Embaixador português na China: “é nos momentos mais difíceis que conhecemos o verdadeiro sentido da amizade”

Fonte: Diário do Povo Online    19.05.2020 15h32

Por Renato Lu e Fátima Fu

Mesmo que distantes geograficamente, a China e Portugal têm enfrentado em conjunto a pandemia do novo coronavírus.

Desde o início do surto na China, os dois países mantiveram contactos entre as mais altas entidades e as diversas camadas sociais, com expressões de solidariedade de parte a parte.

No dia 7 de maio, o presidente Xi Jinping destacou, durante uma conversa telefônica com o seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, que a China estaria disponível para fornecer assistência e ajuda no transporte de materiais médicos até Portugal.

Cidades chinesas como Beijing, Shanghai e Shenyang, entre outras, doaram materiais a cidades portuguesas, incluindo Lisboa, Porto e Braga, com as quais existem protocolos de geminação. De acordo com as estatísticas disponíveis, desde o início do surto em Portugal, a China, entre outros equipamentos médicos, doou mais de 1 milhão de máscaras, 600.000 pares de luvas, 120.000 viseiras, mais de 100 ventiladores, 10 sistemas de vídeo.

José Augusto Duarte, o embaixador de Portugal na China, expressou, em entrevista exclusiva concedida por escrito ao Diário do Povo Online, a gratidão à China pela ajuda nestes tempos críticos.

“É verdade que Beijing, Shanghai e Shenyang fizeram doações de material contra a propagação do Covid-19 às cidades de Lisboa, Porto e Braga. Mas para mim, mais que o elevado valor material dos bens doados em si acho que é de valorizar, acima de tudo, o gesto espontâneo de solidariedade e de generosidade destes municípios chineses, bem como o de muitos outros empresários e entidades diversas da China para com o meu país. Em Portugal costumamos dizer que em tempos de alegria e abundância é fácil termos amigos, mas é nos momentos mais difíceis que conhecemos o verdadeiro sentido da amizade”.

Desde que despoletou o surto, a China adotou medidas rigorosas para conter a propagação da epidemia e compartilhou com a comunidade internacional informações e experiências na prevenção, controle e tratamento da Covid-19. O embaixador, que diz ter acompanhado os desenvolvimentos desde o início, afirma que, “daquilo que vi nas televisões e li nos jornais, a China travou uma seríssima batalha nacional contra a Covid-19 desde janeiro passado e essa batalha foi acompanhada pelos órgãos de comunicação social do mundo inteiro”.

Com a pandemia no país cada vez mais controlada, a China está paulatinamente retomando a produção industrial e a normalidade da vida social.

Abordando a tendência do desenvolvimento econômico da China, o embaixador afirmou que “a China é um país de gente trabalhadora e determinada e não tenho dúvidas que este povo ultrapassará, como sempre o fez no passado, as dificuldades que encontra pela frente”. No entanto, deixa o alerta de que “temos de ser realistas e ter presente que enquanto não tivermos uma vacina contra a Covid-19, o mundo não conseguirá retomar o crescimento que estava a ter antes do surgimento desta pandemia”.

“É por isso da maior importância para toda a humanidade que as nações e os cientistas unam esforços para juntos ultrapassarmos este desafio que é de todos. Enquanto houver uma nação ou um povo afetado com a Covid-19 e sem termos vacina, haverá sempre riscos de contágios não controlados. Este vírus é um grande inimigo do desenvolvimento e da prosperidade, mas também da globalização. É por isso do nosso interesse juntarmos esforços, trocar conhecimentos e erradicar este vírus para seguirmos de novo os nossos caminhos", considera.

Devido aos constrangimentos impostos pela epidemia, as sessões anuais do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPCh) e da Assembleia Popular Nacional (APN) deste ano foram adiadas, respetivamente, para 21 e 22 de maio. Durante estes eventos, as duas metas previstas para o ano de 2020 - a concretização de uma sociedade modestamente confortável e a erradicação total da pobreza - serão seguramente alvo de destaque.

O embaixador expressou que ficaria “extremamente satisfeito” se esses objetivos fossem alcançados no ano de 2020 deixando, contudo, algumas ressalvas: “Não nos podemos esquecer que 2020 também é um ano de pandemia global do Covid-19 com consequências muito significativas em todas as nações em relação aos planos de crescimento económico”.

O entrevistado concluiu com algumas palavras de enaltecimento aos esforços que a China tem vindo a promover: “Pessoalmente tenho o maior respeito e apreço pela forma como a China empreendeu um processo de reforma e abertura há 40 anos e que lhe tem permitido alcançar um nível de prosperidade e de desenvolvimento tecnológico notáveis e dignos, naturalmente, do aplauso de todos”. 

(Web editor: Fátima Fu, editor)

0 comentários

  • Usuário:
  • Comentar:

Wechat

Conta oficial de Wechat da versão em português do Diário do Povo Online

Mais lidos