O governo brasileiro qualificou nesta terça-feira de "inaceitáveis" e "revoltantes" as declarações da chancelaria israelense contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, no domingo, comparou as ações de Israel em Gaza com a morte de judeus na Segunda Guerra Mundial nas mãos do regime nazista de Adolfo Hitler.
As palavras de Lula indignaram o governo israelense, cujo chanceler Israel Katz declarou o presidente brasileiro como "pessoa não grata" e qualificou de "promiscuas e delirantes" as falas do presidente brasileiro.
Em declarações à imprensa no Rio de Janeiro, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, afirmou que "as manifestações do chefe da chancelaria do governo Netanyahu, ontem e hoje, são inaceitáveis na forma e falsas no conteúdo".
"Que uma chancelaria se dirija dessa forma a um chefe de Estado, de um país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante", disse.
Segundo Vieira, "uma chancelaria recorrer sistematicamente à distorção de declarações e a mentiras é ofensivo e grave. É uma vergonhosa página da história da diplomacia de Israel, com recurso a linguagem chula e irresponsável".
"Estou seguro de que a atitude do governo Netanyahu e sua antidiplomacia não refletem o sentimento da sua população. O povo israelense não merece essa desonestidade, que não está à altura da história de luta e de coragem do povo judeu em mais de 50 anos de carreira, nunca vi algo assim," enfatizou o chanceler brasileiro.
Segundo Vieira, "nossa amizade com o povo israelense remonta à formação daquele Estado, e sobreviverá aos ataques do titular da chancelaria de Netanyahu".
"O ministro Israel Katz distorce posições do Brasil para tentar tirar proveito em política doméstica. Enquanto atacou o nosso país em público, no mesmo dia, na conversa privada com nosso embaixador em Tel Aviv, afirmou ter grande respeito pelos brasileiros e pelo Brasil, que definiu como a mais importante nação da América do Sul. Esse respeito não foi demonstrado nas suas manifestações públicas, pelo contrário", disse Vieira.
"Não é aceitável que uma autoridade governamental aja dessa forma", destacou. "Além de tentar semear divisões, busca aumentar sua visibilidade no Brasil para lançar uma cortina de fumaça que encubra o real problema do massacre em curso em Gaza, onde 30 mil civis palestinos já morreram, em sua maioria mulheres e crianças, e a população é submetida a deslocamento forçado e a punição coletiva".
"Isso tem levado ao crescente isolamento internacional do governo Netanyahu, fato refletido nas deliberações em andamento na Corte Internacional de Justiça. É este isolamento que o titular da chancelaria israelense tenta esconder. Não entraremos nesse jogo e não deixaremos de lutar pela proteção das vidas inocentes em risco. É disso que se trata", esclareceu Vieira.
"O embaixador de Israel em Brasília e o governo Netanyahu foram informados de que o Brasil reagirá com diplomacia, mas com toda a firmeza, a qualquer ataque que receber, agora e sempre", concluiu o chanceler brasileiro.