China: 'Pai do arroz híbrido' falece aos 91 anos

Fonte: Diário do Povo Online    24.05.2021 08h24

O cientista chinês Yuan Longping, conhecido por desenvolver a primeira cepa de arroz híbrido que permitiu retirar inúmeras pessoas da fome, faleceu no sábado aos 91 anos em um hospital de Changsha, capital da província de Hunan, pelas 13h, de acordo com o hospital e outras fontes.

Quando o veículo que transportava o corpo de Yuan dirigia para o necrotério, várias pessoas se reuniram ao longo da estrada para se despedirem.

No Sina Weibo, a versão chinesa do Twitter, a notícia registrou 950 milhões de visualizações até ao momento, com inúmeros internautas expressando pesar pela morte do cientista.

"Profundamente triste com a morte do Prof. Yuan Longping. Ele dedicou sua vida à pesquisa do arroz híbrido, ajudando bilhões a alcançar a segurança alimentar. Você é uma inspiração. Descanse em paz", disse o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na igla inglesa), Qu Dongyu, em um tweet.

Kenneth M. Quinn, presidente emérito da FAO, em uma mensagem de condolências, salientou a fama do cientista em toda a China: “Talvez o aspecto mais notável da vida do professor Yuan Longping que observei foi que todos na China sabiam quem ele era e o que havia feito. Não apenas especialistas agrícolas ou funcionários públicos, mas todas as pessoas que realizam trabalhos comuns totalmente não relacionados à agricultura. Em dezenas de ocasiões, eu perguntava a pessoas que conheci durante minhas viagens pela China se sabiam quem era Yuan Longping e o que ele havia feito. Em todas as ocasiões, todas as pessoas com quem falei - serventes em restaurantes em Shenzhen, funcionários de hotéis em Shijiazhuang e fornecedores de bebidas nos trens de alta velocidade - todos sabiam seu nome e que Yuan Longping havia dado grandes contributos na produção de arroz. Na verdade, a primeira pessoa a me alertar sobre sua morte pelo WeChat foi um jovem funcionário de uma agência de turismo de Sanya”.

Yuan foi co-vencedor do Prêmio Mundial de Alimentos de 2004, a principal homenagem internacional que reconhece os feitos de indivíduos que avançaram no desenvolvimento humano melhorando a qualidade, quantidade ou disponibilidade de alimentos no mundo. Yuan compartilhou o prêmio com Monty Jones, um africano criador de arroz.

Depois de passar mais de cinco décadas a pesquisar o arroz híbrido, o agora ex-membro da Academia Chinesa de Engenharia ajudou a China a alimentar quase um quinto da população mundial com menos de 9% do total da terra arável do globo.

Yuan disse certa vez que tinha dois sonhos - "desfrutar da frescura das plantações de arroz mais altas do que os homens" e que o arroz híbrido pudesse ser cultivado em todo o mundo para ajudar a resolver a escassez global de alimentos.

Em 1949, Yuan se inscreveu na Universidade Agrícola do Sudoeste e aí teve início sua ligação especial ao arroz - um alimento básico do povo chinês que se tornaria o foco de sua carreira de pesquisa ao longo da vida.

A descoberta de uma espécie peculiar de arroz selvagem por Yuan na ilha de Hainan em 1970 tornou-se o prelúdio das décadas de pesquisa do arroz híbrido na China. Três anos depois, o cientista acabaria por cultivar a primeira cepa de arroz híbrido de alto rendimento do mundo com três linhagens, a saber, o macho estéril, mantenedor e restaurador.

Desde então, o arroz híbrido tem sido cultivado em todo o país e os agricultores obtiveram uma produção incrível, após mudarem para as variedades híbridas de Yuan.

O arroz híbrido registrou um rendimento anual cerca de 20 por cento superior ao das variedades convencionais de arroz - o que significa que passou a ter a capacidade de alimentar mais 70 milhões de pessoas por ano.

Desde a década de 1980, a equipe de Yuan passou a oferecer cursos de treinamento em dezenas de países na África, nas Américas e na Ásia - fornecendo uma fonte robusta de alimentos em áreas com elevado risco de fome.

Globalmente, mais de 820 milhões de pessoas se debateram com a fome em 2018, de acordo com um relatório da ONU. Se o arroz híbrido for plantado em metade dos 147 milhões de hectares de arrozais do mundo, o rendimento adicional apenas poderá alimentar outros 500 milhões de pessoas, disse Yuan.

A equipe de Yuan foi convidada a fazer uma plantação experimental de arroz tolerante a salino-alcalino em campos experimentais em Dubai, em janeiro de 2018, obtendo enorme sucesso. A exportação chinesa de arroz tolerante à salinidade e alcalinidade tem sido vista como uma forma de combater a insegurança alimentar mundial.

Em setembro de 2017, uma variedade de arroz indica com baixo teor de cádmio desenvolvida pela equipe de Yuan e pela academia provincial de ciências agrícolas de Hunan conseguiu reduzir a quantidade média de cádmio no arroz em mais de 90 por cento em áreas que sofrem de poluição por metais pesados.

(Web editor: Fátima Fu, Renato Lu)

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