A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou na quarta-feira que "não há fato econômico que justifique" a tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre todas as importações brasileiras, medida que descreveu como arbitrária e politicamente motivada.
Segundo a entidade, a decisão americana representa uma ameaça direta a milhares de empresas brasileiras e à integração produtiva entre os dois países. "Os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria, que é altamente interligada ao sistema produtivo americano", afirmou Ricardo Alban, presidente da CNI, em nota oficial.
A CNI também refutou os argumentos do governo americano, que justificou a medida com base em um suposto desequilíbrio comercial favorável ao Brasil. "A entrada de produtos norte-americanos no Brasil estava sujeita a uma tarifa real de importação de apenas 2,7% em 2023, o que contradiz as declarações da Casa Branca", observou Alban.
Contrariamente à afirmação de Trump, o presidente da CNI afirmou que os Estados Unidos mantêm um superávit comercial com o Brasil há mais de 15 anos. "O rompimento dessa relação causaria danos significativos à nossa economia", acrescentou.
A Câmara de Comércio Americana para o Brasil (Amcham Brasil), que representa os interesses das empresas que operam nos dois países, também manifestou preocupação com o chamado "aumento de tarifas" proposto por Trump. Em nota, a organização alertou que a medida pode ter consequências graves para o emprego, a produção, os investimentos e as cadeias produtivas integradas entre o Brasil e os Estados Unidos.
"A decisão tem o potencial de afetar gravemente a economia brasileira e minar a confiança dos investidores", afirmou a organização, apelando aos governos do Brasil e dos Estados Unidos para que retomem urgentemente as negociações bilaterais para evitar maiores danos. A Amcham também enfatizou que o comércio bilateral tem sido benéfico para ambas as partes e mantido um superávit consistente para os Estados Unidos nos últimos 15 anos, com um saldo de US$ 29,2 bilhões em 2024.
"A tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre as exportações brasileiras, a partir de 1º de agosto, excede todos os limites e inviabiliza o comércio com o mercado americano", disse José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Em nota divulgada nesta quarta-feira, Castro afirmou que o anúncio foi recebido com "perplexidade" pelo setor exportador, que esperava um aumento moderado, "no máximo 20%", mas não uma medida tão drástica. "Os produtos manufaturados brasileiros, que já enfrentavam dificuldades para competir nos Estados Unidos, estão se tornando praticamente inviáveis naquele mercado", alertou.
A AEB, que reúne empresas exportadoras e importadoras, prevê que, como primeira reação, diversas empresas brasileiras suspenderão temporariamente seus embarques para os Estados Unidos até que haja uma definição clara sobre a aplicação das tarifas. Para Castro, "é hora de a diplomacia agir com urgência para tentar reverter a medida".
O próprio presidente americano reconheceu que a medida tem motivação política. Em carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump citou o ex-presidente Jair Bolsonaro e alegou que a tarifa foi adotada "em parte" devido a supostos "ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres".
Trump também acusou o Supremo Tribunal Federal (STF) de emitir "ordens secretas de censura" contra plataformas de mídia social dos EUA, sem apresentar provas. O presidente republicano chegou a ameaçar impor sanções a países que mantêm laços com o grupo BRICS, que ele acusa de agir contra os interesses de Washington.