He Luyang
Em 2020, no contexto da pandemia, as relações China-Brasil passaram por atritos e testes, mas mantiveram um impulso de desenvolvimento estável. Os dois países demonstraram pontos positivos nas áreas do combate à pandemia e do intercâmbio econômico, comercial e cultural.
Desde o início deste ano, houve rumores no Brasil em torno da epidemia do novo coronavírus e problemas técnicos com o 5G. O filho do presidente Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, entre outras figuras têm atacado repetidamente a China, estigmatizando o país e criando um ruído hostil ao desenvolvimento das relações bilaterais. Em resposta a alguns destes comentários, a Embaixada da China no Brasil respondeu em tempo hábil, condenando severamente tais atos. Representantes de todas as esferas sociais no Brasil expressaram também sua solidariedade com a China e, em última instância, controlaram o impacto negativo desses eventos, sem afetar o desenvolvimento geral das relações bilaterais.
Apesar de alguns comentários negativos, a China e o Brasil mantêm uma cooperação ativa perante o vírus - o inimigo comum de toda a humanidade. O governo central chinês forneceu ao Brasil três lotes de materiais de ajuda no valor de quase 6 milhões de reais. Províncias, cidades e empresas locais doaram ventiladores, roupas de proteção, kits de teste e outros suprimentos anti-epidêmicos ao Brasil. A China organizou também equipes médicas para realizar mais de 20 intercâmbios online de experiências de prevenção, controle, diagnóstico e tratamento, ajudando o Brasil com o abastecimento de 1.200 toneladas de suprimentos. A colaboração entre o Instituto Butantan de São Paulo e a Sinopharm tem também avançado gradualmente.
O comércio global foi severamente afetado pela pandemia, mas o comércio sino-brasileiro cresceu, contrariando a tendência, se tornando um foco de manutenção do desempenho econômico do Brasil. Entre janeiro a setembro deste ano, as exportações do Brasil para a China aumentaram em 14% face ao ano anterior, representando mais de 34% do total das exportações brasileiras, o que desempenhou um papel importante na recuperação da economia brasileira. O primeiro lote de melões brasileiros chegou a Shanghai por via aérea em setembro, abrindo uma nova etapa de exportações brasileiras de frutas frescas para a China.
Além disso, após os problemas detetados com as empresas brasileiras de processamento de carne, as autoridades competentes dos dois países mantiveram a comunicação e cooperaram ativamente para resolver o problema de forma adequada e garantir o normal funcionamento do comércio bilateral.
Embora a epidemia tenha impedido a comunicação presencial, a China e o Brasil recorreram a formas inovadoras, como seminários online e interação na nuvem. A embaixada e o consulado da China no Brasil organizaram mais de 10 "Seminários de Cooperação Anti-epidêmica Internacional" em cooperação com diversas instituições chinesas e brasileiras, abrangendo diversos tópicos como economia e comércio, finanças, tecnologia, logística de comércio eletrônico, medicina chinesa e ocidental e cooperação cultural.
Várias instituições da sociedade civil, universidades, empresas, mídia e organizações não governamentais dos dois países recorreram também à Internet para realizar intercâmbios interativos.
Como importantes representantes de países emergentes e membros dos BRICS, a China e o Brasil desfrutam de amplos e profundos interesses comuns e possuem uma base política sólida. O Brasil é o primeiro país da América Latina a estabelecer a Parceria Estratégica Global com a China. Nos últimos anos, os dois governos, parlamentos, partidos políticos e intercâmbios locais de alto nível têm sido frequentes e o mecanismo de cooperação bilateral tem sido cada vez mais aperfeiçoado. Desde a eclosão da epidemia, o presidente Xi Jinping e o presidente Bolsonaro realizaram numerosos telefonemas e trocaram cartas, indicando o rumo de desenvolvimento das relações bilaterais.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil por 11 anos consecutivos, sendo também um dos países com maior investimento no país.
Em 2021, a China entrará no período do "14º Plano Quinquenal", dando início a uma nova vaga de reforma, abertura e desenvolvimento, o que possibilitará novas oportunidades na colaboração entre os dois países.
(A autora é pesquisadora assistente da Academia Chinesa de Ciências Sociais e secretário-geral adjunto do Centro de Estudos Brasileiros)