desses produtos — principalmente pecuária e soja — representam uma vasta área de potencial colaboração entre os dois países, abrangendo financiamento, melhores práticas e a transição para uma produção mais responsável, bem como monitoramento, incentivos e certificações", explicou.

Guyot observou que o Imaflora lançou recentemente o sistema de certificação "Beef on Track", que reconhece os protocolos já implementados pela pecuária brasileira.

"Esse sistema cria uma oportunidade para a China reconhecer esses esforços e gerar incentivos positivos para expandir o monitoramento", comentou a gerente do Imaflora.

“A pecuária é uma atividade de grande relevância para as emissões brasileiras e tem potencial para gerar resultados positivos na sua redução. O reconhecimento e a adoção dessa certificação pela China em sua relação com o Brasil podem ser um passo muito promissor”, afirmou.

A especialista também destacou a existência de instrumentos consolidados na produção de soja, como o “Protocolo Verde dos Grãos” e a “Moratória da Soja”, que permitem a separação entre a expansão agrícola e o desmatamento ilegal.

Além da agricultura, Guyot ressaltou que a China possui um notável programa de reflorestamento com áreas restauradas.

Nesse campo, a especialista do Imaflora afirmou: “Há um enorme potencial para colaboração na restauração florestal”.

“Sem dúvida, toda a agenda climática, da restauração florestal à energia renovável, é uma área de convergência entre Brasil e China. Dada a importância econômica de cada um para o outro, essas parcerias são muito bem-vindas e devem ser estruturadas de forma mais robusta”, acrescentou.

A COP30 está sendo realizada de 10 a 21 de novembro na cidade amazônica de Belém, no estado do Pará, norte do Brasil.

comentários

  • Usuário:
  • Comentar: