Com a chegada do último mês do calendário lunar, a atmosfera do Festival da Primavera (Ano Novo Chinês) torna-se cada vez mais intensa. Ao 23º dia do último mês, ou seja, uma semana antes do Festival da Primavera, todas a a China entra em contagem regressiva. Esta é também a altura para preparar as tradições desta época festiva.
No 12º mês do calendário lunar, também conhecido por “Ano Pequeno”, é altura de fazer limpezas e de comer caramelos. Na cultura tradicional, Zao Jun, o deus da cozinha, responsável por cuidar de cada família, dos animais e, mais importante, pelos fornos, regressa ao paraíso nestes dias, para contar ao imperador de jade as boas e más ações de cada família ao longo do ano.
Ele sabe de todos os segredos e nada lhe escapa. Conversas indiscretas, disputas e zaragatas, conluios de servos, stocks de comida roubada escondidos, saltar etapas durante o processo de confeção de pratos complexos, rumores dispersos, escândalos.
Por estes motivos, quando chega a hora de ir ao paraíso para apresentar o seu relatório anual, as famílias são repentinamente alertadas da sua partida iminente, apressando-se a preparar oferendas de comida para o deixar com boa disposição.
Sim. Até mesmo os deuses têm de ser “subornados”. Neste caso, o deus da cozinha parte após um banquete apropriado, o qual inclui uma oferenda final, muito pegajosa e doce.
Estes doces, desejam os humanos, irão selar os lábios de Zao Jun e adocicar-lhe a língua, fazendo com que regresse no novo ano com bençãos dos céus, após falar positivamente de todas as famílias.
Em cozinhas de toda a China, os preparativos começam, pois Zao Jun regressa para falar ao seu superior ao 23º dia do último mês do calendário lunar.
Ele está encarregue desta missão anual há muito tempo, desde a dinastia Xia, mais de 2,000 anos antes do nascimento de Cristo. A dinastia Xia é a primeira dinastia com registros na história chinesa, por isso é possível que Zao Jun já existisse antes.
Basicamente, o deus da cozinha tem sido o guardião dos fornos desde que os chineses começaram a cozinhar dentro de casa.
O dia da sua partida sinaliza também um conjunto de preparativos para a chegada oficial da primavera, na semana seguinte. O seu retrato, geralmente esfumaçado por estar próximo do forno o ano inteiro, é retirado, revestido com mel e queimado para o enviar na sua jornada.
No novo ano, um novo retrato é colocado na parede.
Enquanto isso, a cozinha e os seus habitantes ficam muito ocupados, há até uma rima popular (em chinês) que ilustra tudo isto:
23, caramelos de abóbora,
24, limpeza de primavera.
25, hora do tofu,
26, fazer estufado de vaca.
27, matar o frango,
28, preparar a massa.
29, cozer os pães,
Véspera de ano novo, ficar acordado até tarde.
Dia de Ano Novo, celebrar!
Assim que Zao Jun sai, repleto de caramelos no formato de abóbora, as vassouras entram ao serviço no dia seguinte para remover qualquer vestígio de pó ou sujidade.
As meninas mais capazes, farão recortes com o papel vermelho mais auspicioso. Frutas e flores, os carateres chineses para a felicidade e a primavera, imagens de cervos e morcegos e outros ícones de boa sorte são colados nas janelas e paredes.
Aqueles com melhor caligrafia serão chamados a escrever dísticos para atrair a boa sorte, que serão colocados sobre as portas. Tudo em papel vermelho.
Enquanto isso, um festim será preparado com a matança de galinhas, patos, porcos, cabras e tofu.
Outra tarefa importante é a confeção de pães. Os pães a vapor são outra componente importante da dieta diária o ano todo, mas os pãezinhos do ano novo chinês serão decorados com tâmaras e moldados em obras de arte.
Nas regiões do sul da China, um bolo de arroz glutinoso de nome “nian gao” é também preparado. A receita básica é um charope dourado e massa de arroz glutinoso.
Ocasionalmente, feijões vermelhos e leite de coco são adicionados e a mistura colocada dentro de recetáculos revestidos de folhas de bambu ou de coco. Durante estes dias, moldes elaborados de gelatina são usados para dar forma aos bolos, sendo os moldes de peixe os mais populares, dado que a palavra “peixe” em chinês corresponde a uma homófona para “abundância”.
Rituais e comidas simbólicas tornam-se parte das celebrações, e, apesar de alguns serem simplesmente baseados em superstições, continuam sendo reconfortantes e parte das tradições que tornam o Ano Novo tão especial.