Por Janaína Camara da Silveira
Rio de Janeiro, 7 jul (Xinhua) -- O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil tem um canal direto para discutir com autoridades chinesas de vigilância sanitária protocolos e processos, além de casos envolvendo plantas e frigoríficos no Brasil em relação ao novo coronavírus. A informação foi divulgada nesta terça-feira pela chefe do Núcleo China do MAPA, Larissa Wachholz, que concedeu entrevista exclusiva à equipe da Xinhua junto à diretora do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) da Secretaria de Defesa Agropecuária do MAPA, Ana Lúcia de Paula Viana.
Normas que garantem padrões de segurança para trabalhadores dos frigoríficos e indústrias das cadeias de proteína animal no Brasil, que estão sob escrutínio atualmente por conta de casos da COVID-19, integram portaria conjunta entre o MAPA e os Ministérios da Economia e da Saúde, sendo obrigatórias para todas as unidades produtivas. Estas têm, por exemplo, de medir a temperatura dos funcionários mais de uma vez ao dia.
Segundo Wachholz e Viana, um técnico do MAPA está em cada uma das plantas brasileiras para garantir que estas adotem os padrões sanitários exigidos e também garantir o sistema de informação sanitária por meio do Selo de Informação Federal (SIF). Ambas as profissionais relatam que, no caso dos produtos vendidos à China, para além das normas exigidas no Brasil, há padrões estabelecidos pelas autoridades chinesas.
Baixo risco de contágio
Segundo o MAPA, protocolos e normas apontados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) são seguidos no Brasil. Além disso, não há indícios de que haja contaminação da COVID-19 por meio do consumo do alimento ou mesmo via embalagens dos alimentos exportados. Segundo Wachholz, o tempo de transporte até a China é outro aspecto a ser considerado, pois os produtos levam, em média, 45 dias para chegar ao país asiático.
Segundo Viana, no desembarque na China, há testes em produtos e em embalagens a fim de que haja certificação de que os produtos estão livres do novo coronavírus. Segundo a diretor, ainda que seja altamente improvável que haja contaminação, esta é uma medida adicional tomada pelos brasileiros a fim de garantir a segurança.
Núcleo China
Segundo Wachholz, o Núcleo China é a primeira área temática dedicada a um único país dentro do ministério. A decisão de criá-lo, segundo a executiva, foi tomada pela ministra, Tereza Cristina, depois da segunda viagem à China realizada no cargo, no ano passado. O objetivo é a abertura de mercado, a atração de investimentos, a análise de informações a respeito da China, especialmente no que diz respeito a políticas públicas, e inovação e sustentabilidade.
Neste sentido, Wachholz destaca que trocas em tecnologias podem ocorrer, especialmente se pensando no quanto a China tem desenvolvido sua agricultura 4.0.
Para Wachholz, todos percebem a importância do agronegócio para o Brasil e para a relação sino-brasileira. Em 2019, 35% de tudo o que o setor exportou teve a China como destino. Neste ano, até maio, este percentual subiu para 45%.
- Além de ser um mercado muito relevante, tendo a Ásia como um todo como um potencial para crescimento, ainda que tenhamos volume de exportação, a variedade de produtos ainda é muito pequena - afirma Larissa, apontando que a diversificação da cesta de exportação do agronegócio brasileiro à China e à região asiática está entre as prioridades do Núcleo China.
Agora, durante a pandemia, o Núcleo também tem servido como apoio a áreas técnicas do Ministério, garantindo comunicação regular entre as autoridades relevantes no Brasil e na China.
Mais parcerias no futuro
Segundo Wachholz, para além das parcerias comerciais questões envolvendo infraestrutura no Brasil podem atrair investimentos chineses, especialmente dado o apetite por produtos agrícolas e por minério de ferro. Questões ainda envolvendo trading de equipamentos em tecnologia, como drones, podem significar mais negócios entre China e Brasil, aponta a funcionária do ministério.
Hoje, avalia Viana, há esforços por parte do ministério habilitar novas plantas para as proteínas animais. Plantas brasileiras já enviaram documentação à China para garantir as licenças.
- Vemos um grande potencial para as carnes, especialmente as bovinas, dada a tendência de crescimento de renda na China.