A preservação da biodiversidade no mundo exige que os compromissos e protocolos a serem estabelecidos na 15ª reunião da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP15), em Kunming, na província chinesa de Yunnan, sejam cumpridos e monitorados de forma concreta por todos os países.
A definição é da bióloga Ana Alice Biedzicki de Marques, uma das principais especialistas brasileiras, ex-diretora de Uso Sustentável da Biodiversidade e das Florestas no Instituto Brasileiro de Recursos Renováveis (IBAMA) entre 2016 e 2019, em entrevista à Xinhua sobre os desafios da COP15.
Atual assessora de Desenvolvimento Urbano, Rural e Ambiental da Assembleia Legislativa do Distrito Federal, Biedzicki disse que é fundamental "criar instrumentos econômicos eficazes que ajudem a controlar e reduzir a taxa de extinção de animais e plantas".
Com o lema "Civilização Ecológica: Construir um Futuro Compartilhado para Toda a Vida na Terra", a COP15 é a primeira conferência global convocada pelas Nações Unidas sobre o tema da civilização ecológica, uma filosofia proposta pela China.
A reunião, que se realizará de forma virtual e presencial de 11 a 15 de outubro e uma segunda parte de forma presencial na primeira metade de 2022, adotará um quadro global de biodiversidade aplicável posterior a 2020.
Segundo Biedzicki, a COP15 chega em um momento no qual, apesar dos esforços mundiais para frear a extinção de espécies, se verifica uma queda global muito rápida de centenas de milhares de espécies em todos os países.
"Esta conferência sobre a biodiversidade convoca os governos de todo o mundo a acordar novos objetivos para a natureza, já que o anterior, um plano estratégico estabelecido nos objetivos de Haya, de 2011 a 2020, não teve o êxito esperado, tendo se observado, inclusive, um desempenho decepcionante dos países signatários", afirmou.
O objetivo da COP15 é estabelecer um quadro posterior a 2020 para a Convenção sobre Diversidade Biológica, que consistirá em novos objetivos acordados até 2050 com metas intermediárias para 2030.
"É um objetivo importante porque toca em alguns temas básicos, como a redução da taxa da biodiversidade, a redução do tema das espécies invasoras, além de outras questões fundamentais em um contexto de pandemia, como o de defender a biodiversidade não apenas por razões econômicas, mas também pela qualidade de vida e saúde da população mundial", ressaltou.
"É importante se debater junto com o tema da mudança climática e o da biodiversidade, porque um é fundamental para o outro. A perda de florestas e biodiversidade provoca grandes mudanças climáticas", enfatizou a bióloga.
Outro ponto destacado é a discussão da relevância da biodiversidade para as questões econômicas do mundo.
"Há uma grande perda de zonas naturais, de recursos hídricos, daí a importância do tema da resiliência, da manutenção das zonas naturais, das zonas protegidas", acrescentou.
Para os objetivos pós 2020, é fundamental que os países desenvolvidos e as economias emergentes se assegurem de que todos os seus investimentos internacionais sigam as normas de preservação do meio ambiente para reduzir o impacto sobre a biodiversidade, afirmou Biedzicki.
"Sem este aspecto realmente não há maneira de se conseguir os objetivos propostos. Também é importante proibir a caça e a pesca ilegais, bem como o consumo de animais silvestres, especialmente de procedências ilegais e não sustentáveis. Até para evitar novas pandemias e zoonosis", acrescentou.
Segundo a bióloga, a cooperação internacional é fundamental para a preservação, tanto na inovação como na tecnologia e inclusive no conhecimento científico.
Por outro lado, para que os objetivos da COP15 sejam alcançados na prática, será muito importante que todos os países façam um acompanhamento de forma muito concreta, disse Biedzicki .
"Também é necessário que apliquem os protocolos estabelecidos na convenção, porque, se alguns países aplicarem esses protocolos e outros não, realmente se criará uma grande fragilidade nos objetivos. É fundamental criar instrumentos econômicos eficazes que ajudem a controlar e reduzir a taxa de extinção de animais e plantas", afirmou.
Sobre o potencial de cooperação entre Brasil e China, dois grandes parceiros comerciais, ela ressaltou a importância de incluir a biodiversidade nas estratégias de negócio.
"Seria importante exigir dos fornecedores brasileiros e das matérias-primas a rastreabilidade de todos os produtos negociados, seja carne ou madeira. Isso garantiria um grande impacto no tema da preservação", disse.
"E isso não apenas da relação entre Brasil e China, mas em todas as relações comerciais internacionais, tanto no que respeita às espécies em perigo de extinção como dos espaços naturais", acrescentou.
Segundo a especialista brasileira, do ponto de vista da preservação global, nada teria mais impacto do que situar a biodiversidade nas estratégias empresariais dos países signatários.