Cientistas brasileiros descobriram a possibilidade de frear o crescimento do câncer de mama alterando o perfil de um tipo de células de defesa, informou a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
As células investigadas no estudo eram macrófagos, que fazem parte das defesas do organismo. Existem dois tipos dessas células, as M1 e as M2. Enquanto o primeiro tipo está mais associado à expansão dos tumores, o segundo está mais associado à contenção deles.
Cerca da metade da massa dos tumores malignos de mama é composta por macrófagos, e a pesquisa avaliou o que ocorreria se o tipo M1 fosse alterado para M2.
Para que esta mudança ocorresse, foram utilizadas nanopartículas de óxido de ferro, produzidas no laboratório através de uma parceria entre a Fiocruz Minas e o Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco, que desenvolveu, originalmente, o composto magnético.
As nanopartículas são biocompatíveis, ou seja, têm baixa toxicidade para as células saudáveis, além de baixo custo e síntese rápida, o que facilita a produção em escala.
"A ideia era transformar M2 em M1, por meio de tratamento local, realizado diretamente no tumor, o que permitiu um controle maior em relação a intervenções sistêmicas", explica a cientista Camila Sales Nascimento, que esteve à frente do projeto, acrescentando que a proposta é que em contato com o composto, os macrófagos M1 se transformem em M2,reforçando o controle da expansão do câncer.
Para chegar a esses resultados, os pesquisadores realizaram três experimentos in vitro com células humanas em duas e três dimensões, com resultados positivos, e também in vivo, usando camundongos de laboratório.
Segundo o líder do grupo de Imunologia Celular e Molecular e coordenador do projeto, Carlos Eduardo Calzavara, os resultados abrem possibilidades para novas pesquisas que, futuramente, poderão permitir o surgimento de estratégias complementares ao tratamento do câncer de mama.
"O estudo é um ponto de partida. Ainda são necessárias novas pesquisas voltadas para farmacodinâmica e farmacocinética para avaliar uma série de questões relevantes, como os efeitos fisiológicos, os mecanismos de ação, os efeitos colaterais, o tempo de absorção do fármaco, a biodistribuição no organismo, entre outros aspectos. Mas a prova de conceito nós já temos, o que é muito importante", destacou o coordenador.