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Lula no G7 critica gastos militares e defende papel da ONU

Fonte: Xinhua    18.06.2025 13h50

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva denunciou na terça-feira, perante os líderes do G7, os altos gastos militares dos países desenvolvidos, que chegam a US$ 2,7 trilhões anuais - o equivalente ao Produto Interno Bruto da Itália - e alertou sobre a falta de liderança global na resolução de grandes conflitos internacionais.

Convidado para a cúpula do G7 no Canadá, Lula defendeu o fortalecimento da governança multilateral, com as Nações Unidas assumindo um papel de liderança. "Sentados nesta mesa estão três membros permanentes do Conselho de Segurança e outras nações com tradição na defesa da paz. É hora de devolver o papel de liderança à ONU", afirmou o presidente brasileiro.

Lula observou que guerras e conflitos se agravam na ausência de uma liderança efetiva das instituições internacionais. Ele citou como exemplo a guerra na Ucrânia, que, segundo ele, "não será resolvida por meios militares", e condenou a violência contra civis em Gaza. "Nada justifica a matança indiscriminada de mulheres e crianças, nem o uso da fome como arma de guerra por Israel", afirmou.

O presidente também criticou os países que ainda não reconhecem o Estado Palestino, argumentando que tal posição revela uma atitude "seletiva" em relação ao direito internacional e à justiça.

Ele também expressou preocupação com a escalada do conflito entre Israel e Irã, "após os ataques iniciados pelo primeiro", que, em sua visão, poderia transformar todo o Oriente Médio em um campo de batalha com consequências globais imprevisíveis.

Em seu discurso, Lula também se referiu à situação no Haiti, denunciando a indiferença da comunidade internacional diante "do caos cotidiano e das atrocidades perpetradas pelo crime organizado". Para o líder brasileiro, somente o diálogo entre as partes pode abrir caminho para um cessar-fogo e uma paz duradoura.

"Não subestimo a magnitude do desafio de debelar todas essas ameaças. Mas é patente que o vácuo de liderança agrava essa situação", declarou.

Lula também abordou a crise climática e a transição energética em seu discurso. Ele lembrou que o G7 foi criado há 50 anos em resposta à crise do petróleo e que o desafio atual é a emergência climática.

"Os choques da década de 1970 demonstraram que a dependência de combustíveis fósseis condena o planeta a um futuro incerto. No entanto, o mundo continua se recusando a aceitar que a diversificação energética seja a chave para a segurança energética", afirmou Lula.

O presidente brasileiro enfatizou que o Brasil foi pioneiro em investimentos em larga escala em energia renovável. Atualmente, 90% da matriz elétrica do país é proveniente de fontes limpas. Ele também destacou a liderança do país na pesquisa e produção de combustíveis verdes, como etanol e biodiesel, bem como o progresso no desenvolvimento do hidrogênio verde e a descarbonização do transporte e da agricultura.

"É impossível discutir uma transição energética sem falar dessas questões e sem incluir o Brasil", enfatizou Lula. Ele observou que o país possui as maiores reservas mundiais de nióbio, além de estar entre as principais reservas mundiais de níquel, grafite, terras raras, manganês e bauxita.

No entanto, ele alertou que o Brasil não repetirá os erros do passado. "Durante séculos, a mineração gerou riqueza para poucos e deixou destruição e miséria para muitos. Ela não deve ameaçar biomas como a Amazônia e os fundos marinhos", afirmou.

As declarações de Lula reforçaram a mensagem que ele transmitiu recentemente na Cúpula dos Oceanos, em Nice, na França. "O Brasil não será palco de competição predatória nem de práticas excludentes", afirmou.

O presidente brasileiro reiterou que os países em desenvolvimento devem participar de todas as etapas das cadeias globais de minerais estratégicos, incluindo seu beneficiamento.

"Essa foi nossa posição no G20 e tem sido nossa tônica no BRICS", acrescentou. Lula afirmou que as parcerias internacionais devem ser baseadas no benefício mútuo, e não em disputas geopolíticas. "Se a rivalidade prevalecer sobre a cooperação, não haverá segurança energética", concluiu.

Além dos sete membros permanentes do G7 - Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido - a cúpula deste ano no Canadá conta com a participação de países convidados como Brasil, África do Sul, Austrália, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Índia e México, bem como de representantes de organizações internacionais como a ONU, o Banco Mundial, a Comissão Europeia e o Conselho da União Europeia.

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