Com a Cúpula das Américas sendo realizada sob a sombra de alguns países importantes da região, o presidente dos EUA, Joe Biden, divulgou na quarta-feira um novo pacote econômico "ambicioso", que se assemelha ao seu "Quadro Econômico Indo-Pacífico" (IPEF, em inglês) para combater a influência da China.
Da Iniciativa "Growth in the Americas" lançada em 2019 ao plano de infraestruturas "Build Back Better World", esses planos econômicos iniciados pelos EUA são amplamente vistos como promessas vazias que atendem apenas aos interesses de Washington, visando a manutenção da hegemonia americana na região.
Biden chegou a Los Angeles na quarta-feira para sediar a cúpula de três dias, de acordo com relatos da mídia americana, durante a qual o líder dos EUA anunciou um novo quadro econômico para a América Latina, com foco em cadeias de suprimentos, mudanças climáticas, emprego e comércio. A estrutura, conhecida como Parceria das Américas para a Prosperidade Econômica, aparentemente visa combater a Iniciativa do Cinturão e Rota da China, segundo alguns relatos da mídia.
O governo dos EUA anunciou US$ 300 milhões em financiamento para tratar da questão alimentar na região e irá propor reformas ao Banco Interamericano de Desenvolvimento para incentivar mais investimentos privados na região. Também na terça-feira, a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, anunciou promessas de US$ 1,9 bilhão em investimentos de empresas privadas na América Central.
Horas antes da chegada de Biden, seu governo anunciou um novo Corpo de Saúde das Américas que visa melhorar as capacidades de 500.000 profissionais de saúde em toda a região, aproveitando as lições da Covid-19, que atingiu especialmente o Hemisfério Ocidental, informou a Agence France-Presse (AFP).
O treinamento custará US$ 100 milhões, embora os EUA não contribuam com tudo e busquem arrecadar fundos, inclusive por meio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), segundo relatos na imprensa.
Com a Iniciativa do Cinturão e Rota da China obtendo mais apoio na América Latina, alguns observadores chineses duvidam do pacote econômico de Biden para a América Latina, impulsionado por motivos políticos dos EUA para combater a China, sem levar totalmente em conta as reais necessidades dos países latino-americanos. Especialmente numa era em que os EUA enfrentam um declínio de influência, com sua economia lutando contra a inflação crescente e investimentos fracos, tem havido uma voz crescente para rejeitar a hegemonia dos EUA no continente latino-americano, de acordo com especialistas.
"Esta semana, todo o continente expressará sua rejeição à hegemonia dos EUA", disse Jorge Arreaza, ex-ministro das Relações Exteriores da Venezuela, segundo relatos da mídia recentemente. Tais declarações demonstram também que os EUA não podem mais ter o continente como "seu quintal", e que os países da região buscam se livrar da influência dos EUA e tomar decisões mais independentes com base em seus próprios interesses, segundo especialistas.
Os EUA pretendem liderar um enquadramento de comércio e investimento que exclua a China da América Latina, refletindo sua ansiedade pela presença chinesa na região. O problema é se tal iniciativa de comércio e investimento liderada pelos EUA pode ou não atender às necessidades dos países latino-americanos, disse Zhou Zhiwei, especialista em estudos latino-americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, ao Global Times.
"Dado o forte protecionismo e um alto nível de dependência dos mercados externos, o continente não formou uma cadeia de suprimentos completa sem um mercado comum. Essa é uma enorme lacuna entre o mercado latino-americano e a formulação da política dos EUA, sem mencionar que, para alguns países latino-americanos, seu maior parceiro comercial é a China", disse Zhou.
O comércio total entre a China e a América Latina atingiu 451,59 bilhões de yuans (US$ 67,5 bilhões) em 2021, um aumento de 41% em relação ao ano anterior, segundo dados do Ministério do Comércio da China. A China permaneceu como segundo maior parceiro comercial da América Latina e uma série de projetos do BRI produziram resultados positivos.