O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin, encerraram na última sexta-feira uma reunião de altas apostas em Anchorage, estado norte-americano do Alasca, mas nenhum acordo foi alcançado.
As conversas, que duraram cerca de três horas, se concentraram principalmente na crise na Ucrânia, bem como na reformulação das relações bilaterais que ficaram estagnadas nos últimos anos.
Embora Trump tenha dito que houve progresso durante a reunião, nenhum acordo concreto foi alcançado, enquanto a Ucrânia e outros países europeus expressaram preocupação em serem marginalizados.
NENHUM ACORDO ALCANÇADO
Em uma coletiva de imprensa conjunta após a reunião, Trump disse que "muitos pontos" foram acordados, observando que "grande progresso" foi feito, embora nenhum acordo formal tenha sido alcançado.
Putin disse concordar que a segurança da Ucrânia deve ser garantida, acrescentando que o entendimento alcançado pode ajudar a pavimentar o caminho para a paz.
A Rússia está sinceramente interessada em acabar com o conflito, disse Putin, enfatizando a necessidade de abordar as "causas primárias" do conflito e alertando a Ucrânia e os países europeus para não "atrapalharem".
Em entrevista à Fox News após a reunião, Trump disse que cabe ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, fechar um acordo de cessar-fogo, indicando que ele e Putin discutiram transferências de terras e garantias de segurança para a Ucrânia e "concordaram em grande parte".
O presidente dos EUA também disse que uma reunião envolvendo Zelensky, Putin e ele mesmo seria marcada em breve.
A reunião marcou a primeira visita aos Estados Unidos de um chefe de Estado russo em quase uma década e a primeira reunião cara a cara entre os presidentes dos dois países desde 2021.
Além do conflito, Putin também expressou esperança de que a reunião sirva como "um ponto de partida" para restaurar as relações "comerciais" e "pragmáticas" entre a Rússia e os Estados Unidos, destacando o potencial para a cooperação Rússia-EUA em comércio, alta tecnologia, exploração espacial e no Ártico.
Os dois líderes também deixaram a porta aberta para a próxima reunião, já que Putin convidou Trump para se encontrar "na próxima vez em Moscou" durante a coletiva de imprensa.
"Vou ficar um pouco irritado com isso", respondeu Trump. "Mas eu podia ver isso possivelmente acontecendo."
MUITAS DIFERENÇAS PERMANECEM
Apesar da atmosfera moderadamente amigável entre os dois líderes - Trump recebeu Putin com um tapete vermelho no aeroporto, o que, de acordo com a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, deixou a mídia ocidental "louca" - muitas diferenças ainda permanecem entre os dois lados.
Os dois líderes não chegaram a um acordo sobre o aspecto "provavelmente mais significativo" de sua reunião. "Não chegamos lá", disse Trump a repórteres antes de deixar a sala de coletivas de imprensa, sem responder a perguntas.
"Para o homem que gosta de se apresentar como um pacificador e um negociador, parece que Trump não deixará o Alasca com nenhum dos dois", de acordo com uma reportagem da BBC, observando que Putin e Trump ainda têm grandes diferenças de opinião sobre a crise na Ucrânia.
O presidente dos EUA também admitiu na entrevista à Fox News que estava errado em pensar que o conflito seria facilmente resolvido. "Achei que seria o mais fácil de todos, e foi o mais difícil", disse Trump.
A cúpula no Alasca foi produtiva e o lado dos EUA recebeu o lado russo "muito bem", disse Kirill Dmitriev, o principal enviado econômico da Rússia, no Telegram.
Os dois países continuarão construindo relações apesar da "resistência", disse Dmitriev.
Os comentários de Putin na coletiva de imprensa, especialmente sua ênfase nas "causas primárias" do conflito e sua advertência à Ucrânia e aos países europeus para não interromperem as negociações, foram vistos por alguns no Ocidente como evidência da "falta de progresso real da cúpula".
O ministro das Relações Exteriores da Noruega, Espen Barth Eide, minimizou o "progresso" da reunião. "Muito pouca informação concreta foi divulgada", disse ele.
PREOCUPAÇÕES DA EUROPA
Semelhante a uma reunião virtual realizada na quarta-feira antes da cúpula do Alasca, Trump, em seu voo de volta após a reunião, conversou por telefone com Zelensky e vários outros líderes europeus para informá-los sobre suas conversas com Putin.
Zelensky anunciou após as ligações que visitaria a Casa Branca na segunda-feira para discutir "todos os detalhes" sobre o fim do conflito.
As conversas cobriram o possível estabelecimento de um formato trilateral entre Ucrânia, Estados Unidos e Rússia, disse ele, expressando apoio à proposta de Trump para tal reunião.
Zelensky também ressaltou a importância de garantir que os países europeus estejam envolvidos no processo de paz, a fim de fornecer à Ucrânia garantias de segurança confiáveis junto com Washington.
As preocupações com a marginalização têm crescido em toda a Europa nos últimos dias, devido à ausência de vozes europeias na cúpula do Alasca.
Em uma declaração conjunta após o telefonema com Trump, os líderes da União Europeia (UE), França, Itália, Alemanha, Reino Unido, Finlândia e Polônia reiteraram o apoio a "garantias de segurança rígidas" para a Ucrânia e uma cúpula trilateral "com apoio europeu".
"Os líderes europeus são capazes de informar Trump sobre suas ideias, e os EUA irão informá-los sobre os resultados da cúpula, mas a Europa está na posição de que os resultados do conflito na Ucrânia estão sendo negociados por cima de sua cabeça e a liderança do continente é essencialmente um observador", disse Neil Melvin, diretor de Segurança Internacional do Royal United Services Institute, com sede em Londres, antes da reunião.
"Enquanto Moscou e Washington decidem nosso destino, somos deixados de fora", disse o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, na terça-feira, explicando por que a Hungria não aderiu a uma declaração conjunta da UE sobre a Ucrânia.
"É realmente simples: sente-se à mesa ou você se encontrará no menu", disse ele.