Ajuda a África: um teste à justiça e aos padrões internacionais

Fonte: Diário do Povo Online    24.02.2020 14h51

Os métodos de ajuda ao continente africano são um assunto importante e de preocupação da comunidade internacional, que faz todos os possíveis para promover o desenvolvimento dos parceiros africanos. Poderão, então, as informações avançadas pelo secretário de Estado estadunidense, Mike Pompeo, durante a sua visita recente a África, demonstrar um sentido de justiça? A opinião pública internacional, encara o caso com apreensão.

É possível constatar nos mais recentes relatos sobre os comentários de Pompeo que tal se trata de falsa propaganda, sob o pretexto de que “os EUA podem dar a África uma ajuda melhor que outros países”, e que a parceria econômica com os EUA é o a escolha certa para a África. Deixando o continente sob slogans de “verdadeira liberdade”, a imprensa de África do Sul foi rápida a comentar as afirmações de Pompeo: “Não nos deixemos enganar pelos exageros dos EUA”, clarificando que a visita não produziu nenhum resultado substancial. Por seu turno, a imprensa norte-americana também citou especialistas etíopes criticando a expressão “verdadeira liberdade” como manifestamente exagerada.

Esta é a primeira visita de Pompeo à África em quase dois anos como secretário de Estado. Embora tenha sido alardeada com pompa e circunstância, na prática, a visita foi pouco substancial. Recentemente, a situação no combate anti-terrorismo no ocidente do continente tem-se deteriorado, contudo os EUA estão considerando uma retirada drástica. Momentos antes de Pompeo ter partido para África, os EUA anunciaram que iriam impor restrições na atribuição de vistos a cerca de um quarto da população africana. Os Estados Unidos não avançam com um plano de apoio ao desenvolvimento africano, mas continuam a manter uma posição patriarcal para com o continente, sem quaisquer resultados práticos. A imprensa do país deixou claro que a visita de Pompeo não produziu quaisquer novos acordos ou iniciativas como resultado desta viagem. Alguns investigadores africanos vão mais longe advertindo que, em comparação com outros países, os EUA “nada têm a acrescentar”. Tal situação apenas serve para alienar os líderes africanos, insatisfeitos com o fato de serem constantemente relegados para segundo plano nas relações .

O fato de que a cooperação EUA-África não tem apresentado uma relevância assinalável por anos a fio está à vista de todos. É, portanto, ridícula a recente insistência dos EUA de que essa realidade seja consequência da intervenção de países terceiros. Os países africanos sempre reiteraram que o continente está aberto à cooperação com qualquer país. A queda da cooperação dos EUA com África não se deve a forças externas, mas à “negligência” americana. Quando os EUA propuseram a “Nova Estratégia Africana” em 2018, acadêmicos do continente ressaltaram que os problemas “mais prementes são a fome, desemprego, explosão demográfica, alterações climáticas”, sendo que esses problemas não tinham tinham sido apropriadamente combatidos. Tal como vários analistas já referiram, muitos políticos americanos nunca se preocuparam verdadeiramente com o desenvolvimento da África ou respeitaram os países africanos como parceiros em pé de igualdade. É, por isso, difícil para estes países atribuir credibilidade a estas investidas.

Talvez mais embaraçoso ainda para o secretário de Estado estadunidense é o que testemunhou na África. A imprensa americana descreveu a situação da seguinte forma: o avião no qual seguia Pompeo aterrissou no aeroporto internacional de Addis Ababa, construído por uma empresa chinesa, o carro no qual seguiu na autoestrada foi construido por uma empresa chinesa, o edifício onde dialogou com os líderes da União Africana foi, claro, construído por uma empresa chinesa.

“A China conseguiu os corações do povo africano. Se o ocidente não mudar a sua mentalidade, irá sempre desempenhar um papel secundário”. O acadêmico etíope Mohari Maru referiu, os EUA sempre consideraram a África como um campo de batalha de grandes potências. Nunca houve um esforço genuíno para desenvolver relações econômicas com o continente africano.

“Os EUA são a maior economia do mundo e ocupam uma posição dominante no mercado internacional, mas isso não confere ao país poder para apontar o dedo aos líderes africanos. Os países africanos têm o direito de escolher com que países travam amizade”. Estas afirmações expressam as aspirações da África. Ajudar a África com ações reais põe à prova o sentido de justiça e os padrões de um país. Verdadeiros amigos ajudam-se nos bons e maus momentos. O povo africano sabem com quem pode ou não contar.

(Web editor: Renato Lu, editor)

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